sábado, 15 de abril de 2017

"Competitividade global", por Eduardo Carvalho

O Globo

Países com menores índices de competitividade têm instituições fracas, infraestrutura deficiente e educação de baixa qualidade, além de péssimo sistema de saúde
 



O WEF-World Economic Forum (Fórum Econômico Mundial) define competitividade como um conjunto de instituições, políticas e fatores que determinam o nível de produtividade de um país. O professor da Harvard Business School Michael Porter complementa a definição ao ressaltar “que um país competitivo deve gerar prosperidade para empresas e cidadãos”.

O Fórum Econômico Mundial criou um relatório, na década de 80, e combinou dados estatísticos nacionais e internacionais com os resultados de uma ampla pesquisa de opinião realizada junto a executivos. A pesquisa avalia as condições oferecidas pelo país para que as empresas locais tenham sucesso nos contextos nacional e internacional e, assim, promovam o crescimento sustentável e a melhoria nas condições de vida de sua população.

A edição de 2016 do relatório indica o ranking de competitividade global de 138 países. No documento, 118 variáveis são analisadas e agrupadas em 12 categorias. Este ano, o Brasil caiu 33 posições no ranking, quando comparado com 2012, e está na 81ª colocação. A classificação atesta que o país sofre com a deterioração de fatores básicos para a competitividade, como a confiança nas instituições e o balanço das contas públicas, e elementos de sofisticação dos negócios, como a capacidade de inovar e a educação.

A Suíça manteve-se em 1º lugar no ranking de competitividadedo WEF pelo oitavo ano consecutivo. Líderes em inovação, os suíços têm taxa de desemprego estável, o que está relacionado ao excelente sistema de educação e à eficiência no mercado de trabalho. 

Cingapura e Estados Unidos vêm na sequência. “A análise mostra que todos os países no topo do ranking têm uma característica marcante em comum: apresentam uma excelente habilidade em nutrir, atrair, apoiar e desenvolver talentos”, afirma Carlos Arruda, diretor da Fundação Dom Cabral. No Brasil, a instituição é parceira do WEF para a realização da pesquisa.

Carlos Arruda explica que “a crise econômica e política que se deteriora desde 2014, associada a fatores estruturais e sistêmicos, como o sistema regulatório e tributário inadequados, infraestrutura deficiente, educação de baixa qualidade e baixa produtividade, resulta em uma economia frágil e incapaz de promover avanços na competitividade interna e internacional”.

Os países com menores índices de competitividade caracterizam-se por terem instituições fracas, infraestrutura deficiente e educação de baixa qualidade, além de um péssimo sistema de saúde. Na educação, a qualidade do ensino básico ficou em 127º lugar e a do ensino superior, em 128º. Ou seja, o Brasil tem um dos onze piores sistemas educacionais do mundo. Este é um dado preocupante porque compromete a competitividade do país em curto e longo prazos. O tamanho do mercado brasileiro, ponto forte do país, ficou em oitavo lugar. O PIB, em bilhões, é o sétimo maior dos 138 países.

No Brasil, o Centro de Liderança Pública (CLP) concebeu, em 2011, o Ranking de Competitividade dos Estados, com o desenvolvimento técnico a cargo da Economist Intelligence Unit. O intuito do estudo é gerar diagnósticos e direcionamentos para a atuação dos líderes públicos estaduais.

O Ranking de Competitividade dos Estados avalia 65 indicadores, distribuídos em dez pilares temáticos considerados fundamentais para a promoção da competitividade do estado. Os pilares são: infraestrutura, sustentabilidade social, segurança pública, educação, solidez fiscal, eficiência da máquina pública, capital humano, sustentabilidade ambiental, potencial de mercado e inovação. A pesquisa faz alguns comparativos com os indicadores do Fórum Econômico Mundial. Em 2016, São Paulo ocupou a primeira posição, seguido pelo Paraná e por Santa Catarina.

Os estados brasileiros precisam colocar a evolução desses indicadores nos seus planos de curto e longo prazos. A globalização, cada vez mais dinâmica, exige essa visão e as consequentes ações para alcançá-los.

Eduardo Carvalho é gestor educacional e Harvard Advanced Leadership Fellow