Em visita à Bahia na largada para o segundo turno das eleições presidenciais, a presidente Dilma Rousseff (PT) disparou: “Quero saudar o novo vice-governador João Leão, o bonitão”. Aplausos e gargalhadas da militância presente no ato.
Cinco meses depois, o vice-governador da Bahia João Leão (PP) –conhecido pela irreverência e por chamar todo interlocutor de bonitão ou bonitona– saiu do centro das atenções do governo.
Desde que foi citado como investigado na operação Lava Jato da Polícia Federal e reagiu afirmando à *Folha* que estava “cagando e andando” para as denúncias, Leão não participou de nenhum ato público de governo ao lado do governador Rui Costa (PT).
Nas últimas três semanas, o vice-governador participou de 20 audiências internas e de apenas duas agendas externas, ambas sem o governador: fez uma palestra numa universidade e visitou um antigo reduto eleitoral.
O “sumiço” contrasta com a até então atuação ativa do vice, que também é secretário de Planejamento da Bahia. Até a divulgação da lista, ele participou de 18 eventos públicos do governo, incluindo inaugurações em pelo menos sete cidades do interior.
Ex-deputado federal por cinco mandatos, ele também vinha atuando como articulador político do governo em Brasília –função que deixou de exercer.
RUGINDO NOS BASTIDORES
A atual discrição do vice-governador, contudo, não significou a redução do seu poder de influência junto ao governo baiano.
Na última semana, mediu forças com outro secretário ao querer trocar toda a diretoria da autarquia responsável pelos distritos industriais da Bahia, substituindo nomes técnicos por apadrinhados políticos.
Empresários baianos criticaram a troca, já que um dos diretores é responsável por gerir ativos de R$ 2 bilhões em terrenos voltados para a instalação de indústrias.
O vice-governador também foi criticado por nomeações de afilhados políticos na SEI –órgão técnico responsável por estudos econômicos e sociais do Estado. Em privado, servidores afirmam que a autarquia tornou-se um “cabide de empregos”.
Oriundo do grupo político do senador Antônio Carlos Magalhães, Leão é conhecido pela forte base política no interior do Estado e pelo jeito bem-humorado e bonachão.
Aliou-se ao PT em 2009, quando assumiu a secretaria de Infraestrutura do governo Jaques Wagner e promete implantar o programa “Buraco Zero”, recapeando todas as estradas que cortam o estado.
Em 2011, assumiu a chefia da Casa Civil do então prefeito de Salvador João Henrique Carneiro, hoje sem partido. Prometeu trazer o “aeromóvel” para capital baiana e implantar o programa “Gato Zero”, de enfrentamento a ligações clandestinas de energia.
Na campanha de 2014, prometeu uma linha de metrô numa cidade do sertão de 80 mil habitantes. Depois de eleito, disse que rejeitou uma proposta para ser ministro de Dilma porque sua mulher “não deixou”.
Na secretaria de Planejamento, duas semanas depois de ser listado entre os investigados, decidiu adiar para o final deste ano a licitação da construção da ponte Salvador-Itaparica, orçado em R$ 7 bilhões.
Procurado pela reportagem para falar sobre adiamento do projeto da ponte, Leão não quis dar entrevistas.
O “sumiço” do vice-governador de eventos oficiais é contemporizado pelos governistas. “Ele está desempenhando suas funções e tem nosso apoio”, disse o secretário de relações institucionais do governo, Josias Gomes.