![O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, durante cerimônia de transmissão de cargo no Ministério da Economia Foto: Jorge William/Agência O Globo/02-01-2019](https://ogimg.infoglobo.com.br/in/23344951-3b2-5d2/GEOMIDIA/375/x80479261_BSBBrasiliaBrasil02-01-2019PACerimonia-de-transmissao-de-cargo-no-minis.jpg.pagespeed.ic.SALT_rNFDe.jpg)
O apoio do PSL à candidatura de Rodrigo Maia(DEM-RJ) para ser reconduzido ao comando da Câmara dos Deputados, além de ser uma atitude pragmática tomada em nome da governabilidade, expõe o que realmente importa aos parlamentares: o espaço em comissões e na Mesa da Casa. Em apenas uma reunião foi selado um acordo que pode dar ao partido do governo a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a Comissão de Finanças e Tributação e o segundo vice-presidente da Câmara. Esses cargos são importantes para dar prosseguimento à pauta de Jair Bolsonaro.
A percepção de que a candidatura de Maia é a mais forte favorece a aglutinação de apoios de espectros ideológicos diferentes. Maia tem boa relação, por exemplo, com PDT e PCdoB, mas também conta com o entusiasmo de DEM e PSDB.
Por outro lado, o amplo arco da aliança, encorpada pelo PSL, gerou reclamações de legendas como PT, MDB e PP, que veem diminuir os espaços de comando na Casa. Eles sabem que não vale a pena apostar em oponentes de Maia, como Fábio Ramalho (MDB-MG) e o recém-lançado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), e saírem derrotados. Mas pressionam para mudar os compromissos assumidos por Maia.
— Vamos continuar dialogando com o Rodrigo, mas isso tem que ser feito presencialmente. Ele é quadro experiente e preparado, mas esse apoio do PSL significa uma guinada na direção contrária a que vínhamos conversando com ele — avalia o líder do PDT, André Figueiredo (CE).
No PT, que já havia se comprometido informalmente com a candidatura de Maia, uma ala mais radical diz que o apoio do PSL é um fato novo que desfaz acordos prévios. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, tenta sepultar qualquer tipo de aliança.
— Impossibilita. Inviabiliza. O PT não vai participar de um processo com o PSL para formar um bloco pró-governo — disse Gleisi ontem, ao G1.
O líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS), fala no mesmo tom.
– Na medida que o PSL anuncia que o acordo com o Rodrigo Maia envolve a presidência da Comissão de Constituição e Justiça e compromissos com pautas do governo vira um bloco governista. E se é um bloco governista nós não podemos participar – diz Pimenta.
O líder petista vê no movimento do PSL a chance de um bloco essencialmente esquerdista ser erguido. Caso isso aconteça, uma nova força seria criada, com cerca de 150 deputados, e poderia reivindicar espaços na Mesa Diretora e nas comissões temáticas. Embora conte com a maior bancada da Câmara, o PT se mantém isolado no Congresso, alijado de um bloco costurado entre PCdoB, PDT e PSB.
Aliados do presidente da Câmara são céticos quanto ao enfraquecimento do apoio a Maia, pois a candidatura do democrata é a favorita e representa a melhor aposta de partidos como PT para conquistar espaços e não ficar a ver navios. Além disso, a adesão do PSL, segundo pessoas próximas a Maia, não é propriamente uma surpresa, já que vinha sendo costurada há pelo menos três semanas.
MDB e PP, que também foram prejudicados na composição, classificam o acordo como um "toma lá, dá cá". Insatisfeito, o deputado Hildo Rocha (MDB-MA) diz, agora, que a maioria dos parlamentares do MDB pode bandear-se para a oposição. A gota d'água foi o acordo que destina a primeira vice-presidência ao PRB. Antes, o acordo era que seria entregue ao MDB.
— Agora nós vamos apoiar integralmente a candidatura do Fábio Ramalho. Estávamos querendo retirar a candidatura dele, tentando convencê-lo a apoiar o Maia, mas agora não. Essa composição pode acabar fortalecendo a oposição. Estamos sendo afogados pelo Rodrigo, e vamos procurar uma boia — ameaça o deputado.
Além de Fábio Ramalho e Marcelo Freixo, a eleição conta com mais quatro possíveis candidatos: JHC (PSB-AL), Alceu Moreira (MDB-RS) e Capitão Augusto (PR-SP).
O PRB, por sua vez, que posicionava-se com certa neutralidade, pois tinha a candidatura de João Campos (PRB-GO), resolveu abandonar a candidatura própria e entrou no projeto de Maia.
Ontem, o PSL reuniu 17 parlamentares eleitos para ratificar o apoio à candidatura de Maia. Em Brasília, após a reunião, o presidente do partido, Luciano Bivar, negou que haja divergências sobre o apoio. Apesar disso, menos da metade da bancada de 52 deputados eleitos esteve presente. Há insatisfação de parte dos deputados com o apoio a Maia, já que ele representaria a "velha política".
Tanto Bivar quanto a deputada eleita Joice Hasselmann (PSL-SP), no entanto, enfatizaram que o acordo servirá para garantir a governabilidade do presidente Jair Bolsonaro. Eles rejeitaram o rótulo do acerto como "toma lá, dá cá".
— Há uma convergência com as ideias dele — afirmou Bivar.
Bivar negou haver mal-estar dentro do próprio PSL, apesar de os filhos do presidente, o senador eleito Flávio Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro atacarem, desde o início da transição, o projeto de reeleição de Maia.
— Não há dissonância sobre isso (apoio a Rodrigo Maia) — disse Bivar.
Quando perguntado por que Eduardo Bolsonaro não estava presente, Bivar foi evasivo.
— Essa reunião nós decidimos ontem à tarde. Então, não deu como comunicar isso ao Eduardo sobre a reunião. Tanto é que 50% dos nossos candidatos estavam aqui.
Logo após a reunião, Joice Hasselman falou sobre a importância de Maia para o futuro governo, mas não deixou de reconhecer que a pauta relacionada aos costumes poderá ter dificuldades com o comando de Maia. Ela, entretanto, afirmou que "todas as resistências caíram por Terra hoje".
— O nosso fechamento de questão com Rodrigo Maia é com a pauta econômica. É isso que está fechado. Em relação à agenda de costumes, pode ser sim que apareça uma divergência aqui ou acolá. Mas eu não temo por isso. Por quê? O Brasil é conservador e o próprio eleitor vai dar conta de empurrar para andarem aqui na Câmara.
O presidente do PSL também confirmou o lançamento da candidatura de Major Olímpio (PSL-SP) para a presidência do Senado. Olímpio reconhece que a candidatura de Renan Calheiros (MDB-AL) ainda é a "mais forte".
— Recebi essa missão do presidente Bivar já durante a posse do presidente Bolsonaro. Fiquei de amadurecer. Até então, todos sabem que a minha intenção era a de juntar candidaturas, como do Davi Alcolumbre (DEM-AP), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Alvaro Dias (Pode-PR) e Esperidião Amin (PP-SC). Agora, com essa missão, me coloco como mais uma dessas opções. Para termos uma candidatura sólida para a presidência do Senado.