sábado, 15 de abril de 2017

‘Moreira deixou a Caixa por não saber arrecadar’, diz delator

Bernardo Gonzaga e Liana Costa Fábio Fabrini e Breno Pires - O Estado de S.Paulo

De acordo com Fernando Reis, atual ministro foi substituído no banco por Fábio Cleto por não obter recursos para o PMDB

O ex-presidente da Odebrecht Ambiental Fernando Reis relatou à Procuradoria-Geral da República uma conversa com o ex-presidente da Câmara e deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atualmente preso em Curitiba, na qual o então deputado atribuiu a substituição do atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, na cúpula da Caixa à sua incapacidade de arrecadar recursos para o PMDB como dirigente do banco.
Foto: ADRIANO MACHADO/REUTERS
Wellington Moreira Franco
Ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República Wellington Moreira Franco (PMDB)
“Ele (Cunha) me disse claramente que estava substituindo o senhor Moreira Franco pelo Fábio Cleto porque o FI (Fundo de Investimento do FGTS) era uma fonte importante para o partido e o senhor Moreira Franco não estava sabendo arrecadar para o PMDB a partir das operações do FI-FGTS”, disse Reis num de seus depoimentos.
Segundo o ex-executivo, a conversa com Cunha, ocorrida em meados de 2011, “deixou claro que a nomeação de Fábio Cleto tinha cunho de arrecadação político-partidária”.
Moreira Franco foi, até julho de 2010, vice-presidente de Fundos e Loterias da Caixa, por indicação do PMDB. A área é responsável pela gestão dos recursos do FI-FGTS. Em 2011, ele foi sucedido por Fábio Cleto, apadrinhado de Cunha. Cleto firmou acordo de delação premiada na Lava Jato e relatou, no ano passado, esquema de cobrança de propina de grandes empresas para o deputado cassado e seu grupo, em troca da liberação de recursos bilionários do fundo.
Ação penal. Cunha e Cleto são réus em ação penal em curso na Justiça Federal em Brasília, acusados de crimes como corrupção e lavagem de dinheiro por envolvimento no suposto esquema. Cunha nega ter cometido irregularidades.
As declarações do delator e de outros seis ex-executivos da Odebrecht sobre desvios na Caixa e outros órgãos públicos serão juntadas a um inquérito, já em trâmite no Supremo Tribunal Federal, que apura o envolvimento de políticos do PMDB da Câmara em organização criminosa. Moreira não consta como investigado neste caso.
O relator da Lava Jato no STF, ministro Edson Fachin, também autorizou a remessa de parte desse material à Justiça Federal em Brasília, que avalia a ação penal de Cunha.

Procurado na quinta-feira, 13, e na sexta-feira, 14, por meio de sua assessoria, Moreira não se pronunciou sobre as declarações de Reis. Em nota, a Caixa disse colaborar de forma “irrestrita” com as autoridades, “procedimento que continuará sendo adotado”.