quarta-feira, 1 de abril de 2015

"Feliz dia da mentira", por Hélio Schwartsman

Folha de São Paulo


Para um país que fez sua "revolução" num 1º de abril e que não resiste a um estelionatozinho eleitoral, nada mais adequado do que celebrar com pompa o dia da mentira. Colocando a questão sem firulas: por que identificamos políticos com mentira?
A razão básica é que eles mentem. Na verdade, todos mentimos. Os estudos acadêmicos que tentam computar o número de inverdades que as pessoas contam pintam um quadro não muito bonito de nossa espécie. O psicólogo Robert Feldman, por exemplo, avaliando interações de apenas dez minutos entre desconhecidos, constatou que eles mentem em média três vezes cada, podendo chegar a 12 nos casos extremos.
Existem, porém, motivos para crer que políticos estejam um pouco acima da média da humanidade. Num de seus experimentos, Feldman filmou adolescentes mentindo sobre o gosto de um refrigerante. A bebida era intragável, mas eles deveriam dizer que a acharam deliciosa. Depois, submeteu os vídeos a um júri que deveria apontar quais jovens foram mais convincentes. O intrigante foi constatar que os que se saíram melhor em ludibriar os observadores eram os estudantes mais populares, isto é, que tinham maior número de amigos e participavam de mais atividades. A conclusão é que há uma correlação positiva entre capacidade de mentir e competência social --atributo indispensável da carreira política.
Isso significa que termos de conviver para sempre com governantes mentirosos? 
Provavelmente sim. Antes, porém, de amaldiçoar a sorte, lembre-se de que uma das razões para a grande prevalência do embuste é que nós somos suas vítimas voluntárias. No fundo, todo o mundo quer acreditar nos falsos cumprimentos que recebe. Uma parte do cérebro de fato acredita e isso gera reações químicas que provocam prazer. Mesmo o mais desafinado dos mortais se sente bem quando é elogiado por seu hipócrita professor de canto.