Maria Lima - O Globo
Mulher do embaixador aposentado Paulo Tarso Flecha de Lima, ela foi amiga íntima de Lady Di
Considerada uma das mulheres mais glamourosas e elegantes da diplomacia brasileira, a ex-embaixatriz Lúcia Flexa de Lima faleceu na manhã deste domingo, em Brasília, aos 76 anos, depois de lutar por um ano contra um câncer. Junto com o marido, o embaixador aposentado Paulo Tarso Flexa de Lima, levou o Brasil para as manchetes durante o comando das embaixadas de Paris, Roma, Londres e Washington, postos mais cobiçados do Itamaraty. Durante a separação e morte da princesa Diana, Lúcia ganhou destaque como sua primeira amiga e confidente. Paulo e Lúcia formavam o casal 20 da diplomacia.
Nos últimos tempos, mesmo doente, a ex-embaixatriz comandava projetos sociais em Brasília. Era presidente da Casa do Candango, uma sociedade beneficente que cuida de 300 crianças carentes, e do Lar São José, um abrigo de idosos na capital.
- Era uma grande mulher, honrou o nome do Brasil por onde passou. Nos últimos tempos se empenhava muito para garantir dinheiro para suas crianças e velhinhos. Meu pai está destroçado. Perdeu a grande companheira dele - disse Isabel, uma dos quatro filhos do casal.
Lúcia morreu em casa e deixa, além do marido, quatro filhos. O corpo da ex-embaixatriz será cremado a seu pedido. O funeral será íntimo e, desde cedo, a família está recebendo mensagens e flores de representantes do corpo diplomático em Brasília.
Por onde passou, a ex-embaixatriz cultivou amizades, como o casal Bill e Hillary Clinton, e a princesa Diana, de quem foi confidente. O casal Flecha de Lima conheceu Lady Di em junho de 1990, durante um chá de verão promovido pela rainha Elizabeth nos jardins do Palácio de Buckingham. No evento, Lúcia e a princesa trocaram apenas cumprimentos formais. Pouco depois, no entanto, as duas passaram a conversar. A amizade se consolidou com a vinda do príncipe Charles e Diana ao Brasil em 1991 para uma visita de seis dias. Na ocasião, Paulo Tarso Flecha de Lima, então embaixador em Londres, recebeu do governo a missão de ciceronear o casal. Nesse período, Lúcia conviveu intensamente com Diana.
A aproximação prosseguiu em Londres e a amizade veio a público quando Diana convidou a amiga para acompanhá-la nas finais do torneio de tênis de Wimbledon. A partir daí, Lúcia tornou-sem uma das principais amigas e confidentes da princesa. A ex-embaixatriz recebia Diana em casa.
Lúcia sempre encarou a função de embaixatriz com muita responsabilidade. Disse, em entrevista ao GLOBO em 1998, que ser embaixatriz não era um papel.
- Eu sou mulher de embaixador 24 horas por dia - afirmou à época, dizendo ainda que qualquer coisa que fizesse lá fora refletiria na mulher brasileira.
Na entrevista, contou que, em 1990, foi ao Iraque, pagando a passagem com dinheiro do próprio bolso, para acompanhar o marido nas negociações para a liberação de 340 brasileiros retidos pela Guerra do Golfo. Na Itália, ela comandou pessoalmente a reforma do palácio Pamphili, uma construção do século XVII, sede da embaixada brasileira em Roma.
A ex-embaixatriz era mineira de Belo Horizonte e também foi secretária de Turismo do Distrito Federal.
Em nota, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, lamentou a morte de Lúcia e se solidarizou com a família.
"Dona Lúcia, como era conhecida por todos, teve trajetória ímpar, como, ao lado de seu marido, no episódio da libertação dos reféns brasileiros de Saddam Hussein. Deixou sua marca de eficiência também nesta cidade, como secretária de Turismo do Distrito Federal e presidente da entidade beneficente Casa do Candango, além de seu trabalho na Comissão de Relações Exteriores do Senado", diz a nota.