"Se você tem 15 volumes para falar de toda música brasileira, fique certo de que é pouco. Mas, se dispõe apenas do espaço de uma palavra, nem tudo está perdido.
Escreva depressa: 'Pixinguinha'."
O violonista e produtor Luís Filipe Lima se apoia na frase do crítico e historiador Ari Vasconcelos (1926-2003) para explicar a importância de Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha (1897-1973), na história da música brasileira.
No domingo (23), o compositor, instrumentista, maestro e arranjador carioca completaria 120 anos –desde 2000, na data também se comemora o Dia Nacional do Choro.
"Ele representa um divisor de águas na história dos arranjos da música popular brasileira", diz Lima.
Para celebrar a efeméride, o Instituto Moreira Salles, guardião de seu acervo há 17 anos, lança neste sábado (22) um site que reúne partituras manuscritas de suas composições e arranjos, objetos pessoais, documentos, fotos, discografia e uma hemeroteca. O IMS também organiza programação musical para a data.
"A nossa ideia é que o site crie um movimento que transforme esse material em um patrimônio coletivo com a colaboração de todos", diz Bia Paes Leme, coordenadora de música do instituto.
Para o músico Marcelo Vianna, neto do compositor, ainda há uma diferença entre a posição que Pixinguinha ocupa na consolidação da música brasileira e o reconhecimento que ele tem na prática. "É necessário oxigenar a sua obra e garantir que ela chegue às pessoas", diz.
Em SP, o Itaú Cultural organiza série de shows para celebrar a data. Desta sexta (21) a domingo (23) apresentam-se os grupos Chorando em Ré Menor, Saxofonando e Galo Preto –todos com a obra de Pixinguinha como base.
As comemorações também se transportam às telas. O longa "Pixinguinha - Um Homem Carinhoso", de Denise Saraceni e Allan Fiterman, deve estrear em outubro.
O projeto, que existia havia alguns anos, enfrentou problemas e só foi rodado no começo deste ano. Para o produtor Carlos Molleta, tem por objetivo resgatar a figura do carioca e torná-lo mais conhecido para as novas gerações.
'CARINHOSO', 100?
Pixinguinha morreu na igreja Nossa Senhora da Paz, no Rio, durante o batismo de um afilhado.
Na data, sairia pela primeira vez a Banda de Ipanema, cujo trajeto passava em frente a paróquia. Ao saberem do ocorrido, os ritmistas pararam o cortejo em frente ao local e tocaram "Carinhoso". Desde então, todos os anos a banda repete o mesmo gesto.
A canção, uma de suas obras mais famosas, completa cem anos em 2017 –mas com alguma controvérsia.
Não há consenso sobre quando a obra, abandonada de início pelo próprio Pixinguinha por fugir ao formato convencional do choro, foi feita. "Existem três eventos: uma declaração de que ele compôs a música em 1917, a gravação instrumental em 1927 e a com a letra em 1937", explica Bia Paes Leme.
Clássico da MPB, ela já foi regravada por nomes que vão de Elis Regina a Tom Jobim e tem até versão em inglês: "Love is Like This", para o filme "Romance Carioca" (1950).
"Se você puxar [a música] no violão em qualquer lugar do Brasil todos vão saber cantar junto", diz Moletta.
Instituto Moreira Salles/Acervo Pixinguinha | ||
Uma das fotografias do compositor que estarão disponíveis no portal em sua homenagem |