quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

O Brasil não poderia ter deixado a economia para ‘depois’, diz J.R. Guzzo

Após dois anos de covid e de repressão contra a atividade econômica, o país ficou mais pobre

O Brasil foi severamente afetado pela pandemia de coronavírus
O Brasil foi severamente afetado pela pandemia de coronavírus | Foto: Reprodução/Redes sociais


Descobriu-se de repente, neste final de ano, um acontecimento realmente prodigioso: a pobreza aumentou no Brasil, após dois anos de covid e de repressão, inclusive policial, contra a atividade econômica. 

Quem poderia imaginar uma coisa dessas, não é mesmo? 

Fazem lockdown

Fecham o comércio e a indústria. 

Suspendem os serviços. 

Proíbem as pessoas de trabalhar — até camelô foi perseguido pela polícia. 

Transformam o Brasil num país de fiscais. 

Agridem, como nunca antes, a liberdade de produzir — a de produzir e mais um caminhão de outras. 

Daí, quando se vê que há 13 milhões de desempregados e milhares de negócios reduzidos à ruína, se escandalizam: o Brasil ficou mais pobre.

Como a vida política neste país se reduz cada vez mais à fraude, à mentira e à eliminação da lógica, nada mais natural que o partido dos iluminados-progressistas-etc., que se dá o direito de pensar por todos, tenha chegado à uma conclusão falsa sobre o desastre. 

A culpa, dizem os viajantes desse bonde, é do “governo”. 

A calamidade na economia atingiu todos os países do mundo, sem nenhuma exceção — ricos ou pobres, bem ou mal governados, democracias ou ditaduras. 

Há inflação mundial. 

Há desemprego mundial. 

Há aumento na pobreza mundial. 

Mas só o governo do Brasil é culpado. 

No resto do mundo a culpa é da covid.

Essa falsificação é especialmente grosseira, malandra e mal-intencionada quando se considera que no Brasil, por decisão do Supremo Tribunal Federal e com o pleno acordo da elite pensante, as “autoridades locais” ganharam a exclusividade no trato da epidemia. 

Dizem que não foi assim, mas foi exatamente assim, na prática — já que nenhuma das suas decisões, segundo ordenou o STF, podia ser contrariada pelo governo federal ou por quem quer que fosse. 

Governadores e prefeitos, na verdade, foram colocados acima da lei.

Todo mundo está cansado de saber o que fizeram: reagindo como uma manada em pânico, as “autoridades locais” se jogaram de corpo e alma no “fecha tudo”, no “fique em casa” e no “cale a boca” — e adoraram isso, porque nunca mandaram tanto. 

A prioridade, repetida até enjoar, era “salvar vidas”. 

O “ser humano” vale mais que “os negócios”, diziam, e a economia deveria ficar “para depois”. 

É melhor cancelar um CNPJ do que um CPF — quem não se lembra deste lema, considerado então a quinta-essência da sabedoria humana? 

Para os ricos, tudo bem: puseram máscara, fizeram home office e continuaram circulando nos seus SUVs. 

Para os pobres, foi uma tragédia. 

Não passou pela cabeça das “autoridades locais”, do STF e da elite que a imensa maioria da população brasileira precisa trabalhar todos os dias para sobreviver. 

Não pode ficar “em casa”. 

Não é opcional.

A economia fica para “depois”? 

Pois então: o “depois” chegou. 

Agora, como o batedor de carteira que tenta se safar gritando “pega ladrão”, os responsáveis pelo desastre lamentam a miséria que causaram e põem a culpa no governo. 

Nada mais normal, nesse Brasil doente que está aí.

Publicado originalmente no jornal O Estado de S. Paulo 

Revista Oeste