Natháliia Passarinho - G1
Augusto Mendonça presta depoimento nesta quinta (23) à CPI da Petrobras.
Ex-gerente da estatal havia dito que corrupção era generalizada na empresa

Um dos delatores da Operação Lava Jato, o ex-dirigente da Toyo Setal Augusto Mendonça Neto afirmou nesta quinta-feira (23) à CPI da Petrobras que a corrupção na estatal só era “generalizada” em contratos firmados pelas diretorias de Refino e Abastecimento e de Serviços, comandadas, à época, por Paulo Roberto Costa e Renato Duque, respectivamente. Mendonça destacou à comissão que não tem conhecimento de irregularidades em outras áreas da petroleira.
Em depoimento anterior à CPI, outro delator do esquema de corrupção que atuava na Petrobras, o ex-gerente de Serviços Pedro Barusco, afirmou que a corrupção era “institucionalizada” na empresa.
“Quando o Barusco fala que era generalizado, ele tem razão num sentido. De fato, na Diretoria de Serviços era generalizado porque eles queriam aplicar em todos os contratos dentro da diretoria. Agora, que isso aconteceu na companhia como um todo, isso não acontecia”, afirmou Mendonça Neto.
O ex-dirigente da Toyo Setal ressaltou que só que só soube da existência de corrupção na estatal durante as gestões de Paulo Roberto Costa à frente da Diretoria de Abastecimento e de Renato Duque, no comando da Diretoria de Serviços.
Ele contou ainda que começou a participar do esquema quando foi procurado pelo ex-deputado José Janene (PP), que morreu em 2010. Segundo Mendonça, o ex-líder da bancada do PP na Câmara ofereceu a ele contrato na área da Diretoria de Abastecimento em troca de pagamento de "comissão". O delator não especificou quando a proposta foi feita por Janene.
“Estamos assistindo hoje a Petrobras sendo massacrada pela mídia, pela opinião pública, com a imagem sendo arranhada. Está aparecendo como uma companhia de segunda categoria, repleta de gente corrupta. Mas é o inverso. Tive uma participação longa e meu único contato com corrupção foi com essas três pessoas [Renato Duque, Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco]. Antes disso nunca soube de nada, nunca houve nada. Durante esse período foi com essas pessoas”, afirmou.
Mendonça Neto disse ainda que participou do pagamento de propina por “adesão”, mas ressaltou que nunca concordou com o esquema de corrupção. “Sempre fui contrário a isso. Acabamos entrando nisso por adesão, porque era um sistema que já existia. Quando senti firmeza de que haveria uma investigação importante, profunda, que fosse mudar esse quadro eu me senti com vontade de colaborar.”
Ao responder uma pergunta do deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), o delator especificou que o volume de “comissões” e contribuições a partidos negociado por ele no esquema de corrupção que agia na Petrobras foi de cerca de 30 milhões proveniente de propina de contrato com a Diretoria de Abastecimento e, entre R$ 70 milhões e R$ 80 milhões, com a Diretoria de Serviços.
'Clube das empreiteiras'
Augusto Mendonça Neto afirmou que o cartel de empresas que firmavam contratos com a Petrobras, que ficou conhecido como “clube das empreiteiras”, só passou a contar com o estímulo de dirigentes da Petrobras entre 2004 e 2005, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, as empresas decidiram se unir para combinar preços em licitações no final dos anos 90, mas não havia, neste período, participação da estatal no esquema.
Augusto Mendonça Neto afirmou que o cartel de empresas que firmavam contratos com a Petrobras, que ficou conhecido como “clube das empreiteiras”, só passou a contar com o estímulo de dirigentes da Petrobras entre 2004 e 2005, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, as empresas decidiram se unir para combinar preços em licitações no final dos anos 90, mas não havia, neste período, participação da estatal no esquema.
“Ele [o cartel] começa a se formar no final dos anos 90, em 96 ou 97, entre um número mais limitado de empresas. Na época, eram nove empresas que só tinham controle e, assim mesmo precário, entre si. Não tinham controle sobre quem seria convidado pela Petrobras, não tinha como saber quem participaria ou não. Era uma ação interna, dentro dessas companhias.”
De acordo com o executivo, quando Paulo Roberto Costa e Renato Duque assumiram as diretorias de Abastecimento e Serviços, a atuação do “clube das empresas” ganhou “efetividade”. Segundo as investigações do Ministério Público, os dois dirigentes favoreciam essas companhias nas concorrências que ocorriam por meio de “convite” a empresas.
“Em 2006, 2005, o grupo foi ampliado e ganhou efetividade. Teve mais condições de funcionar a partir do momento em que houve como controlar, com apoio de integrantes da Petrobras, quem seria convidado. A relação das empresas com a Petrobras se deu entre os anos de 2004 ou 2005”, afirmou Augusto Mendonça Neto.
'Medo'
O ex-executivo da Toyo Setal declarou aos integrantes da CPI da Petrobras que as empresas aderiam ao esquema de propina “por medo” de serem prejudicadas em contratos com a Petrobras. De acordo com ele, os dirigentes da petroleira tinham "poder" para "atrapalhar" a contratação das empreiteiras.
O ex-executivo da Toyo Setal declarou aos integrantes da CPI da Petrobras que as empresas aderiam ao esquema de propina “por medo” de serem prejudicadas em contratos com a Petrobras. De acordo com ele, os dirigentes da petroleira tinham "poder" para "atrapalhar" a contratação das empreiteiras.
“O poder que um diretor da Petrobras tem de atrapalhar era enorme. De ajudar, é pequeno. Na minha opinião, eles vendiam muito mais dificuldade do que facilidade. Na minha opinião, as empresas participavam muito mais por medo do que por facilidades.”
Augusto Mendonça Neto disse ainda que o esquema só tinha eficiência porque as diretorias de Abastecimento e Serviços atuavam em conjunto na cobrança das “comissões” nos contratos.
“Essas duas diretorias [Abastecimento e Serviços] só conseguiram fazer isso porque atuavam em conjunto. Se não atuassem em conjunto jamais conseguiriam ter esse resultado. Eu acho que a Petrobras, que é uma empresa que atua num setor altamente técnico, onde só existem grandes companhias, e a Petrobras é uma das líderes do mundo, principalmente em áreas profundas, é um setor especializado, e nós não podemos imaginar como uma companhia como essa, organizada e competente, pudesse ter essas duas diretorias organizando isso por longo tempo”, afirmou.
Repasses ao PT
Em meio ao depoimento, Augusto Mendonça Neto relatou ter feito repasses para o caixa de campanha do PT a pedido de Renato Duque. O executivo relatou que se reuniu com o ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto, que está preso e é um dos réus da Lava Jato, para tratar das contribuições.
Em meio ao depoimento, Augusto Mendonça Neto relatou ter feito repasses para o caixa de campanha do PT a pedido de Renato Duque. O executivo relatou que se reuniu com o ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto, que está preso e é um dos réus da Lava Jato, para tratar das contribuições.
“A minha conversa pelo lado da Diretoria de Serviços sempre acontecia com o Duque ou Barusco. O Duque, em algumas oportunidades, me pediu para que eu fizesse contribuições ao Partido dos Trabalhadores. Na primeira vez, eu fui procurar o João Vaccari no escritório do PT dizendo que tinha interesse em fazer contribuição para o partido e ele me indicou onde eu deveria contribuir. Duque me pediu outras vezes também”, contou.
O delator negou, porém, que tenha recebido de Vaccari alguma vantagem em troca das doações. “Vaccari nunca me ofereceu nenhuma vantagem nem legal ou ilegal”, disse Mendonça, ressaltando que Renato Duque cobrava os repasses ao PT sempre que a empresa “atrasava as parcelas”.
“Fazíamos pagamentos em parcelas, mas, muitas vezes, atrasava por problema de caixa. Ele [Duque] me ligava ou eu ia lá dizer que pagaria em outra oportunidade.”
Mendonça ressalvou que não houve, por parte de Duque, uma oferta de facilidade em troca dos repasses ao PT, mas estava claro, segundo o executivo, que se não houvesse a contribuição o então diretor da Petrobras poderia "atrapalhar" a atuação da Toyo Setal na Petrobras. "Nunca era no sentido de ajudar. Sempre era no sentido de não atrapalhar", ponderou.
No acordo de delação premiada firmado com o Ministério Público Federal, Mendonça Neto detalhou que as doações ao PT, em valor aproximado de R$ 4 milhões, foram feitas, entre 2008 e 2011, a pedido de Duque.
O valor, segundo o executivo, era referente ao pagamento de propina para a realização de obras na Refinaria do Paraná (Repar). Ele disse ainda, em seu depoimento, que o pagamento ao ex-diretor de Serviços da Petrobras também era feito em dinheiro e por "remessas em contas indicadas no exterior".
