sábado, 18 de abril de 2015

"Maduro, por qué no te callas?", por Caio Blinder

Com Blog do Caio Blinder - Veja




Um retrato piorado de Chávez
Um retrato piorado de Chávez
Nicolás Maduro agride. Quanto mais a Venezuela afunda, mais o seu presidente sai por aí disparando. O boquirroto busca encrenca fora do país para desviar as atenções do imenso buraco cavado pelo chavismo. O alvo preferencial do falastrão é o império ianque, mas agora ele insulta com fúria o ex-império colonial espanhol.
O editorial abaixo do jornal El País, publicado esta semana, dá o contexto da pantomina encenada pelo homem que desgoverna a Venezuela  Maduro aprendeu com o mentor Hugo Chávez, embora careça do seu carisma e tom picaresco. No entanto, merece o mesmo pito dado pelo ex-rei Juan Carlos. O monarca que renunciou em 2014 prestou dois grandes serviços ao seu país e à humanidade.
O primeiro por ter contribuído para a transição para a democracia da ditadura franquista nos anos 70. E o segundo em uma cúpula ibero-americana em Santiago do Chile em 2007. Hugo Chávez insultava a Espanha de forma ecumênica, interrompendo o discurso do então primeiro-ministro socialista José Luiz Zapatero para ofender o antecessor conservador José María Aznar. Juan Carlos não aguentou e proferiu a frase antológica: “Por qué no te callas?”.
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El País
A aproximação entre Washington e Havana, que aconteceu na Cúpula das Américas, deixou completamente deslocado o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, cujo discurso populista precisa de um inimigo externo que justifique e oculte os problemas internos. Por isso, a grave crise diplomática aberta entre Venezuela e Espanha, com grande carga agressiva por parte do regime chavista, apresenta importantes diferenças em relação a situações anteriores.
Ao contrário do que sustenta o mandatário venezuelano, o Parlamento espanhol não aprovou nenhuma resolução contra seu país. O que fez foi se unir ao coro de reputadas vozes internacionais que pedem a libertação dos presos políticos na Venezuela, indispensável para sair da profunda crise em que se encontra. O Parlamento não se imiscuiu na soberania venezuelana.
Maduro reagiu em duas frentes: por um lado, o insulto pessoal contra o chefe de Governo espanhol, Mariano Rajoy, assim como contra a instituição do Congresso, inaceitável em um marco internacional civilizado, e a ameaça de castigar os interesses espanhóis na Venezuela sob o eufemismo de “revisar exaustivamente” as relações com a Espanha. Além disso, o ex-chefe de governo Felipe González foi difamado pelo presidente do Parlamento venezuelano, Diosdado Cabello. Desde modo, Rajoy, González e o Parlamento espanhol ocuparam neste momento o posto de Bush, Obama e o Congresso dos EUA na retórica oficialista bolivariana.
A linguagem de Maduro não é nova. Seguindo o caminho de Hugo Chávez, as expressões “racista” e “conspirador”, entre outras, abundam em ataques. O que mudou é que – ao contrário do que acontecia há poucas semanas – não aplica mais essa linguagem contra os EUA. A reação espanhola se ajustou ao manual das relações diplomáticas. O protesto verbal feito ao embaixador venezuelano em Madri não é uma resposta com o objetivo de aumentar a tensão. Ao contrário. As relações com a Venezuela são importantes, mas isso não quer dizer ignorar que importantes líderes opositores venezuelanos estejam presos de forma arbitrária. Como afirmou muitas vezes o jornalista Teodoro Petkoff – que ganhou ontem o Prêmio Ortega y Gasset – são presos “sem sentido e sem justificativa”. E o Congresso espanhol acertou ao denunciar isso.