quinta-feira, 3 de agosto de 2023

'A Vale nos devaneios de Lula', editorial do Estadão

Tomara que não seja verdade a notícia de que o presidente quer Mantega no comando da Vale, mas é certo que Lula quer a empresa a serviço de seus delírios desenvolvimentistas


Integrante da quadrilha do 

ex-presidiário Lula, Guido

Mantega pode 'assumir' 

a Vale - Foto Veja


Ganhou o noticiário de 

bastidores políticos o

 esforço do presidente 

Lula da Silva para tentar 

emplacar o nome do notório

 Guido Mantega, seu 

ex-ministro e escudeiro de 

longa data, na presidência

 da Vale. Tomara que não 

seja verdade. Para quem

 se lembra do desastre 

lulopetista que resultou 

em recessão e inflação, 

além de contabilidade 

criativa, a simples 

menção ao nome de 

Mantega causa calafrios. 


Não é por outra razão 

que o ex-ministro foi 

inabilitado pelo Tribunal 

de Contas da União para 

exercer cargos públicos 

até 2030.


A hipótese de que Lula 

pudesse emplacar seu 

velho companheiro no 

comando da mineradora 

parece improvável à 

primeira vista, porque há 

26 anos a companhia foi 

privatizada e em 2020 

extinguiu o acordo de 

acionistas, 

candidatando-se ao 

status de “companhia 

sem dono”, ou corporation

no jargão empresarial. 


Seria, de fato, uma 

operação demasiadamente 

complexa, mas factível, 

devido às posições diretas

 e indiretas que o governo

 ainda mantém na Vale, 

além da influência do 

Poder Executivo.


Mas Lula quer ter poder

 de decisão na Vale pelo 

mesmo motivo que 

mantém apertadas as 

rédeas da Petrobras:

 pretende usá-la como 

motor do projeto 

desenvolvimentista que, 

segundo as promessas 

de seus ideólogos, fará o 

País decolar na base de

 investimento dirigido 

pelo Estado. Não deu 

certo antes e não há razão

 para suspeitar que dará 

certo agora, mas Lula é 

teimoso.


Há cerca de 15 anos, 

durante o mandato de 

Roger Agnelli na Vale, a

 pressão de Lula, em seu 

segundo governo, foi 

capaz de fazer a 

mineradora investir bilhões 

de reais no setor 

siderúrgico, segmento do 

qual a empresa havia se 

afastado. Agnelli, executivo 

concentrado no lucro, que

 havia contrariado Lula na 

crise econômica mundial 

de 2008 ao demitir 1.300 

funcionários, teve de engolir 

a ideia de construir 

indústrias para a fabricação 

de aço. Lula defendia que 

a Vale exportasse produto

 acabado e não minério de 

ferro. As duas usinas 

construídas foram 

vendidas após as gestões

 petistas.


Agnelli foi novamente 

pressionado a encomendar, 

em estaleiros ainda em 

construção no Brasil, os 

graneleiros que renovariam 

a frota da Vale. A indústria 

naval nacional nem detinha 

tecnologia suficiente para 

obras dessa magnitude. 

Mas, obcecado pela 

reativação dos estaleiros,

 Lula queria a Vale como 

cliente dos armadores 

nacionais. Exatamente 

como fez com a Petrobras, 

quando decidiu construir 

localmente petroleiros e 

26 sondas para o pré-sal, 

tendo a recém-criada Sete 

Brasil como intermediária.


O presidente da Vale 

encomendou seus navios 

no exterior. Caiu em 

desgraça e foi afastado do

 cargo algum tempo depois.

 Para a Petrobras, o 

resultado, como se sabe,

 foi desastroso: navios com 

sérios erros de projeto, 

apenas quatro sondas 

entregues, a Sete Brasil 

e bancos arrastados para 

um endividamento bilionário. 

Como cereja do bolo, 

operações eivadas de 

corrupção. A Petrobras 

administra o estrago até

 hoje. É a prova gritante 

de que a produção dirigida 

por projetos políticos 

jamais dá certo.


Mantega, já no governo 

Dilma, assumiu pessoalmente

 o papel de “interventor 

informal” na Vale, que 

culminou com a saída de 

Agnelli. Foi também o

 idealizador da contabilidade 

criativa de 2014, que ganhou 

notoriedade como “pedalada

 fiscal” e resultou no 

impeachment de Dilma.


Como presidente do 

Conselho de Administração 

da Petrobras, referendou 

não apenas os programas

 megalomaníacos de Lula, 

como também a manutenção

 artificial de preços de 

combustíveis da gestão 

Dilma. Ao que parece, Lula,

em sua terceira passagem

 pela Presidência, vai repetir

 a dose, começando pelo 

anúncio da Petrobras, há 

dois meses, de que a 

política de paridade com 

os preços internacionais, 

adotada para salvar a 

empresa depois do 

desastre dilmista,

 foi abandonada.


Mesmo abrindo espaço 

para uma equipe econômica 

com visão mais rigorosa 

sobre planejamento, Lula

 mantém acesa a chama 

do atraso e, para tanto, 

valoriza todos os que 

corroboram suas fantasias.


São sabujos de uma fidelidade

 à prova de bom senso. Neste

 grupo está Guido Mantega 

– que, como Dilma, bem que 

poderia assumir uma função 

longe do País.


O Estado de São Paulo