quinta-feira, 30 de abril de 2015

Cunha será investigado na Lava-Jato por origem de requerimento

Jailton de Carvalho - O Globo

Para procuradores, informação reforça acusação do doleiro Alberto Youssef



O deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara - Ailton de Freitas


Procuradores da Operação Lava-Jato incluirão nas investigações sobre o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o documento com a indicação de que dois requerimentos de informação sobre empresas vinculadas ao executivo Júlio Camargo foram emitidos num dos computadores do gabinete do deputado, em 2011. Em um dos depoimentos da delação premiada, o doleiro Alberto Youssef disse que os dois requerimentos eram parte de uma manobra de Cunha para pressionar o executivo a pagar propina para o lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano.

Esse dinheiro seria para políticos do PMDB, entre eles Cunha, que negou participação no caso e envolvimento com desvios investigados na Lava-Jato.

Ao ser perguntado a respeito das novas informações sobre a origem dos requerimentos, um dos investigadores comentou:

— Aquilo é um indício bastante razoável.

Para esse investigador, o registro dos arquivos na Câmara reforçam o que havia declarado Youssef em delação premiada. O documento a ser incluído na investigação é a cópia de uma página do site da Câmara que indica a origem de requerimentos de informação e outros textos produzidos em equipamentos na instituição.

Os dois requerimentos têm como autora a ex-deputada Solange Almeida (PMDB-RJ), hoje prefeita de Rio Bonito, como revelou O GLOBO. Porém, na parte reservada à indicação da origem do documento consta a inscrição “dep. Eduardo Cunha”.

A pedido de um procurador, um dos técnicos do Ministério Público Federal copiou o registro a partir da página da Câmara na internet.

As informações devem ser usadas para reconstituir parte da estrutura de corrupção descrita por Youssef. Num dos depoimentos da delação premiada, em outubro de 2014, Youssef disse que Júlio Camargo, representante da Toyo e da Mitsui, outra empresa com contratos com a Petrobras, pagou propina para políticos do PMDB, entre eles Cunha.

Só assim foi possível acertar um contrato de afretamento de navios entre a empresa coreana Samsung e a Petrobras. “Que para viabilizar a assinatura do contrato com a Samsung, foi demandado que Júlio Camargo repassasse para o PMDB percentual que o declarante não sabe precisar, mas que se destinava a pagamento de vantagem indevida a integrantes do partido PMDB, notadamente o deputado federal Eduardo Cunha”, disse Youssef.

BAIANO E YOUSSEF

Os pagamentos eram feitos, segundo as investigações, em transações intermediadas por Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB no esquema. Youssef contou que ajudou a desembolsar R$ 6 milhões para Baiano, inclusive com remessas ao exterior.

Chamada para depor sobre o assunto na Polícia Federal (PF), Solange Almeida não soube dizer por que apresentou os requerimentos de informações que teriam, como objetivo, causar embaraços a Júlio Camargo. “Que não se lembra de onde extraiu a motivação para formular o requerimento relativo à Petrobras” disse a deputada, segundo relato da PF.