sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Rodrigo Maia esbanja R$ 6 milhões com jatinhos da FAB em dois anos como presidente da Câmara dos Deputados, revela Lúcio Vaz

 

O desembarque de Rodrigo Maia em Lins foi flagrado pela Novatv| Foto: Landerson/Novatv


O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, deixará para trás em 2021 uma mordomia pesada para os cofres públicos – os voos em jatinhos da FAB. Nos últimos dois anos, ele torrou 6,2 milhões em 364 deslocamentos, sendo 147 deles de ida e volta para o Rio de Janeiro, onde tem residência, geralmente sem agenda oficial. Foram R$ 4,3 milhões no ano passado e R$ 1,9 milhão neste ano, apesar da pandemia da Covid-19. Teve até visita a frigorífico da JBS em jatinho oficial.


Só as viagens internacionais para nove países custaram R$ 1,4 milhão, sempre nas asas da FAB. Ele esteve em Nova Iorque, Paris, Londres, Roma, Genebra, Madri, Lisboa, Dublin e Buenos Aires. Maia esteve duas vezes em Nova Iorque em 2019, onde teve encontro som empresários, com diferença de apenas um mês. Fez turismo religioso em Roma, na cerimônia de canonização de Irmã Dulce, ao lado do então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Tóffoli, outro campeão de viagens. Maia levou quatro assessores que receberam R$ 48 mil em diárias.


Neste ano, fez a viagem mais cara, para Paris e Madri, contanto o jatinho e as despesas com seguranças, assessores e três deputados – um total de R$ 463 mil. A comitiva foi estudar modelos para a profissionalização dos clubes de futebol no Brasil, valorização dos campeonatos e direitos de imagem. Também houve visitas institucionais e até fotos com o Rei da Espanha, Felipe VI. A “missão” durou nove dias, de 22 de fevereiro a 2 de março. Só o deslocamento do jatinho saiu por R$ 240 mil.


As diárias dos deputados Elmar Nascimento (DEM-BA), Marcos Pereira (Republicanos-SP) e Pedro Paulo (DEM-RJ) custaram R$ 37 mil. Quatro policiais legislativos e uma jornalista receberam mais R$ 134 mil em diárias. Três policiais contaram com 11 diárias num total de R$ 30 mil cada. A missão teve até escalão avançado, o que resultou em mais despesas de R$ 51 mil com passagens aéreas.


Mas o prejuízo poderia ter sido ainda maior. No ano passado, Maia fez sete viagens internacionais, incluindo nove países, ao custo de R$ 1,2 milhão só com jatinhos. Neste ano, a pandemia da Covid-19 inviabilizou mais viagens internacionais.


Viagens para casa e visita à JBS

O presidente Rodrigo Maia manteve neste ano o hábito de viajar para o Rio de Janeiro nos finais de semana utilizando jatinhos da FAB. Cada viagem de ida e volta custa cerca de R$ 30 mil, considerando as despesas de manutenção da aeronave. Foram 55 dos 130 deslocamentos neste ano e 92 dos 242 trechos de 2019. E ainda tem as despesas com diárias e passagens de seguranças que seguem em avião de carreira – a equipe precursora.


Neste mês, houve uma visita inusitada. No dia 10, o presidente da Câmara viajou para São Paulo à noite, uma quinta-feira. Na manhã seguinte, voou direto para Lins, onde foi recepcionado pelo prefeito Akio Matsuura (PSDB). Seguiu, então, para o frigorífico da JBS no município, onde teve uma reunião durante horas com Wesley Batista, irmão de Joesley Batista – ambos investigados no âmbito da Lava Jato por corrução e caixa dois eleitoral.


A discreta visita de Maia à planta da JBS foi noticiada em primeira mão pela Novatv, uma TV pela internet com sede em Lins. Fotos da equipe de reportagem registrou a chegada do deputado no jatinho da FAB. Em contato com autoridades do município, a reportagem da TV apurou que o presidente da Câmara esteve na JBS por mais de cinco horas. Mas nada vazou sobre o que conversaram durante a visita. Questionado pelo blog, Maia não revelou o motivo da reunião.


Quanto custa uma viagem para casa

Os gastos com os servidores que acompanham o presidente estão registrados. Maia fez um voo para o Rio dia 10 de janeiro, uma sexta-feira, sem agenda oficial. Lá ficou até o dia 14, acompanhado por cinco seguranças que receberam 22 diárias. Quatro deles viajaram em voo de carreira, chegando antes do presidente. As passagens e diárias custaram R$ 17 mil. Com o custo do jatinho, a despesa por conta do contribuinte chegou a R$ 39 mil.


Em 15 de janeiro, Maia passou por São Paulo e seguiu para o Rio, onde era aguardado por cinco seguranças. Na sexta-feira, retornou a São Paulo. As despesas com passagens aéreas e diárias chegaram a R$ 31 mil. Um deles recebeu 8,5 diárias. O custo total da viagem, incluindo o jatinho, chegou a R$ 46 mil.


No primeiro semestre, as viagens do presidente estavam registradas de forma mais explícita no relatório das viagens em “missão oficial”. A partir do segundo semestre, é preciso abrir os relatórios de viagens dos servidores para identificar quais deslocamentos atendem ao presidente. E quase todos esses relatórios estão “pendentes”.


Encontros partidários, visitas e teste positivo

Além de viajar para casa nos finais de semana, o presidente da Câmara também percorreu vários estados durante a pandemia da Covid-19. Alguns encontros não tiveram ligação direta que a sua atividade de presidente. Em 19 de novembro, ele viajou para Fortaleza, onde teve encontro com membros do diretório estadual do DEM. Também visitou o prefeito eleito de Eusébio (CE), Acilon Gonçalves (PL) e o presidente regional do partido, Chiquinho Feitosa. Aproveitou ainda para conversar com o governador Camilo Santana (PT) e o Ciro Gomes (PDT) no Palácio da Abolição.


Em 12 de setembro, Maia esteve em Curitiba para uma reunião com o prefeito Rafael Greca e secretários estaduais sobre a reforma tributária. Quatro dias depois, testou positivo para o novo coronavírus e suspendeu as andanças por três semanas.


No final de julho, visitou o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB). Maia afirmou que estava dialogando com prefeitos e governadores para “ajudar a definir a pauta da Câmara no segundo semestre”. No início de julho, esteve com o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, tratando de ações para o combate ao coronavírus. Mas também aproveitou e visitou o 2º vice-presidente da Câmara, Luciano Bivar (PSL), para tratar de votações na casa.


No dia 9 de março, Maia dividiu um jatinho com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), em viagem para Sãp Paulo, onde participaram do evento de apresentação da programação da CNN. Tóffoli partiu do Rio de Janeiro para o mesmo evento, utilizando mais uma aeronave oficial. Retornou para Brasília no seu jatinho na manhã seguinte. Maia e Alcolumbre voltaram à tarde, novamente juntos.


Esbanjamento em tempos de déficit fiscal

O blog questionou se o presidente da Câmara considera adequados os gastos elevados com viagens num período de déficit fiscal do governo federal e de despesas extras geradas pela epidemia da Covid-19. Maia também foi questionado se os relatórios “pendentes” resultam de uma falha técnica ou têm por objetivo justamente impossibilitar a identificação das despesas com assessores e seguranças em viagens com o presidente. Não houve resposta para nenhum dos questionamentos.


As viagens do presidente da Câmara para casa estão amparadas pelo Decreto 10.267/2020, baixado pelo presidente Jair Bolsonaro em março. O Decreto diz: “Presume-se motivo de segurança”, na utilização de aeronaves do Comando da Aeronáutica, o deslocamento dos presidentes da Câmara, do Senado e do STF “ao local de residência permanente”.



Gazeta do Povo

"Viagens de Alcolumbre custaram R$ 3,7 milhões. Teve até campanha eleitoral", segundo Lúcio Vaz


O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, divulga a entrega de máquinas em Macapá| Foto: Reprodução/Facebook


As viagens do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), pelo Brasil e mundo afora custaram R$ 3,7 milhões nos dois anos no cargo. Metade dos 90 voos foi para Macapá, seu principal reduto eleitoral. Só com jatinhos oficiais foram torrados R$ 2,4 milhões. Houve ainda gastos de R$ 1,3 milhão com diárias e passagens para seguranças e assessores. Ele fez 16 voos de ida e volta para a capital do Amapá durante a campanha do seu irmão, Josiel, para prefeito – uma despesa de R$ 606 mil para o contribuinte.


As viagens para ajudar na campanha foram e 9 de outubro a 21 de dezembro. Nesse período, foram gastos R$ 161 mil com 42 diárias e R$ 40 mil com 34 passagens aéreas para seguranças e assessores. As 42 horas de voo entre Brasília e Macapá custaram R$ 404 mil, considerando o custo da hora/voo. Só a comitiva de oito servidores do Senado em missão oficial de 6 a 17 de novembro resultou numa despesa de R$ 40 mil com 56 diárias e R$ 15 mil com 11 passagens aéreas. Geralmente, assessores e seguranças viajam antes para preparar os eventos do senador. No mesmo período do ano em 2019, Alcolumbre fez apenas cinco voos para Macapá.


Neste ano, dos 36 voos, 30 foram para de ida ou volta para Macapá. O custo dos jatinhos da Força Aérea Brasileira (FAB) chegou a R$ 1 milhão. Mais R$ 507 mil foram gastos com diárias e passagens. Os servidores do Senado que acompanharam o presidente receberam um total de 528 diárias durante o ano. Ele também esteve em Salvador, São Paulo e Manaus. As viagens foram suspensas em abril e maio, quando surgiu a epidemia da Covid-19, e muito reduzidas em junho e julho. Depois, foram retomando o ritmo normal.


"É emenda do Davi", avisa o senador

Quando pode viajar neste ano, Alcolumbre participou de cerimônias de entrega de equipamentos, visitou obras em andamento e participou de festividades no estado. Em 21 de março, entregou 22 veículos para a Guarda Municipal. Em 5 de junho, em cerimônia com alguma aglomeração de pessoas, entregou máquinas pesadas para saneamento e limpeza destinadas a 14 municípios do estado. Em 31 de julho, entregou frota de máquinas para limpeza urbana, obras e agricultura do Amapá. “É emenda do Davi”, postou nas suas redes sociais.


Em 10 de agosto, mostrou obras de drenagem, pavimentação, calçamento, meio-fio e sinalização. No final de agosto tratou de carimbar o seu nome em obra na Rodovia JK: “Com emenda individual de minha autoria, no valor de R$ 6 milhões, será possível realizar toda a recuperação asfáltica e a ciclovia”.


Segundo levantamento feito por Gustavo Ribeiro, em reportagem especial para a Gazeta, Macapá recebeu R$ 334 milhões em verbas federais em 2019. Alcolumbre imaginou que as suas obras ajudariam a eleger o irmão de Josiel (DEM), novato em eleições. Ele até venceu o primeiro turno, mas foi derrotado no segundo pelo candidato Dr. Furlan (Cidadania).


As fabulosas diárias das viagens internacionais

Em 2019, Alcolumbre fez 54 voos em jatinhos da FAB, sendo 18 para Macapá. As despesas com as aeronaves chegaram a R$ 1,4 milhão. As despesas com diárias e passagens somaram R$ 840 mil. O destaque foram as cinco viagens internacionais, que custaram R$ 607 mil com jatinhos, diárias e passagens. O presidente esteve em Nova Iorque, Orlando, Madri e Roma.


Na viagem para Nova Iorque, o senador participou da entrega do Prêmio Pessoa do Ano e de jantar com presidente Jair Bolsonaro, oferecido por empresários americanos. Ele e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foram e voltaram nos mesmos dias, 12 e 16 de maio, mas cada um utilizou o seu jatinho, pago com dinheiro público, é claro. Não foi possível acomodar tantos assessores. Os cinco assessores do Senado receberam 34 diárias no total de R$ 48 mil. Três deles receberam R$ 13,3 mil pela “missão” de oito dias.


Outra viagem bastante farta foi para Roma, onde Alcolumbre integrou a comitiva presidencial à cerimônia de canonização de Irmã Dulce, no Vaticano. Ele viajou no avião do vice-presidente da Repúiblica, Hamilton Mourão. Não houve despesas com jatinho, mas as 33 diárias de cinco assessores custaram R$ 56 mil.


Alcolumbre usou jatinho oficial para prestigiar a Convenção de 40 anos da Associação Brasileira de Distribuidores Honda, em Orlando, na Flórida, no final de novembro. O presidente do Senado foi acompanhado pelos senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Kátia Abreu (PDT-TO). As 17 diárias para quatro servidores custaram R$ 40 mil. Em seguira, seguiu para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 25), em Madri, na Espanha de 6 a 9 de dezembro. Mais 20 diárias no valor de R$ 33 mil.


Com a diária a R$ 1,7 mil, alguns servidores tiveram um bom reforço na remuneração. A secretária especial de Comunicação, Giulia Carrera, foi contemplada com 88 diárias num total R$ 109 mil. A chefe do Cerimonial, Ana Tereza Meirelles, recebeu 58 diárias no valor de R$ 82 mil. Quatro policiais legislativos juntaram R$ 60 mil.


Nas viagens para o Amapá, o festival de visitas a obras em 2019 foi maior do que neste ano. Mesmo no recesso parlamentar, uma viagem custou R$ 78 mil em diárias para servidores. Seis assessores e policiais legislativos ficaram de 13 a 17 dias no Amapá. Eles gastaram mais R$ 7,5 mil em passagens aéreas.


O blog questionou como o presidente justifica os elevados gastos com viagens num período de déficit fiscal do governo federal e, em 2020, durante a epidemia da Covid-19. Também citou as viagens no período em que ele tentava eleger o irmão Josiel na disputa pela Prefeitura de Macapá. Não houve resposta até a publicação da reportagem.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/lucio-vaz/viagens-de-alcolumbre-custaram-r-37-milhoes-teve-ate-campanha-eleitoral.


Lúcio Vaz é jornalista e cobre a política em Brasília há 30 anos, revelando mordomias, privilégios, supersalários, desvios de recursos públicos e negociatas nos três poderes. Com passagens por O Globo, Folha de S. Paulo e Correio Braziliense, ganhou os prêmios Embratel e Latinoamericano de Jornalismo Investigativo ao descobrir a Máfia dos Sanguessugas. Autor dos livros "A Ética da Malandragem - no submundo do Congresso" e "Sanguessugas do Brasil"


Gazeta do Povo

"Auxílio emergencial moveu a economia do Brasil em 2020. O que vem agora?"

 


Movimento no Saara, comércio popular do Rio de Janeiro: auxílio emergencial movimentou economia brasileira em 2020| Foto: Mauro Pimentel/AFP


A economia brasileira em 2020 foi movida, principalmente, a auxílio emergencial e a outras linhas de crédito propostas pelo governo federal para mitigar a crise da Covid-19. Dos quase R$ 575 bilhões do pacote de combate ao coronavírus, cerca de R$ 523 bilhões foram destinados a ações que impulsionaram a atividade econômica de alguma maneira, seja incentivando o consumo ou dando fôlego para empresas se reorganizarem.


Com isso, o tombo do PIB brasileiro em 2020 será muito menor do que o projetado quando a pandemia da Covid-19 começou. O país vinha patinando em sua recuperação e poderia entrar em recessão antes mesmo de ser afetado pela crise sanitária.


O Fundo Monetário Internacional (FMI), por exemplo, chegou a projetar retração de 9,1% em junho, dado que foi revisado para 5,8% em outubro. O mercado financeiro, conforme a mediana das projeções do boletim Focus, do Banco Central, não foi tão negativo: chegou a projetar um recuo de 6,54% em junho, mas agora aposta em retração de 4,4%.


As projeções internacionais foram mais rigorosas, mas não contabilizaram o impacto das medidas do governo. O Brasil literalmente despejou dinheiro público para conter a crise, e terá de lidar com as consequências dessa ampliação do gasto nos próximos ano – sobretudo pelo aumento da dívida pública.


Para analistas ouvidos pela Gazeta do Povo, a economia caminhou melhor que o esperado em 2020 graças ao auxílio emergencial, que teve o reforço das medidas de preservação do emprego e criação de linhas de crédito adicionais. Porém, o fim desses programas em 2020 é um risco para a atividade econômica em 2021, que terá de seguir adiante sem essas muletas.


Economia movida a auxílio emergencial

O resultado do PIB brasileiro em 2020, apesar da retração, acabou “surpreendendo positivamente”, avalia Patricia Krause, economista da Coface para América Latina. “Não foi só, mas o auxílio emergencial foi realmente o principal fator que sustentou a demanda”, disse.


Ela ainda cita como fundamentais a proteção ao mercado de trabalho – com o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, que permitiu a suspensão dos contratos de trabalho e redução de salários e jornadas –, e as medidas de crédito, que deram fôlego a empresas.


A economista Zeina Latif compartilha dessa análise. Para ela, o auxílio emergencial foi o fator-chave, mas não apenas a sua redução de R$ 600 para R$ 300, como também a variação do fluxo dos pagamentos, influenciará o resultado econômico dos últimos meses de 2020.


“O papel do auxílio emergencial é importante pelo seguinte: em um país de renda média e com tanta pobreza, estimular a demanda para consumo das famílias é a coisa mais fácil do mundo, porque tem um tremendo consumo reprimido e o governo colocou um caminhão de dinheiro”, avalia.


Esse impacto no consumo é destacado por Alessandra Ribeiro, sócia-diretora da área de macroeconomia e análise setorial da Tendências Consultoria, que explica a influência maior em alguns setores.


“Isso fica muito evidente na parte dos supermercados, materiais de construção, moveis e eletrodomésticos, que teve um papel superimportante para consumo das famílias, principalmente nas classes D e E. Por isso que a retirada do auxílio, na nossa avaliação, também vai pesar do outro lado”, diz. A perspectiva da consultoria é de que o mercado de trabalho não vai retomar tão rapidamente a ponto de compensar o fim do auxílio.


O professor do Insper Fernando Ribeiro Leite diz que o pacote de apoio a renda e emprego lançado pelo governo brasileiro seguramente foi um dos maiores do mundo, em termos de percentagem do PIB.


“No nordeste, cerca de três quartos dos domicílios sobreviveram por causa da renda. Foi a única que eles tiveram. Foi absolutamente fundamental o auxílio emergencial, num contexto em que o desemprego foi para 14%, e junta mais o desalento… uns 30% da população do país sem renda”, analisa.


A “bênção” das commodities

Apesar de ser o fator principal de impulso da economia brasileira em 2020, o auxílio emergencial não foi o único. A economista Zeina Latif considera que as linhas de crédito funcionaram bem na crise, com boa reação do Banco Central e do setor bancário, apesar de dificuldades atreladas ao fato de muitas empresas não serem bancarizadas, estarem na informalidade e terem dificuldades de acesso a crédito.


Ela também destaca o setor agropecuário e exportador, ainda que não seja um “puxador de PIB”. “O que foi sempre uma preocupação para o Brasil, de ter a pauta muito concentrada em commodities, acabou virando uma bênção. Todo o mundo contraiu exportação, e o Brasil avançou”, diz.


As vendas de minério de ferro e alimentos para a China cresceram, porque o país asiático conseguiu conter o avanço da Covid-19 e fez políticas muito fortes de auxílio a empresas, o que proporcionou uma recuperação em V da economia, na avaliação de Zeina.


Os riscos que rondam o PIB em 2021

A retirada desse pacote robusto de ajuda é uma ameaça para a retomada da economia em 2021. Mas não é a única. Na avaliação de Patricia Krause, da Cofase, há muita incerteza especialmente para o primeiro trimestre de 2021. A retirada do auxílio emergencial, sem um novo programa de assistência social, deve frear o consumo. Mas a questão da vacinação tem influência, principalmente se ocorrer até março.


“Então, no segundo trimestre, isso já poderia ajudar um pouco na recuperação de setores mais afetados, como é o caso de serviços, que é mais restrito por conta do vírus”, avalia. A questão da incerteza fiscal também pesa. “Esperamos que seja mantido o teto de gastos e que fique aprovada no começo do ano a regulamentação dos gatilhos [que limitariam os gastos públicos em caso de descumprimento do teto]. Isso ajudaria também o ambiente econômico”.


Para o professor do Insper Fernando Ribeiro Leite, um problema do país, anterior à pandemia, é a ausência de uma política econômica clara. “É uma falta de sinalização com relação à estabilidade fiscal da economia, as contas públicas, falta de engajamento, organização e proatividade do executivo federal, no sentido de encaminhar propostas, reformas”, diz.


Ele avalia que parte dessa proatividade foi capturada pelo Congresso, mas a pandemia congelou tudo. E isso se reflete no desempenho ruim da economia brasileira que, apesar de todos os problemas, ainda é muito resiliente.


Entre os problemas anteriores e persistentes, a economista Zeina Latif cita a dificuldade de o Brasil estabelecer um debate econômico de qualidade – e a pandemia acabou interditando parte da discussão sobre o quadro fiscal. A experiência da pandemia mostrou que o país se saiu bem onde já tinha alguma expertise, como é o caso das ações de transferência de renda. “Falou-se de esforço de guerra. Não teve. Não teve comitê de crise: teve improviso”, diz.


Para ela, o excesso de despesas decididas no afogadilho da crise, e sem estudos para avaliar o impacto das medidas, reforçam o viés “gastador” do país. “Já estamos falando de ter ambiente macroeconômico mais instável. Quanto vai ter que piorar para lembrar que não pode descuidar do fiscal?”, diz.


Se o país seguir nessa toada e não olhar com um mínimo de zelo para os números das contas públicas, continuará tendo ciclos muito fortes de problemas fiscais e econômicos, porque só piorando muito o cenário é tomada alguma providência para destravar. Um exemplo citado pela economista é a reforma da Previdência, que não reduziu despesa, apenas conteve seu crescimento.


Se o país seguir pelo caminho do aumento de gastos para 2021 – seja com um novo orçamento de guerra, flexibilização da regra do teto de gastos ou aumento dos créditos extraordinários – terá de propor medidas compensatórias. “Precisamos entender que tem de haver uma contrapartida”, diz.


Ela cita como possibilidade uma revisão da proposta de reforma administrativa, que também mude regras para os atuais servidores, ou a aprovação da PEC Emergencial, que possibilite a redução da folha de pessoal: “O Brasil não fez ajuste fiscal ainda. Qualquer gasto que fizer, tem que pensar em contrapartida, nem que seja de médio prazo”.


Nesse sentido, a economista avalia que o papel da política é importante. “A política importa porque precisa ter liderança, e um governo como o Bolsonaro, que não é reformista, atrapalha muito.”


Colaborou Giulia Fontes

Fernanda Trisotto, Gazeta do Povo


Juiz rejeita determinação de Lewandowski e não entrega para a defesa de Lula mensagens roubadas da Lava Jato

 

O ministro Ricardo Lewandowski, em despacho exarado no dia 28 de dezembro, deu 10 dias para que a 10ª Vara Federal em Brasília compartilhe com a defesa de Lula todas as mensagens hackeadas da força-tarefa da Lava Jato que digam respeito ao ex-presidente e ex-presidiário.

O juiz federal Waldemar Claudio de Carvalho, responsável pelo plantão da 10ª Vara Federal de Brasília, rejeitou a ordem de Lewandowski.

Para o magistrado, durante o regime de plantão, não há como atender à determinação do ministro.

O Ministério Público Federal afirmou que a medida exige “providências e zelo” inviáveis no plantão, explicou o juiz.

Nesta quinta-feira, em pleno dia 31 de dezembro, o ministro, insatisfeito com decisão do juiz, reiterou a ordem.

“Não se afigura cabível submeter a entrega dos elementos de prova já coligidos a uma espécie de escrutínio por parte do Ministério Público, deixando à discrição destes aquilo que pode ou não ser conhecido pelo ora peticionante. Reforço, assim, que a decisão proferida no dia 28/12/2020 deve ser cumprida independentemente de prévia intimação ou manifestação do MPF, sobretudo para impedir que venham a obstar ou dificultar o fornecimento dos elementos de prova cujo acesso o STF autorizou à defesa do reclamante”, pontuou Lewandowski.

O juiz afirmou ainda que não há “urgência ou excepcionalidade” e que o material poderá ser liberado a partir do próximo dia 7, quando termina o plantão e reassume a vara o juiz Ricardo Leite, titular do caso.

De fato, a pressa do ministro é absolutamente estranha, sem qualquer cabimento e injustificável.

Vamos aguardar o desfecho.

Jornal da Cidade

Em situação desesperadora, Globo tem pior ibope da história em sua Retrospectiva 2020

 

Com a missão de relembrar os principais acontecimentos de um ano trágico, a Retrospectiva 2020 da emissora marcou seu pior ibope da história. Um monumental fracasso.

Com bastante destaque para a pandemia da Covid-19, o programa tradicional da emissora registrou 16,7 pontos de audiência na Grande São Paulo, ficando atrás da edição de 2019, quando já tinha registrado seu índice mais baixo (18,6)

Apresentado por Sandra Annemberg e Glória Maria, a Retrospectiva 2020 até ganhou o reforço de cinco episódios no Globoplay para dar conta de falar sobre os fatos ocorridos no Brasil e no mundo nos últimos 12 meses. Não deu certo.

O índice mais baixo havia sido registrado em 2019, quando o programa marcou 18,6 pontos.

A audiência da Retrospectiva 2020 representa a terceira queda seguida do formato, já que em 2018 o programa tradicional da emissora alcançou 18,8 pontos.

Jornal da Cidade

Contra a “Mídia do Ódio”, Ordem dos Jornalistas do Brasil repudia discriminação a jornalistas que atuam nas redes sociais

 

Para a instituição, o surgimento desses modernos meios de comunicação tem um saldo muito positivo, uma vez que abriu novas oportunidades de trabalho para todas as pessoas que atuam no jornalismo brasileiro.

Segundo a nota pública, quem ganha mais com a ampliação dos canais de jornalismo é o próprio consumidor da informação; já que uma maior concorrência pela audiência tende a elevar a qualidade das coberturas jornalísticas, além de possibilitar uma maior pluralidade de ideias no debate público.

“Quem mais ganha com isso é o consumidor de informação que, agora, tem mais opções de escolha sobre o produto jornalístico que irá consumir”, explica o documento.

É notório, porém, que alguns veículos da imprensa tradicional persistem em discriminar jornalistas independentes, que encontram nas mídias sociais modernas o exercício livre da profissão. Essa perseguição é bastante evidenciada quando a grande mídia tenta assassinar a reputação e credibilidade de um jornalista diplomado, chamando-o consecutivas vezes de “blogueiro” ou “youtuber”, termos usados com conotação pejorativa, para desqualificação do colega de profissão.

A nota afirma ainda que vários jornalistas profissionais atuam nas mídias sociais e praticam o bom jornalismo informativo e investigativo, com a devida apuração de fatos.

“Possuem fontes junto a governos, empresas e instituições e produzem conteúdo de qualidade, de forma independente, tanto quanto colegas que atuam na imprensa tradicional seriam capazes de fazer”, explica.

Não obstante a discriminação figurar como um ato de desigualdade, veículos da grande imprensa também são, flagrantemente, seletivos, “pois vários jornalistas que trabalham para esses mesmos veículos tradicionais também possuem seus perfis pessoais em redes sociais, blogs, sites de vídeo etc..”

“Estes colegas, porém, nunca foram discriminados e tratados com expressões depreciativas pelos veículos em que trabalham. Muito embora, façam nas redes sociais a mesma coisa que os colegas discriminados estão realizando”, diz a Nota.

A Ordem dos Jornalistas garante que um outro aspecto desta ação difamatória é a tentativa de manutenção do oligopólio pelas grandes empresas de comunicação sob o aspecto econômico e, principalmente, da circulação de informações e do direcionamento do debate público.

“O oligopólio da grande imprensa não pode ser a instância máxima a decidir sobre o reconhecimento ou não de um colega como membro da comunidade jornalística”, avalia a entidade, concluindo que “o jornalismo precisa olhar para frente, modernizar-se e ser inclusivo”.

Leia abaixo a íntegra da nota:

A Ordem dos Jornalistas do Brasil manifesta-se publicamente em defesa dos colegas jornalistas que atuam em mídias sociais modernas, como blogs, redes sociais, sites e canais de vídeo na internet, bem como em demais veículos de comunicação alternativos. O surgimento desses modernos canais de comunicação abriu novas oportunidades de trabalho para todas as pessoas que atuam no jornalismo brasileiro.
A ampliação dos canais de jornalismo trouxe uma maior concorrência pela audiência, o que tende a elevar a qualidade das coberturas jornalísticas, além de possibilitar uma maior pluralidade de ideias no debate público. Quem mais ganha com isso é o consumidor de informação, que agora tem mais opções de escolha sobre o produto jornalístico que irá consumir.
Porém, alguns veículos da grande imprensa tradicional insistem em discriminar jornalistas independentes, que encontram nas mídias sociais modernas o seu meio de exercício da profissão. Essa discriminação passa por chamar colegas jornalistas de “blogueiros” ou “youtubers”, termos usados com conotação pejorativa, desqualificando colegas de profissão.
Vários jornalistas que atuam nas mídias sociais praticam o bom jornalismo informativo e investigativo, com a devida apuração de fatos, possuem suas fontes junto a governos, empresas e instituições, e produzem conteúdo de qualidade, de forma independente, tanto quanto colegas que atuam na imprensa tradicional seriam capazes de fazer.
Como toda forma de discriminação, esta agora praticada por alguns veículos da grande imprensa também é flagrantemente seletiva, pois vários jornalistas que trabalham para esses mesmos veículos tradicionais também possuem seus perfis pessoais em redes sociais, blogs, sites de vídeo etc., e também exercem o jornalismo nesses canais. Estes colegas, porém, nunca foram discriminados e tratados com expressões depreciativas pelos veículos em que trabalham, muito embora façam nas redes sociais a mesma coisa que os colegas agora discriminados estão realizando.
Outro aspecto desta ação discriminatória é a tentativa de manutenção do oligopólio das grandes empresas de mídia, que sempre controlaram o mercado jornalístico não só sob o aspecto econômico-concorrencial, mas principalmente da circulação de informações e do direcionamento do debate público. O crescimento da audiência dos novos canais de jornalismo revela a qualidade do conteúdo produzido pelos jornalistas que neles atuam, representando assim um risco a esse oligopólio, que não hesita em lançar mão de práticas anticoncorrenciais desleais, antiéticas e reprováveis. A quebra desse oligopólio trará mais e melhores oportunidades de trabalho para jornalistas e conteúdos de melhor qualidade para o público consumidor.
O oligopólio da grande imprensa não pode ser a instância máxima a decidir sobre o reconhecimento ou não de um colega do como membro da comunidade jornalística. É preciso olhar para o futuro, aceitar a realidade do século XXI e ocupar os novos espaços de jornalismo abertos pelas modernas tecnologias, pois isto certamente fará bem à classe jornalística como um todo.
Na contramão da história, a visão arcaica de querer deslegitimar o jornalismo praticado nas novas mídias sociais se assemelha à ação de taxistas contra a concorrência dos modernos aplicativos de transporte. O jornalismo precisa olhar para frente, modernizar-se e ser inclusivo.

Jornal da Cidade

Congresso deve “cortar asas” da intromissão do STF em outros poderes

 


Seja qual for o resultado da disputa pelos comandos da Câmara e do Senado, o ano de 2021 deve ser marcado pela reação do Legislativo às frequentes intromissões do Supremo Tribunal Federal (STF) nos outros poderes, até em decisões monocráticas. Uma proposta de emenda constitucional deve reforçar a “autonomia e harmonia” entre os poderes e impor limites ao STF. 

Chamam atenção os sinais de “parceria” entre o partido Rede e o STF, impondo ações ao Executivo e ao Legislativo, mostrando que a rigor não é necessário disputar eleição para governar. 

Só em 2020 uma dúzia de atos do Executivo e decisões privativas do Congresso foram determinados ou anulados pela parceria Rede/STF.

Rejeitado nas urnas em 2018, quando elegeu um deputado federal e dois senadores, o Rede impõe o quer como se tivesse vencido a eleição.


A decisão monocrática do ministro Ricardo Lewandowski prorrogando o estado de calamidade conseguiu desagradar até a oposição a Bolsonaro.A decisão mais recente da parceria Rede/STF prorroga o “estado de calamidade”, que permite compras públicas sem licitação. Humm…

A informação é da Coluna Cláudio Humberto, do Diário do Poder.