segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Dirceu, ex-capitão da quadrilha de Lula, atuou na Petrobras quando ainda era ministro de... Lula, afirma delator

Cleide Carvalho - O Antagonista

Milton Pascowitch disse que, até o mensalão, grupos políticos recebiam propina sem intermediários


José Dirceu qando deixou a Superintendência da Polícia Federal em Brasília - André Coelho / Agência O Globo


Preso desde o último dia 4 na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, o ex-ministro José Dirceu começou a intermediar negócios na Petrobras por volta de 2003 e 2004, quando ainda era ministro da Casa Civil do governo Lula, afirma o delator Milton Pascowitch. Em depoimento à Polícia Federal, Pascowitch disse que o grupo político de Dirceu, que era representado na estatal por Fernando Moura, se aproximou da empresa Hope, estabelecendo um 'relacionamento comercial' entre a Hope e a Petrobras por meio do diretor de Serviços, Renato Duque. O empresário contou que, até o escândalo do mensalão, em 2005, o pagamento de propina era feito diretamente aos "interessados da área política".

É com base no depoimento de Pascowitch que o Ministério Público Federal afirma que Dirceu instituiu o esquema de corrupção instalado na Petrobras. Quando o ex-ministro teve prisão decretada na Operação Lava-Jato, no início de agosto, o procurador Carlos Fernando Lima afirmou que a investigação busca "José Dirceu como o instituidor do esquema Petrobras ainda no tempo da Casa Civil, ainda no tempo do governo do ex-presidente Lula”.

No depoimento, Pascowitch afirmou que, quando surgiu o mensalão, a área política "se afastou dessas demandas" e instituiu como interlocutor o operador Júlio Camargo, outro delator da Lava-Jato. Foi então, segundo ele, que Camargo passou a receber os valores da Hope e distribuí-los entre funcionários da Petrobras e políticos.

Pascowitch disse que, por volta de 2008 ou 2009, recebeu Duque e Fernando Moura em sua casa. Moura reclamou a Duque que não estaca recebendo os valores devidos por tê-lo indicado ao cargo na Petrobras. Segundo o delator, os problemas com Júlio Camargo levaram Duque a pedir que assumisse a intermediação de distribuição de propina com a Hope e com a Persona Service. A Hope teria suspendido os pagamentos em 2013 e a Personal, segundo Pascowitch, pagava R$ 100 mil mensais até o início da Lava-Jato.

Pascowitch afirmou que, em 2013, houve uma reunião em sua residência, da qual participaram José Dirceu e seu assessor Roberto Marques; o então tesoureiro do PT João Vaccari; e Renato Duque, que havia deixado o cargo de diretor de Serviços. O grupo teria discutido a necessidade de que alguem intercedesse junto ao novo diretor da Petrobras José Eduardo Dutra para que fossem licitados novos contratos de terceirização de mão-de-obra. Pascowitch diz que não sabe quem intercedeu, mas afirmou que houve nova licitação e as mesmas empresas - Hope e Personal - ganharam os contratos, embora não tenha conhecimento se o pagamento de propina voltou a ocorrer.