terça-feira, 7 de abril de 2015

PMDB versus PT: uma luta de vida ou morte

Com Blog Ricardo Setti - Veja



(Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)
PMDB, representado por Michel Temer, e PT, por Dilma: é matar ou ser morto (Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)

Por Paulo Moura*


Desde que se instaurou a crise entre PMDB e PT, comentaristas têm afirmado que, se Dilma ceder espaço ao PMDB no governo a paz voltaria a reinar nas hostes governistas. Será? Os caciques do PMDB são ingênuos a ponto de não perceberem qual é o objetivo do PT?
O PT é um partido hegemonista. Isso quer dizer que o objetivo que preside as ações do PT é lutar nos terrenos político, social e cultural com vistas a conquistar apoio da sociedade para sua perpetuação no poder. Repito: perpetuação no poder com sustentação em consenso social.
Como os métodos tradicionais de tomada revolucionária do poder, que eram: insurreição popular e assalto ao palácio (Rússia); guerrilha camponesa (China); guerra popular prolongada (Vietnã e Camboja); guerrilha de vanguardas de substituição (Cuba), fracassaram, a esquerda assumiu como estratégia o chamado “marxismo cultural”.
Lenin e Trotsky; Mao Tse Tung; Pol Pot; Ho Chi Minh; Che Guevara e Fidel Castro foram os líderes das estratégias de assalto ao poder das revoluções comunistas do século XX e focaram-se na tomada do poder pela da violência. Gramsci, teórico comunista italiano, focou suas preocupações na conquista e preservação do poder pela via da sedução dos corações e mentes da maioria da sociedade. O partido é O Príncipe, que Maquiavel via nos “condottieres” do século XVI.
Gramsci é o inspirador da esquerda contemporânea e do “Socialismo do Século XXI”. Em síntese, o que a esquerda latino-americana pratica é a tentativa de sua perpetuação no poder pela conquista de apoio da maioria da sociedade usando a democracia para corrompê-la por dentro.
Para isso, além de buscar apoio na sociedade através de políticas clientelistas (bolsas) dirigidas ao andar de baixo; oferta de crédito subsidiado (bancos públicos), ao andar de cima; e patrocínio para a classe artística (Lei Rouanet e publicidade governamental), o PT adotou a corrupção sistêmica como forma de cooptação das elites tradicionais como método para sustentar seu projeto de poder.
Com apoio da base alugada, o PT pretendia mudar as leis aos poucos, para legalizar seu projeto de solapar as instituições democráticas visando perpetuar-se no poder. Paralelamente, a ideia era a de ir queimando a imagem e a viabilidade eleitoral das elites tradicionais, especialmente do PMDB, até o ponto de asfixiá-las e destruir seus partidos de forma que, no médio prazo, somente sobrevivessem o PT e seus satélites como partidos relevantes.
O primeiro movimento dessa estratégia foi um recuo tático à direita com a vitória de Lula em 2004. Para conquistar a confiança dos mercados, Lula usou Palocci para implementar uma política econômica mais ortodoxa do que a de FHC e pavimentar o caminho para os avanços seguintes. Um passo atrás, dois passos adiante, preconizou Lenin, com a NEP (Nova Política Econômica) adotada na Rússia em 1924, que estimulou a propriedade privada para alavancar a economia nos primeiros anos da revolução e depois estatizar tudo.
Ao se reeleger, Lula trocou Palocci por Mantega e deu início ao descontrole fiscal. Ao eleger Dilma, Lula substituiu Henrique Meireles por Tombini, trocando o tripé (câmbio flutuante, juros para conter inflação e superávit fiscal) pela chamada “nova matriz econômica”, que acaba de fracassar.
A reeleição de Dilma seria, na estratégia do PT, o momento de mudar a Ordem Política da Constituição aprovando o voto em lista e o financiamento público de campanha, de modo a fortalecer o voto na legenda, num contexto em que o PT era a legenda mais forte.
O financiamento público de campanha daria mais dinheiro à maior bancada (adivinhem qual é?), e jogaria na ilegalidade os demais partidos que buscassem o caixa dois para compensar a desvantagem competitiva com o PT. Mas, o PT cometeu dois erros básicos que só comete quem não corrigiu na juventude o pecado da soberba e da arrogância. O primeiro foi acreditar na visão teórica da esquerda sobre a economia. O segundo foi subestimar a inteligência do inimigo. No caso, o PMDB.
Quem estudou Mises, Friedman, Hayek e demais liberais saberia que a bagunça que o PT faz na economia brasileira só poderia dar no que deu. Quem aprendeu na juventude que a soberba e a arrogância são atitudes burras e contraproducentes poderia prever que as atitudes de Lula, Dilma e do PT só poderiam dar no que deram.
No entanto, tudo indica que a ficha de Lula, Dilma e do PT ainda não caíram. No âmbito interno da estratégia geral do PT, Dilma tinha seus próprios objetivos e imaginava que a conquista do segundo mandato a libertaria do jugo do seu criador. Na cabeça dura de Dilma, seu primeiro mandado foi Lula/Dilma. O segundo mandato seria Dilma/Dilma.
Mas, Dilma não entendeu as circunstâncias da sua vitória. Nem Dilma e nem o PT entenderam que o povo brasileiro não é de esquerda. Pelo contrário, é conservador e patrimonialista. Ao criar uma crise econômica sem precedentes, Dilma foi forçada a cortar bolsas para o andar de cima e o andar de baixo. Dilma jogou os custos da crise que fabricou no bolso de quem a elegeu e jogou esse povo que pagará a conta no colo de quem foi às ruas em 06/2013 e 03/2015. Erro fatal!
*  Paulo Moura, professor universitário, é cientista social, consultor de comunicação e marketing político em campanhas eleitorais e analista político e de pesquisas de opinião e de mercado