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Vitória de Lula ou política
de juros em novo estilo,
mais parecido com o do
Federal Reserve (Fed), o
banco central americano?
Ao cortar 0,5 ponto da taxa
básica, o dobro da redução
projetada pela maior parte
dos analistas, o Comitê de
pode ter enviado um sinal de
paz ao presidente da
República, um crítico
impiedoso da austeridade
monetária.
Mas também pode ter
simplesmente iniciado uma
nova estratégia — trabalhar
contemplando um prazo
maior, para alcançar no
prazo de dois anos a meta
de inflação de 3%. As
próximas decisões poderão
esclarecer esse ponto. A
meta de 3% coincide com
a inflação estimada pelos
economistas do BC para
2025.
Os condutores da política
anti-inflacionária podem ter
antecipado a mudança
discutida recentemente, no
Conselho Monetário
Nacional (CMN), com os
ministros da Fazenda e do
Planejamento. A nota
divulgada logo depois da
reunião do comitê, nesta
quarta-feira, 2, menciona
a conversa entre os
membros do conselho.
Em seu comunicado, o
Copom se refere ao recente
arrefecimento das pressões
inflacionárias, mas admite
o risco de uma inflação
internacional mais
persistente do que se previa
e, no Brasil, de um vigor
inesperado da inflação de
serviços. Um detalhe
especialmente notável dessa
nota é a aparente
tranquilidade quanto à
evolução das contas
públicas
Tranquilidade aparente em relação
ao quadro fiscal pode ser
Não se repete, desta vez,
a menção às finanças
federais como um fator de
risco para o equilíbrio dos
preços. Essa tranquilidade
aparente em relação ao
quadro fiscal pode ser
contabilizada, provavelmente,
como vitória do ministro da
Fazenda, Fernando Haddad.
Outra novidade importante
é a referência à melhora das
expectativas em relação às
tendências inflacionárias nos
próximos anos. As
preocupações do mercado em
relação à alta de preços foram
citadas frequentemente em
notas e atas do Copom, nos
últimos anos, como
justificativas para a
manutenção do aperto na
política monetária.
Neste momento, os
condutores da política de
juros parecem ver nos
agentes do mercado uma
tranquilidade nunca
percebida em muitos anos.
A perspectiva de novos
cortes de 0,5 ponto nas
próximas decisões sobre
os juros básicos parece
atender, em boa parte, às
cobranças do presidente
da República. É difícil
dizer se isso se deve à
presença, no comitê, de
dois membros indicados
há pouco tempo pelo
Executivo.
Também é difícil avaliar se
os contatos do ministro da
Fazenda com o presidente
do BC, Roberto Campos
Neto, influenciaram de
alguma forma a decisão
sobre os juros. Detalhes
importantes poderão ficar
mais claros com a
divulgação, na próxima
semana, da ata da reunião
do Copom, mais rica em
informações.
Essas e outras informações
serão especialmente
tranquilizantes se
confirmarem a condição de
autonomia operacional do
BC. Também as próximas
decisões do Copom
poderão reforçar essa
percepção. Seria um
desastre se os agentes de
mercado — nacionais e
estrangeiros — fossem
levados, de alguma forma,
a supor alguma
subordinação do Copom
às diretrizes do presidente
da República e de seus
auxiliares.
Rolf Kuntz, Estadão