Bruno Rosa, Romana Ordoñez e Rennan Setti - OGlobo
Segundo analistas, Petrobras terá dificuldade para obter financiamento
O derretimento dos preços do petróleo, que chegaram ao menor valor em quase seis anos, começa a despertar dúvidas sobre a viabilidade econômica da exploração do óleo da camada do pré-sal. Em evento recente, o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, José Formigli, afirmou que a rentabilidade na área de concessão gira em torno de um barril entre US$ 40 e US$ 45. Incluindo infraestrutura, esse valor sobe para um pouco mais de US$ 50.
A cotação internacional do petróleo O barril do tipo Brent, negociado em Londres, recuou ontem 5,9%, a US$ 53,11, segundo dados da Bloomberg, o menor patamar desde 1 de maio de 2009. Já o WTI, em Nova York, teve queda de 5%, a US$ 50,04, a menor cotação desde 28 de abril de 2009. Na mínima do dia, atingiu US$ 49,77.
Na opinião de especialistas, o petróleo não continuará por muito tempo em patamares tão baixos e, como os investimentos na produção são de médio e longo prazos, o pré-sal não será inviabilizado. Mas a Petrobras, afirmam, terá mais dificuldades para captar recursos para os projetos, em meio às investigações da Operação Lava-Jato.
Para o economista Marcel Caparoz, da RC Consultores, os preços do petróleo devem ficar entre US$ 60 e US$ 70 a médio prazo (de dois a três anos), pois a demanda global pela commodity não vai acabar.
— O pré-sal continua viável, mas não é mais aquela galinha dos ovos de ouro que iria mudar a economia brasileira. Perdeu-se muitos anos discutindo a divisão dos royalties que não virão mais no volume esperado — disse Caparoz.
Já o professor Edmar Almeida Fagundes, do Instituto de Economia da UFRJ, teme que, em decorrência da Lava-Jato, a estatal enfrente mais dificuldades para obter financiamento no mercado externo, correndo o risco de não conseguir manter o cronograma de seus projetos:
— O grande problema é não ter dinheiro em caixa. Qualquer empresa de petróleo iria explorar uma reserva como a do pré-sal, mesmo com o preço do petróleo baixo, pois o retorno do investimento é de longo prazo (de 20 a 30 anos).
A Petrobras, em nota, afirmou continuar considerando o pré-sal economicamente viável e que o valor limite do barril é de US$ 45. As ações da estatal já caíram 14% na Bolsa, perdendo R$ 17,7 bilhões em valor de mercado em apenas dois pregões. Ontem, preocupações sobre Grécia e China, somadas à expectativa de ajustes na economia brasileira, fizeram os papéis da petrolífera despencarem 8%, ao menor valor em mais de 11 anos, abaixo de R$ 9.
O barril do tipo Brent, negociado em Londres, recuou ontem 5,9%, a US$ 53,11, segundo dados da Bloomberg, o menor patamar desde 1 de maio de 2009. Já o WTI, em Nova York, teve queda de 5%, a US$ 50,04, a menor cotação desde 28 de abril de 2009. Na mínima do dia, atingiu US$ 49,77. Os papéis preferenciais da Petrobras caíram 8,01%, a R$ 8,61, e os ordinários recuaram 8,11%, a R$ 8,27 — o menor valor desde 30 de setembro de 2003, quando fechou a R$ 8,23. O valor de mercado da companhia é de R$ 109,7 bilhões.
— A Petrobras é afetada, além do preço do petróleo, pelo fato de não haver qualquer alteração nos seus quadros mesmo diante de situação tão grave. A sensação que dá é que, quem investe na companhia no longo prazo, está investindo no escuro — analisou Alvaro Bandeira, sócio da Órama.