Quando escrevi que no Mundial não houve surpresas nem novidades técnicas ou táticas, comparei com os grandes times do mundo.
Mbappé, 19 anos, a revelação da Copa, não é revelação, pois já tinha jogado bem no Monaco e no PSG.
Ao ver os jogos do Brasileirão, as diferenças são grandes. Apesar do esforço dos jovens treinadores, ainda há muitos vícios na maneira de jogar, acumulados por longos anos, como os enormes espaços entre os setores, os zagueiros colados à grande área, um excesso de passes longos para o companheiro marcado, os cruzamentos para a área e tantos outros detalhes.
Individualmente, o nível do Brasileirão é fraco.
Por causa do equilíbrio, os times oscilam demais. Após duas vitórias, criam-se enormes expectativas.
Os treinadores são endeusados e, depois, duramente criticados.
Surgem diagnósticos equivocados e perfeitas soluções. Dá-se grande importância a coisas banais, como as de que Roger Machado sorria pouco e não tomava cafezinho com os dirigentes.
O calendário e a desorganização do futebol brasileiro contribuem para o atraso. A CBF e os parceiros comerciais, por interesses políticos e financeiros, não querem mudar a caótica situação.
Há bons e maus treinadores, jovens e veteranos. A contratação de Felipão, na situação atual, é um retrocesso, consequência da incoerência, da falta de planejamento, da memória afetiva e da ilusão de que o Palmeiras possui um time de craques, que só precisa de um treinador poderoso, emotivo e motivador para fazer os jogadores correrem mais e jogarem melhor. Escutei muito isso no passado.
Como no futebol há dezenas de fatores envolvidos no resultado, Felipão, ou qualquer outro técnico, jovem ou veterano, poderá melhorar a equipe, ainda mais que o Palmeiras possui um bom elenco e que Felipão também tem méritos.
Se isso ocorrer, haverá uma onda de contratações de treinadores experientes, atualizados ou ultrapassados, que estavam descartados.
Poderá ser a perpetuação do atraso. O buraco não tem fundo.
Por pouco, muito pouco.
Fiquei decepcionado com Tite e com Edu Gaspar ao saber do privilégio dado aos familiares de Neymar, em relação aos dos outros atletas, por serem os únicos hospedados no hotel da seleção durante a Copa.
Neymar, se quiser recuperar o prestígio, terá de parar com seus chiliques e simulações durante as partidas.
Por outro lado, discordo das comparações feitas, com frequência, entre as atitudes de Neymar e de ídolos do passado, como se estes fossem exemplos de ética e de conduta.
Os grandes talentos, em qualquer área, com algumas exceções, são especiais pelo que fazem em suas atividades.
Apenas por serem famosos, não são nem deveriam ser cobrados como referências, ainda mais que as tentações são muito mais acessíveis. A vida de celebridade e a riqueza excessiva costumam empobrecer o ser humano.
Se o Brasil tivesse empatado com a Bélgica —teve inúmeras ótimas chances—, seriam boas as possibilidades de se classificar, na prorrogação ou nos pênaltis, poderia chegar à final e ser campeão do mundo, já que havia equilíbrio técnico.
Neymar, provavelmente, seria o craque do time, da Copa e já estaria entre os grandes de todos os tempos, e a maioria esqueceria seu péssimo comportamento em campo.
Por pouco, muito pouco, a história seria diferente. Só os ignorantes e os prepotentes não acreditam no acaso.
Folha de São Paulo