O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, estenderá um tapete vermelho para recepcionar a CUT e seus manifestantes nas sessões de votação das medidas incluídas no pacote fiscal de Dilma Rousseff. Ele informou a alguns líderes partidários e aos membros da Mesa diretora da Câmara que decidiu franquear as galerias da Casa à central sindical ligada ao PT. Fará isso depois de ter impedido que os sindicalistas testemunhassem a aprovação do projeto que regulamenta a terceirização de mão de obra no país.
No debate sobre a terceirização, Dilma e o PT se aliaram à CUT contra os defensores do projeto, entre eles Eduardo Cunha. A mesma CUT critica o governo por incluir no ajuste fiscal medidas que reduzem direitos trabalhistas e previdenciários. Ao abrir as galerias, Cunha deseja escancarar o paradoxo, constranger o PT e desafiar a CUT a hostilizar também seus aliados históricos.
No início de abril, militantes mobilizados pela CUT para protestar contra a terceirização entraram em confronto com a PM de Brasília defronte do prédio do Congresso. Em retaliação, Cunha vetou o acesso dos rivais às dependências do Congresso, incluindo as galerias.
A CUT recorreu ao STF. E obbete liminar favorável do ministro Marco Aurélio Mello. “Mostra-se simplesmente inimaginável que se criem obstáculos [no Legislativo] ao ingresso do cidadão em qualquer das Casas que o integram”, anotou o ministro em seu despacho. “Em tempos estranhos como o presente, há de ser buscado o fortalecimento desse imprescindível Poder, em atuação constante, considerado o sistema de freios e contrapesos – tão necessário a evitar-se o cometimento do mal que é o abuso.”
Em privado, Eduardo Cunha se diverte com a oportunidade que a conjuntura lhe oferece de dar o troco. Irônico, ele diz ter refletido muito. E concluiu que a presença da CUT nas galerias da Câmara é mesmo essencial. As primeiras votações relacionadas ao ajuste fiscal devem ser realizadas na semana que vem.