Medidas adotadas pelo presidente Xi Jinping não controlaram a disseminação da doença e prejudicaram a economia do país
Se Xi Jinping fosse um líder democrático, estaria em terríveis problemas políticos, disse o colunista Joseph C. Sterberg, em artigo publicado nesta quinta-feira, 2, no The Wall Street Journal. “Os meses recentes expuseram as fraquezas da economia chinesa sob a administração de Xi”, afirmou.
A política “covid zero” é uma das culpadas. Mais de dois anos depois da pandemia de coronavírus, a única maneira de Pequim conter o vírus continua sendo a supressão total. “O resultado foi mergulhar grandes centros comerciais em bloqueios draconianos por meses a fio”, observou o colunista. “O risco de futuros bloqueios impediu a atividade empresarial e o investimento.”
O presidente reivindicou a vitória por suas políticas de bloqueio há um ano, e agora sua lógica perversa de governança autocrática torna impossível voltar atrás. O sistema de saúde do país, por exemplo, não suporta um surto generalizado de coronavírus. Ao mesmo tempo, o “nacionalismo vacinal” e a queda da confiança dos cidadãos resultaram em baixos índices de vacinação entre idosos. E os vacinados dependem de imunizantes que não funcionam.
Ao suprimir o setor privado, Xi está tentando consolidar o controle político sobre a economia. “O Partido Comunista Chinês (PCC), cada vez mais liderado por um único homem, não pode tolerar o surgimento de rivais extravagantes e populares”, escreveu Sternberg. A safra de executivos de tecnologia carismáticos da China estava nesse caminho.
Uma parte dos problemas diz respeito ao mercado imobiliário. “Xi está no meio de uma grande reforma do superaquecido setor imobiliário da China”, disse o colunista. “Pequim teve pouca escolha, a não ser esvaziar um mercado inchado por mais de uma década de estímulo econômico impulsionado pelo crédito.”
Mas as consequências econômicas e políticas desta mudança imobiliária revelaram-se difíceis de controlar. Uma das primeiras batalhas foi assegurar aos possíveis proprietários de imóveis que seus pagamentos iniciais eram seguros e aos fornecedores de pequeno porte que suas faturas seriam pagas antes que a agitação social pudesse se desenvolver.
Os desastres econômicos da China surgem de uma série de trocas e apostas políticas ruins. A solução óbvia é mudar de rumo, e o próprio Xi parece ter reconhecido isso. O presidente tentou convencer a indústria de tecnologia privada a crescer novamente e ofereceu apoio estatal a empresas privadas, com créditos e incentivos fiscais. “O problema é que ninguém acredita em Xi”, ressaltou Sternberg. “Um mercado não é algo que se pode ativar ou desativar à vontade. É em parte um exercício de confiança, pois os líderes políticos devem persuadir todos na economia de que uma mudança política veio para ficar.”
A grande fraqueza econômica da China é a falta de um mecanismo institucional para abençoar ou perdoar as mudanças de política, diz o colunista. Por muitos anos, um parte tola da imprensa considerou que o Ocidente deveria aspirar a ser “China por um dia”, para imitar a capacidade de um autocrata de fazer as coisas. Xi Jinping e o PCC nunca admitirão isso, mas estariam muito melhor agora se pudessem ser “América por um dia” e permitir que uma eleição desabafasse a frustração pública com seu governo.
Leia mais: “A insanidade da ‘covid zero’ na China”, reportagem de Cristyan Costa publicada na Edição 112 da Revista Oeste
Edilson Salgueiro, Revista Oeste