sábado, 13 de setembro de 2025

O assassinato de Charlie Kirk e a consciência pneumopatológica

 Portador do que eu chamo de 'síndrome de Raskolnikov', o assassino acreditou ter um 'direito ao crime'


Um manifestante segura um cartaz do ativista conservador Charlie Kirk, em Houston, Texas - 11/10/2025 | Foto: Antranik Tavitian/Reuters


O covarde assassin ato de Charlie Kirk é produto daqueli que o folósofo Eric Voegelin chamoude consciência 'pneumopatológica' — uma consciência formada pelo adoecimento do espírito, fenômeno bastante característico das ideologias políticas modernas e, em particular, da ideologia da esquerda contemporânea. 

Sublinhe-se: o autor fala em pneumopatologia, e não em psicopatologia. Trata-se de uma doença espiritual, não de uma doença mental. A parte humana aqui atingida é o “espírito” (pneuma), não a “alma” ou a “mente” (psyche). Enquanto a psyche diz respeito ao domínio interior da mente humana, o pneuma é, por assim dizer, o “órgão” que estabelece a comunicação entre a alma individual e a realidade transcendente. 

Nas palavras do autor: 

“Em contraste com a estupidez simples, temos agora de distinguir a estupidez elevada ou inteligente (…) A estupidez elevada ou inteligente é um distúrbio no equilíbrio do espírito. O espírito agora se torna o adversário, não a mente. Não é um defeito da mente (…), mas um defeito do espírito, uma revolta contra o espírito (…) Schelling já empregou a expressão ‘pneumopatologia’ para distúrbios espirituais desse tipo. Isso significa que o espírito está doente, não a alma no sentido da psicopatologia.” 




A “doença” que matou Charlie Kirk 

Mas qual seria, afinal, essa doença do espírito? De acordo com a antropologia filosófica clássica e judaico-cristã, o homem é uma criatura situada a meio caminho (metaxy, na terminologia platônica) entre a tr“

A existência tem a estrutura do Entre, do metaxy platônico, e, se algo é constante na história da humanidade, é a linguagem da tensão entre vida e morte, imortalidade e mortalidade, perfeição e imperfeição, tempo e eternidade, entre ordem e desordem, verdade e falsidade, sentido e falta de sentido da existência; entre o amor Dei e o amor sui, l’âme ouverte e l’âme close; entre as virtudes de abertura para o fundamento do ser, como a fé, o amor e a esperança, e os vícios do fechamento progressivo, como a hybris e a revolta; entre os humores de alegria e desespero; e a alienação em seu duplo sentido: alienação do mundo e alienação de Deus.”anscendência e a imanência ou, em linguagem aristotélica, entre Deus e as bestas. Diz Voegelin:

A consciência humana saudável é aquela que reconhece e aceita essa existência-em-tensão, tomando-a como ponto de partida para a compreensão da realidade circundante e de seu próprio lugar na ordem das coisas. A consciência pneumopatológica exaspera-se com essa realidade da condição humana, daí que o seu portador passe a vida inteira numa existência-em-revolta. 




O gnosticismo Essa “existência-em-revolta” manifesta-se historicamente sob várias formas. Por exemplo, no antigo gnosticismo, o mundo e o corpo eram considerados prisões criadas de forma demoníaca, que restringem a centelha divina na humanidade. Nas filosofias modernas, essas tensões decorrentes da condição fundamentalmente ambígua do ser humano deram origem às tentativas de divinizar o homem (comtismo, marxismo, nietzscheanismo) ou para explicar a humanidade unicamente em termos de animalidade (darwinismo), ou para explicar Deus como uma projeção da psique humana (feuerbachismo, freudismo). Seja como for, todas essas manifestações da revolta baseiam-se na mesma negação original da ordem da realidade e da condição humana, uma negação advinda daquilo que os antigos gregos chamavam de hybris (arrogância) e os cristãos chamam de o pecado do orgulho.




O assassino de Charles Kirk foi criado num ambiente em que as pneumopatologias se converteram em doutrinas e agendas políticas. Sua existência-em-revolta, incentivada por uma cultura política de esquerda cuja meta é a destruição do mundo atual para a construção ex nihilo do novo mundo da utopia, levou-o a odiar todos os obstáculos à instauração da “segunda realidade” por ele imaginada. 

Portador do que eu chamo de “síndrome de Raskolnikov”, o sujeito acreditou ter um “direito ao crime”. O famoso assassino de Crime e Castigo, de Dostoievski, acreditava ter matado não uma pessoa, mas um princípio. Assim também, para o assassino de Utah, bem como para todos os dementes esquerdistas que, doutrinados por uma desumanização midiática incessante, celebraram a morte do influencer conservador Charlie Kirk, não era uma pessoa, mas um princípio cuja remoção é necessária para pavimentar o caminho do “mundo melhor”. 

Flávio Gordon - Revista Oeste