A lista de objetos que a ex-presidente Dilma Rousseff devolveu à Presidência da República revela como são variados e curiosos os presentes que presidentes de outros países costumam oferecer aos mandatários brasileiros. No caso em questão, um dos objetos citados no relatório, que estava na lista de procurados e foi encontrado na própria Presidência, é uma rede de descanso — tão conhecidas dos brasileiros — presenteada pelo ex-presidente venezuelano Hugo Chávez. Veja outros presentes que a ex-presidente recebeu.
Nesta quarta-feira, o GLOBO revelou que, depois de 45 dias de buscas, a comissão criada pela Presidência da República para recuperar centenas de itens do acervo presidencial — que haviam sido levados de Brasília pelos ex-presidentes Lula e Dilma — concluiu os trabalhos sem identificar o paradeiro de 74 objetos que estariam em posse de Lula. No caso de Dilma, apenas seis dos 117 objetos levados não foram localizados.
As buscas foram determinadas em 2016 pelo Tribunal de Contas da União (TCU) a partir de uma lista de presentes recebidos pelos dois petistas em eventos oficiais durante seus mandatos. Quando deixam o Planalto, os ex-presidentes só podem levar itens de natureza estritamente pessoal e não objetos entregues em função do cargo que ocuparam.
Dilma também foi agraciada pelo ex-primeiro-ministro do Canadá Stephen Harper com uma travessa de madeira e dois relógios de mesa oferecidos pelo ex-presidente da África do Sul Jacob Zuma e o ex-primeiro-ministro da Bélgica Yves Leterme.
No caso dos relógios, Dilma alegou à comissão especial, que fez o resgate das peças e constatou a ausência dos relógios, que eles não foram levados do Planalto. Os objetos teriam ficado na Presidência da República como “decoração”, assim como um painel em tapeçaria, presenteado pela República de Cabo Verde.
Concluído no último dia 18, o relatório da comissão será agora enviado ao TCU para a adoção de providências. Obtido pelo GLOBO, o documento revela, em dez páginas, que os servidores da Presidência conseguiram localizar, no caso de Lula, apenas 360 de 434 itens levados do Planalto. As buscas foram feitas num depósito do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, para onde foram levadas cerca de 800 caixas com artigos do ex-presidente.
No caso dos artigos levados pela ex-presidente Dilma, o relatório revela que foram localizados em um contêiner na Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre. Dos 117 itens levados por Dilma, a comissão afirma não ter encontrado seis.
Em documento apresentado à comissão, no entanto, a ex-presidente indicou registros que comprovariam que os objetos estariam nas “dependências da Presidência da República”.
“Em relação aos seis bens que não foram localizados no local, o senhor Douglas Szefer (representante de Dilma) apresentou à comissão documento descritivo em quatro laudas que relata que os citados seis bens estariam nas dependências da Presidência da República”, registra o relatório.
Diante da documentação apresentada pela petista, a comissão oficiou o setor de patrimônio do Planalto a se manifestar “quanto às alegações do representante da ex-presidente Dilma, de que seis bens não localizados na diligência estariam nas dependências desta Presidência da República”.
O Instituto Lula informou que toda a organização do acervo presidencial foi feita por funcionários do Palácio do Planalto e que tal acervo permaneceu intocado pelo ex-presidente desde que ele deixou o cargo. “Houve uma mudança de critérios (sobre o que deve ou não ser devolvido) que estranhamente só se refere a ele e não a outros ex-presidentes. O acervo está à disposição para qualquer pesquisa”, diz o instituto. A assessoria da ex-presidente Dilma foi procurada, mas não quis comentar o caso.
Patrik Camporez, O Globo