sábado, 26 de fevereiro de 2022

Brasil apoia resolução que condena invasão da Ucrânia, mas Rússia veta

 

Embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia exerce o poder de veto de seu país| Foto: EFE/EPA/JUSTIN LANE


A Rússia vetou nesta sexta-feira no Conselho de Segurança da ONU uma resolução proposta pelos Estados Unidos para condenar sua invasão da Ucrânia e exigir a retirada das tropas que estão no país vizinho.

O texto ganhou o apoio de 11 dos 15 membros do Conselho de Segurança, incluindo o Brasil. Era a expectativa da diplomacia ucraniana. Também houve três abstenções - China, Emirados Árabes Unidos e Índia - e apenas um voto contra, o da própria Rússia, que tem poder de veto no órgão.

Já era totalmente esperado o veto russo. No final, o país foi deixada completamente sozinho na oposição ao texto. O principal objetivo dos Estados Unidos era mostrar ao mundo o isolamento de Moscou neste cenário.

Em uma tentativa dos EUA e dos seus aliados de conseguir o maior apoio possível, a votação foi adiada no último minuto por pouco mais de duas horas para mexer no texto e tentar convencer os países que ainda hesitavam a apoiar a declaração.


Posição brasileira

O embaixador brasileiro na ONU, Ronaldo Costa Filho, pediu uma solução pacífica para o conflito, mas criticou duramente a Rússia, o que pode marcar uma mudança no discurso do governo, que até agora vinha evitando se manifestar sobre o assunto, mesmo após críticas de países como os EUA e a Ucrânia.

"As preocupações de segurança manifestadas pela Federação Russa nos últimos anos, particularmente em relação ao equilíbrio estratégico na Europa, não dão à Rússia o direito de amealar a integridade territorial e a soberania de outro estado. Acreditamos que o Conselho de Segurança tem de apresentar uma resolução com soluções diplomáticas e chegar a um acordo para todos. Mas nosso principal objetivo é interromper imediatamente a hostilidade e reagir ao uso da força. Uma linha foi ultrapassada e esse conselho não deve ficar em silêncio."


Decisão não foi surpresa

A embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, reagiu ao fracasso da resolução sublinhando que não foi uma surpresa e insistindo que a Rússia acabará sendo responsabilizada.

"A Rússia pode vetar esta resolução, mas não pode vetar as nossas vozes, não pode vetar a verdade, não pode vetar o povo ucraniano", insistiu.

Segundo anteciparam fontes diplomáticas ocidentais, assim que o veto russo fosse confirmado e a resolução fracassasse no Conselho de Segurança, os EUA e os seus aliados planejariam levar o assunto à Assembleia Geral da ONU, órgão em que se reúnem os 193 países da organização.

Como neste caso não há direito de veto, espera-se que a resolução seja aprovada sem problemas, mas os textos da Assembleia Geral não são vinculativos e não têm a mesma relevância que os do Conselho de Segurança.


Situação chinesa

Os Estados Unidos insistiram também nesta sexta-feira para que a China abandone a "ambiguidade" e deixe de "se esconder" para não condenar a invasão russa à Ucrânia, e pediu ajuda para mitigar o impacto da guerra nos mercados globais.

"Cada país deve pensar em que lado da história quer estar", disse Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca, durante briefing diário à imprensa.

Questionada sobre a posição da China, a porta-voz afirmou que "chegou o momento de os líderes mundiais denunciarem claramente a agressão flagrante do presidente (russo, Vladimir) Putin e se colocarem ao lado do povo da Ucrânia".

"Este não é um momento de ambiguidade ou de ocultação ou de espera para ver o que acontece. Já está claro o que está acontecendo", frisou Psaki.

A representante acrescentou que também é importante para a China "fazer parte do esforço para mitigar e minimizar o impacto" da guerra "nos mercados globais e nos mercados mundiais de energia".

Pequim evitou condenar o ataque da Rússia à Ucrânia ao mesmo tempo em que apelava a uma saída diplomática da crise, um ajuste complicado após o presidente chinês, Xi Jinping, ter aprofundado a sua aliança com Putin há apenas algumas semanas.

A China mantém também o discurso de que as sanções são ineficazes na resolução do conflito e se opõe às punições unilaterais, ao mesmo tempo que aproveita as tensões para atacar a política externa dos EUA.


Operação militar

Após meses de tensão, a Rússia lançou nesta semana uma operação militar na Ucrânia que começou com o bombardeamento de vários centros urbanos e continuou com destacamentos de militares, de modo que as unidades militares russas apertam o controle sobre a capital do país, Kiev, nesta sexta-feira.

Os combates já mataram pelo menos 137 ucranianos e deixaram 316 feridos, segundo o governo ucraniano, e milhares de pessoas foram forçadas a fugir para a Ucrânia ocidental ou para as vizinhas Moldávia, Polônia, Romenia e Eslováquia.

O Pentágono disse nesta sexta-feira que tem "indicações claras" de que as Forças Armadas da Ucrânia estão conseguindo se defender e que a Rússia não está fazendo tantos progressos quanto esperava em sua invasão do país vizinho.

Essa visão do confronto foi anunciada em uma entrevista coletiva pelo porta-voz do Departamento de Defesa dos EUA, John Kirby, que disse que o país vai fornecer à Ucrânia "assistência adicional" para se defender contra a agressão russa, mas insistiu que isso não significa a entrada das tropas americanas em território ucraniano.


Agência EFE e Gazeta do Povo