quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Rolf Kuntz: 'Copom enviou um sinal de paz a Lula ou simplesmente iniciou uma nova política de juros?'

Livecoins.com.br


Vitória de Lula ou política 

de juros em novo estilo, 

mais parecido com o do 

Federal Reserve (Fed), o 

banco central americano? 

Ao cortar 0,5 ponto da taxa 

básica, o dobro da redução

 projetada pela maior parte

 dos analistas, o Comitê de

 Política Monetária (Copom)

 pode ter enviado um sinal de

 paz ao presidente da 

República, um crítico 

impiedoso da austeridade 

monetária.


Mas também pode ter 

simplesmente iniciado uma 

nova estratégia — trabalhar 

contemplando um prazo 

maior, para alcançar no 

prazo de dois anos a meta 

de inflação de 3%. As 

próximas decisões poderão 

esclarecer esse ponto. A 

meta de 3% coincide com 

a inflação estimada pelos 

economistas do BC para 

2025.


Os condutores da política 

anti-inflacionária podem ter 

antecipado a mudança 

discutida recentemente, no 

Conselho Monetário 

Nacional (CMN), com os 

ministros da Fazenda e do 

Planejamento. A nota 

divulgada logo depois da 

reunião do comitê, nesta 

quarta-feira, 2, menciona 

a conversa entre os 

membros do conselho. 


Em seu comunicado, o 

Copom se refere ao recente 

arrefecimento das pressões

 inflacionárias, mas admite 

o risco de uma inflação 

internacional mais 

persistente do que se previa 

e, no Brasil, de um vigor 

inesperado da inflação de 

serviços. Um detalhe 

especialmente notável dessa 

nota é a aparente 

tranquilidade quanto à 

evolução das contas 

públicas


Tranquilidade aparente em relação 

ao quadro fiscal pode ser 

contabilizada, provavelmente, 
como vitória do ministro da 
Fazenda, Fernando Haddad 
Foto: Adriano Machado/Reuters

Não se repete, desta vez, 

a menção às finanças 

federais como um fator de 

risco para o equilíbrio dos

 preços. Essa tranquilidade

 aparente em relação ao 

quadro fiscal pode ser 

contabilizada, provavelmente, 

como vitória do ministro da 

Fazenda, Fernando Haddad.


Outra novidade importante 

é a referência à melhora das 

expectativas em relação às 

tendências inflacionárias nos

 próximos anos. As 

preocupações do mercado em

 relação à alta de preços foram 

citadas frequentemente em 

notas e atas do Copom, nos 

últimos anos, como 

justificativas para a 

manutenção do aperto na 

política monetária.


Neste momento, os 

condutores da política de 

juros parecem ver nos 

agentes do mercado uma 

tranquilidade nunca 

percebida em muitos anos.


A perspectiva de novos

cortes de 0,5 ponto nas 

próximas decisões sobre 

os juros básicos parece 

atender, em boa parte, às 

cobranças do presidente 

da República. É difícil 

dizer se isso se deve à 

presença, no comitê, de 

dois membros indicados 

há pouco tempo pelo 

Executivo.


Também é difícil avaliar se 

os contatos do ministro da 

Fazenda com o presidente

 do BC, Roberto Campos 

Neto, influenciaram de 

alguma forma a decisão 

sobre os juros. Detalhes 

importantes poderão ficar 

mais claros com a 

divulgação, na próxima 

semana, da ata da reunião 

do Copom, mais rica em 

informações.


Essas e outras informações 

serão especialmente 

tranquilizantes se 

confirmarem a condição de

 autonomia operacional do 

BC. Também as próximas 

decisões do Copom 

poderão reforçar essa 

percepção. Seria um 

desastre se os agentes de 

mercado — nacionais e 

estrangeiros — fossem 

levados, de alguma forma, 

a supor alguma 

subordinação do Copom 

às diretrizes do presidente

 da República e de seus

 auxiliares.


Rolf Kuntz, Estadão