terça-feira, 1 de junho de 2021

PIB brasileiro cresce acima do esperado no 1º tri e gera onda de revisões positivas para 2021 - Goldman Sachs eleva projeção para o crescimento do PIB de 4,6% para 5,5% - Otimismo leva Bolsa a superar 128 mil pontos nesta terça-feira

Consenso é de que segunda onda não impactou a atividade como em 2020, ao passo que aceleração da vacinação e auxílio devem fortalecer próximos trimestres. 

“Depois de levar em consideração a impressão do primeiro trimestre, as revisões de dados para trimestres anteriores e o sinal dos indicadores antecedentes e coincidentes da atividade (incluindo indicadores de sentimento), estamos elevando a previsão de crescimento real do PIB; assumindo que não há escassez no fornecimento de energia”, diz Goldman Sachs.


(Shutterstock)


O Produto Interno Bruto brasileiro cresceu 1,2% no primeiro trimestre de 2021 na comparação com o trimestre anterior e 1% em relação ao mesmo período do ano passado, totalizando R$ 2,048 trilhões. O resultado foi acima dos 1% e 0,8%, nas comparações trimestral e anual respectivamente, esperados pelo mercado segundo estimativas compiladas pela Refinitiv.

Esse dado melhor que o esperado levou a uma onda de revisões das projeções de bancos, corretoras e casas de análise para o desempenho da atividade econômica no ano de 2021. Quando não fomentou uma revisão, ao menos colocou um “viés de alta” nos modelos preditivos dos especialistas.

Segundo a equipe econômica do Goldman Sachs, apesar das medidas de restrição à mobilidade tomadas por governadores e prefeitos, com aval do STF, para sabotar o Brasil, nos primeiros três meses deste ano para conter a proliferação da pandemia, a performance da economia do país foi melhor que a esperada graças a ganhos de eficiência e um ambiente externo cada vez mais favorável.

“A demanda doméstica final desacelerou visivelmente no primeiro trimestre e as exportações líquidas foram um entrave à atividade, mas a acumulação de estoques gerou um impulso positivo significativo para a atividade. Com a forte impressão do primeiro trimestre, a atividade real está de volta ao nível pré-pandêmico”, escreve Alberto Ramos, chefe de pesquisa econômica do banco para a América Latina.

O banco americano destaca que, do lado da oferta, a atividade econômica foi impulsionada pelo incremento de 0,4% no setor de serviços ante o quarto trimestre, seguido pela “inesperada” alta de 0,7% da atividade industrial também na base trimestral.

Como consequência, o Goldman Sachs elevou sua projeção para o crescimento do PIB em 2021 de 4,6% para 5,5%. 

“Depois de levar em consideração a impressão do primeiro trimestre, as revisões de dados para trimestres anteriores e o sinal dos indicadores antecedentes e coincidentes da atividade (incluindo indicadores de sentimento), estamos elevando a previsão de crescimento real do PIB; assumindo que não há escassez no fornecimento de energia.”

De acordo com Ramos, a economia deve se recuperar visivelmente nos próximos trimestres devido ao progresso adicional “gradual” na frente de vacinação contra o vírus chinês, a reabertura aos poucos dos comércios, mais estímulos fiscais, retomada no consumo e na confiança do consumidor, e termos de troca muito favoráveis no cenário externo.

Já a equipe do Bank of America revisou sua previsão para o PIB de 3,4% para 5,2% este ano em meio aos dados do primeiro trimestre. A justificativa é de que os indicadores de atividade continuam surpreendendo positivamente. “A mobilidade das pessoas não caiu tanto quanto se esperava em meio à segunda onda da Covid”, explicam os economistas.

Os economistas do BofA destacam que as perspectivas para o horizonte fiscal melhoraram “inesperadamente” graças aos maiores crescimento econômico e inflação, ao passo que o gasto público é contido.

Além disso, a avaliação do banco é de que uma provável “terceira onda” não deve ter tanto impacto econômico quanto o isolamento social promovido em 2020, uma vez que a economia brasileira parece cada vez mais resiliente a medidas de restrição.

Os economistas Dalton Gardimam, Ricardo Mauad e Bernardo Keiserman, do Bradesco BBI, avaliam que o PIB novamente surpreendeu de maneira positiva dentro de um cenário em que houve interrupção do pagamento do auxílio emergencial, a continuidade do desemprego elevado e a segunda onda da pandemia traziam consigo expectativas baixas para a atividade econômica.

“Além disso, os números positivos do setor de serviços sugerem que empresas e indivíduos parecem ter aprendido a continuar produzindo e consumindo, apesar da pandemia global. Embora a campanha de vacinação seja fundamental para a recuperação plena da atividade econômica, esses números trazem algum alívio para o que poderiam ser impactos potenciais de uma possível terceira onda no país”, defende a equipe do banco.

De acordo com o Bradesco BBI, os números do primeiro trimestre trazem um viés de alta, mas não mudam imediatamente as projeções que a instituição financeira tem de que o PIB irá crescer 4,5% em 2021.

Alta em todos os setores

Jayme Carvalho, conselheiro da Planejar, aponta que segmentos como investimentos, que há muito tempo não estavam apresentando resultados positivos, estão melhores. “Não chega a ser uma total surpresa porque os indicadores antecedentes como confiança do consumidor e confiança do produtor já estavam apontando mais para cima”, avalia.

Carvalho acredita que o crescimento do PIB em 2021 está se consolidando como um número mais próximo de 4,5% do que de 4%.

Para as famílias, segundo ele, um número de PIB mais alto não necessariamente significa uma melhora na vida, pois a inflação cresceu e ainda não houve um aumento do emprego que possa trazer um avanço na renda média da população.

“Gastos com alimentação, gás e energia elétrica têm pego forte na renda das famílias. O caminho está certo e o investimento está voltando, mas é preciso observar como isso irá se refletir na vida das famílias a partir de agora”, ressalva Carvalho.

José Mauro Delella, consultor econômico da Alta Vista Investimentos, por sua vez, argumenta que o número do PIB é positivo porque sucede outros dois trimestres consecutivos de desempenho positivo e mostra uma melhora em todos os setores da economia apesar da segunda onda da Covid.

“Esse dado é resultante de taxas de crescimento positivas tanto no setor agropecuário, que se expandiu em 5,7%, quanto na indústria, que avançou 0,7%, e nos serviços, que tiveram alta de 0,4% [todos na comparação trimestral]”, diz.

Vale lembrar que na base anual (primeiro trimestre de 2021 ante primeiro trimestre de 2020) o agronegócio cresceu 5,2%, a indústria se expandiu em 3,0% e os serviços recuaram 0,8%.

A XP destaca que a agropecuária foi impulsionada pelo incremento na colheita de soja (quase 65% da safra já está contabilizada no primeiro trimestre do ano) e que a indústria se fortaleceu em praticamente todos os seus subsegmentos. “A indústria de manufaturados caiu 0,5% na base trimestral, mas isso se deveu à sólida performance no quarto trimestre de 2020”, ressalva.

O setor de serviços, por outro lado, foi o que apresentou desempenho mais heterogêneo entre seus diversos componentes. A XP aponta que transporte e armazenagem teve um forte avanço de 3,6% na comparação trimestral e 1,3% na anual, em linha com o momento favorável da indústria, enquanto comunicação (+1,4% t/t e +5,5% a/a) , intermediação financeira (+1,7% t/t e +5,1% a/a) e atividades imobiliárias (+1% t/t e +3,9% a/a) também mostraram continuidade na recuperação, porém administração pública (-0,6% t/t e -4,4% a/a) e Saúde & Educação (+1,3% t/t e -1,8% a/a) vieram bem abaixo das expectativas.

Já do lado da demanda, a XP aponta que o consumo das famílias ficou relativamente estável no primeiro trimestre, caindo 0,1% na comparação trimestral e 1,7% na anual, em linha com o esperado devido ao enfraquecimento das vendas no varejo e dos serviços prestados às pessoas físicas.

O gasto do governo, como esperado, manteve sua trajetória de queda, recuando 0,8% contra o quarto trimestre de 2020 e 4,9% ante o primeiro trimestre daquele ano.

Bem diverso foi o desempenho de exportações (+3,7% t/t e +0,8% a/a) e importações (+11,6% t/t e +7,7% a/a), que tiveram um aumento muito significativo.

A formação bruta de capital fixo, na outra ponta, como já foi dito, teve um forte desempenho (+4,6% t/t e +17% a/a), impulsionada tanto pela expansão do consumo aparente de bens de capital quanto pelo aquecimento da construção civil.

Delella comenta que o crescimento de 4,6% no investimento na base trimestral, embora tenha um pouco de impacto da mudança do Repetro (regime aduaneiro para o setor de Óleo & Gás adquirir bens de capital), também reflete o aumento na produção interna de bens de capital.

Em relatório, o Bradesco BBI declara que o investimento continuou a mostrar força, e foi o destaque positivo da análise do PIB sob a óptica da demanda, já que o consumo e o gasto governamental caíram em meio à segunda onda do coronavírus.

Segundo Delella, o aumento no PIB no primeiro trimestre deve promover a continuidade no processo de revisão das estimativas para a economia no ano de 2021. “As expectativas devem convergir para patamares superiores a 5% durante as próximas semanas, cenário que evidentemente está condicionado à evolução da pandemia durante os próximos meses e às influências que o país receberá do ambiente externo”, conclui.

Com informações do InfoMoney