Tomara que não seja verdade a notícia de que o presidente quer Mantega no comando da Vale, mas é certo que Lula quer a empresa a serviço de seus delírios desenvolvimentistas
ex-presidiário Lula, Guido
Mantega pode 'assumir'
a Vale - Foto Veja
Ganhou o noticiário de
bastidores políticos o
esforço do presidente
Lula da Silva para tentar
emplacar o nome do notório
Guido Mantega, seu
ex-ministro e escudeiro de
longa data, na presidência
da Vale. Tomara que não
seja verdade. Para quem
se lembra do desastre
lulopetista que resultou
em recessão e inflação,
além de contabilidade
criativa, a simples
menção ao nome de
Mantega causa calafrios.
Não é por outra razão
que o ex-ministro foi
inabilitado pelo Tribunal
de Contas da União para
exercer cargos públicos
até 2030.
A hipótese de que Lula
pudesse emplacar seu
velho companheiro no
comando da mineradora
parece improvável à
primeira vista, porque há
26 anos a companhia foi
privatizada e em 2020
extinguiu o acordo de
acionistas,
candidatando-se ao
status de “companhia
sem dono”, ou corporation,
no jargão empresarial.
Seria, de fato, uma
operação demasiadamente
complexa, mas factível,
devido às posições diretas
e indiretas que o governo
ainda mantém na Vale,
além da influência do
Poder Executivo.
Mas Lula quer ter poder
de decisão na Vale pelo
mesmo motivo que
mantém apertadas as
rédeas da Petrobras:
pretende usá-la como
motor do projeto
desenvolvimentista que,
segundo as promessas
de seus ideólogos, fará o
País decolar na base de
investimento dirigido
pelo Estado. Não deu
certo antes e não há razão
para suspeitar que dará
certo agora, mas Lula é
teimoso.
Há cerca de 15 anos,
durante o mandato de
Roger Agnelli na Vale, a
pressão de Lula, em seu
segundo governo, foi
capaz de fazer a
mineradora investir bilhões
de reais no setor
siderúrgico, segmento do
qual a empresa havia se
afastado. Agnelli, executivo
concentrado no lucro, que
havia contrariado Lula na
crise econômica mundial
de 2008 ao demitir 1.300
funcionários, teve de engolir
a ideia de construir
indústrias para a fabricação
de aço. Lula defendia que
a Vale exportasse produto
acabado e não minério de
ferro. As duas usinas
construídas foram
vendidas após as gestões
petistas.
Agnelli foi novamente
pressionado a encomendar,
em estaleiros ainda em
construção no Brasil, os
graneleiros que renovariam
a frota da Vale. A indústria
naval nacional nem detinha
tecnologia suficiente para
obras dessa magnitude.
Mas, obcecado pela
reativação dos estaleiros,
Lula queria a Vale como
cliente dos armadores
nacionais. Exatamente
como fez com a Petrobras,
quando decidiu construir
localmente petroleiros e
26 sondas para o pré-sal,
tendo a recém-criada Sete
Brasil como intermediária.
O presidente da Vale
encomendou seus navios
no exterior. Caiu em
desgraça e foi afastado do
cargo algum tempo depois.
Para a Petrobras, o
resultado, como se sabe,
foi desastroso: navios com
sérios erros de projeto,
apenas quatro sondas
entregues, a Sete Brasil
e bancos arrastados para
um endividamento bilionário.
Como cereja do bolo,
operações eivadas de
corrupção. A Petrobras
administra o estrago até
hoje. É a prova gritante
de que a produção dirigida
por projetos políticos
jamais dá certo.
Mantega, já no governo
Dilma, assumiu pessoalmente
o papel de “interventor
informal” na Vale, que
culminou com a saída de
Agnelli. Foi também o
idealizador da contabilidade
criativa de 2014, que ganhou
notoriedade como “pedalada
fiscal” e resultou no
impeachment de Dilma.
Como presidente do
Conselho de Administração
da Petrobras, referendou
não apenas os programas
megalomaníacos de Lula,
como também a manutenção
artificial de preços de
combustíveis da gestão
Dilma. Ao que parece, Lula,
em sua terceira passagem
pela Presidência, vai repetir
a dose, começando pelo
anúncio da Petrobras, há
dois meses, de que a
política de paridade com
os preços internacionais,
adotada para salvar a
empresa depois do
desastre dilmista,
foi abandonada.
Mesmo abrindo espaço
para uma equipe econômica
com visão mais rigorosa
sobre planejamento, Lula
mantém acesa a chama
do atraso e, para tanto,
valoriza todos os que
corroboram suas fantasias.
São sabujos de uma fidelidade
à prova de bom senso. Neste
grupo está Guido Mantega
– que, como Dilma, bem que
poderia assumir uma função
longe do País.
O Estado de São Paulo