domingo, 27 de fevereiro de 2022

Petrobras quer substituir trabalho humano por robôs e drones nas plataformas

Petrobras tem investido em projeto de automação 

em busca de segurança e eficiência; norueguesa 

TotalEnergies já possui unidade sem presença humana



Robôs e drones vão ocupar plataformas marítimas de petróleo, no lugar de seres humanos, na próxima década. No Brasil, a Petrobras se prepara para ter sua primeira embarcação sem qualquer pessoa a bordo em 2030, na região do pré-sal. A partir daí, o esperado é que a produção de petróleo passe, aos poucos, a ser comandada remotamente por profissionais especializados, que vão trabalhar em escritórios em terra firme. A “plataforma do futuro” da estatal, no entanto, ainda vai ser contratada. E esse será o grande passo da empresa rumo à era digital.



Campo de Sépia, na Bacia de Santos; expectativa da Petrobras é por em prática planos de digitalização das plataformas em menos de 10 anos com o auxílio de drones. Foto: Agência Petrobras

A digitalização da operação é uma revolução perseguida pela indústria de petróleo no mundo todo. O experimento mais relevante é o da Equinor, em parceria com a TotalEnergies, na Noruega. Na primeira plataforma desabitada, a Oseberg H, não há banheiros, quartos, cozinha ou qualquer outro espaço necessário à presença humana. Um ou dois profissionais embarcam na unidade uma vez por ano. E só para checar se tudo está funcionando.

O esperado é que essa experiência se dissemine nos próximos anos. No futuro, toda plataforma terá sua versão “gêmea” no computador de uma sala de controle remoto. Qualquer movimento executado em uma se repetirá na outra. Em vez de pessoas, robôs vão circular pelas embarcações. Eles serão os olhos e ouvidos dos operadores em terra.

“Existe um processo tecnológico em andamento para diminuir as tripulações das plataformas, com a utilização de robótica, controle e técnicas de Inteligência Artificial. Outro esforço de inovação é o conceito subsea to shore (do fundo do mar à costa), no qual a produção submarina é transferida por dutos para a costa, sem o uso de plataformas”, afirma Segen Estefen, diretor de Tecnologia e Inovação da Coordenação dos Programas de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da UFRJ, e ex-membro do conselho de administração da Petrobras.

Na petrolífera, o programa de automação da produção foi batizado de POB0 (People On Board Zero, em inglês). O projeto está inserido num plano maior de eficiência da Petrobras, o EF100. A estatal se prepara para ser mais eficiente do que a média da indústria já em 2023 e estar entre as líderes do mercado em 2027. 

Operação remota

O POB0 foi divulgado pela Petrobras no evento virtual Offshore Technology Conference (OTC), no fim de janeiro. “Acreditamos que, num futuro próximo, teremos o uso intensivo de robôs em plataformas marítimas para fazer inspeções e alguns tipos de procedimentos de operação”, disse Marcelo Ramis, gerente-geral de Eficiência da Operação na Exploração e Produção da Petrobras. No início, as máquinas serão instaladas a cada ano nas atuais plataformas. O controle 100% remoto só será implementado em novas embarcações.



Plataforma de petróleo da Equinor; a companhia norueguesa é uma das primeiras petrolíferas a testar sistema de operação digital. Foto: REUTERS/Ints Kalnins

A Petrobras informou que o programa de substituição dos trabalhadores por máquinas está em fase inicial. A estatal admite que há redução dos gastos com logística a ser considerada, mas o principal objetivo é diminuir a exposição de pessoas ao risco, com operações mais seguras e eficientes.

Rafael Costa, pesquisador-visitante do Núcleo de Estudos Conjunturais da Universidade Federal da Bahia (UFBA), pondera que deve ser levada em conta a realidade brasileira nos projetos. Os navios-plataforma usados no pré-sal, por exemplo, são maiores do que os dos pares internacionais, e há muitos trabalhadores envolvidos nas atividades. “Uma inteligência artificial está mais preparada para responder a certos padrões do que para lidar com eventos inesperados”, analisa Costa.

Fernanda Nunes, O Estado de S.Paulo