Um dia antes da manifestação que o PT pretende vistosa para registrar Lula como candidato, a ministra Rosa Weber assumirá a chefia do TSE. Caberá a ela definir o rito de exclusão do primeiro condenado em segunda instância – e preso – a solicitar a inserção de seu nome entre os postulantes à Presidência da República.
Discretíssima, nada afeita às câmaras e luzes que encantam muitos de seus colegas, Rosa Maria Pires Weber era, até pouco tempo, tida como peça de confiança do petismo. Até mostrar que, embora indicada por Dilma Rousseff, sentava-se ali não para aromatizar a vida de uns e outros.
Ao contrário. A gaúcha provou ter extrato.
Embora tenha sido voto vencido quando o STF definiu a possibilidade de prisão pós condenação em segunda instância, jogou baldes e baldes de água gelada nos defensores de Lula – e em alguns de seus pares – quando optou por não trazer a questão recém votada à baila.
Simplesmente por dar peso à lógica, algo mais raro do que usual quando se trata do Supremo dos dias de hoje. Considerou que o plenário já havia se pronunciado sobre a pendenga havia pouquíssimo tempo e se recusou a formar maioria em favor da reanálise do tema. Mesma premissa defendida pela presidente da Corte, Cármem Lúcia, para não recolocar a matéria em pauta.
No que tange à Lei da Ficha Limpa, a posição da ministra não suscita qualquer dúvida. É claríssima. O que deveria despetalar qualquer possibilidade de o PT vender aos fiéis mínimas esperanças de ter Lula nas urnas.
Em fevereiro de 2012, quando o STF apreciou a constitucionalidade da Ficha Limpa, advinda de lei popular aprovada em 2010 e sancionada por Lula, o voto de Rosa pró inelegibilidade dos condenados por instância colegiada foi taxativo. Depois de elogiar a iniciativa como marco democrático, proferiu que “a Lei da Ficha Limpa foi gestada no ventre moralizante da sociedade brasileira que está agora a exigir dos poderes instituídos um basta.”
Mas ao PT não importa o que diz a lei. Qualquer lei. Um exemplo recente é o ataque de vândalos à sede do STF, ou invasões de terra com destruição de plantações e morte de gado. Em nome de Lula Livre vale tudo.
Com apelo em sites oficiais e paralelos, redes sociais e carros de som em localidades que exigem comunicação mais direta, o PT não tem poupado recursos na mobilização para o dia 15 de agosto, em Brasília. O registro da candidatura Lula, ainda que em termos legais tenha consequência zero, é visto pela turma do ex como um teste de força.
Pode funcionar para agitar bandeiras, animar os fundamentalistas e rechear imagens de campanha do futuro preposto do chefão petista. Mas dificilmente mexerá com a cabeça da futura presidente do TSE, que também define a maioria no STF. A Corte que, após a rejeição da candidatura pela instância eleitoral, Lula e os seus usarão para protelar, confundir e até tentar melar a eleição.
O país depende da Rosa. E isso não é poesia.
Mary Zaidan é jornalista
Com Blog do Noblat, Veja