quinta-feira, 30 de abril de 2015

Juiz Moro impede doleiro de 'opinar' sobre Planalto

Graciliano Rocha - Folha de São Paulo


O juiz federal Sergio Moro cortou o doleiro Alberto Youssef quando ele mencionou o Palácio do Planalto como o "último beneficiário" do esquema de corrupção da Petrobras.

No final do depoimento, quando respondia a perguntas de seu advogado, o principal operador do petrolão disse que a nomeação de diretores da Petrobras era determinada "acima".

"Os beneficiários eram os parlamentares, os diretores da Petrobras, eu também fui beneficiado com o comissionamento que fazia parte do meu trabalho. Quem nomeava diretor da Petrobras era acima. Era o palácio. Se você perguntar no meu entendimento", disse Youssef
.
"Daí não é para o sr. emitir opinião a não ser que tenha conhecimento de fato", interrompeu o juiz Moro.

"Conhecimento de fato eu não tenho. Estou falando a minha opinião", respondeu o doleiro.

Youssef disse que o Partido Progressista obteve a nomeação do diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, após trancar a pauta da Câmara dos Deputados por três meses em 2004.

Costa –um dos principais delatores da Lava Jato, ao lado de Youssef– deixou o cargo em 2012 após perder o apoio da base do PP na Câmara, em 2012, disse o doleiro.

No depoimento, Youssef voltou a citar os nomes de políticos de fora do PP que, segundo ele, também receberam recursos a mando de Paulo Roberto Costa. 

Segundo ele, os senadores Valdir Raupp (PMDB-RO) e Gleisi Hoffmann (PT-PR) foram beneficiados com dinheiro do esquema. O peemedebista e a petista são investigados em inquéritos que correm no Supremo Tribunal Federal.

O doleiro também desqualificou o argumento de que empreiteiros seriam vítimas de extorsão de funcionários corruptos da Petrobras, e não integrantes de um cartel que ganhava contratos com o pagamento de suborno a políticos e dirigentes da estatal.

"Era uma situação combinada entre empreiteiros, políticos e o diretor da companhia. Mas se parasse de pagar [propina], não teria andamento bom no contrato. Trabalhar com a Petrobras já é difícil com esse tipo de 'assessoria', mas sem é mais difícil ainda", disse.