Para os EUA, esse momento transcende as fronteiras brasileiras, emergindo como um alarmante sinal de um padrão global de perseguição política que expõe a vulnerabilidade da democracia perante um poder judicial corrompido
O mundo nunca mais foi o mesmo após o 11 de setembro de 2001, quando ataques terroristas abalaram os Estados Unidos, deixando cicatrizes permanentes e redefinindo a segurança global. Aquele dia sombrio, marcado pelo colapso das Torres Gêmeas e pela destruição no Pentágono, transformou para sempre a nação americana, impregnando-a com uma mistura de resiliência e desconfiança.
Agora, 24 anos depois, o Brasil parece destinado a inscrever em suas próprias páginas escuras um novo 11 de setembro — não com aviões e explosões, mas com o completo desvirtuamento dos pilares democráticos de sua República. Que constem nos autos: na noite de 11 de setembro de 2025, a Suprema Corte do Brasil condenou o expresidente Jair Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão por ter ousado ser uma voz dissidente do sistema — um veredito que muitos americanos veem como uma afronta à Justiça e um reflexo de tribunais de exceção que ecoam as eras mais sombrias da humanidade.
Para os Estados Unidos, esse momento transcende as fronteiras brasileiras, emergindo como um alarmante sinal de um padrão global de perseguição política que expõe a vulnerabilidade da democracia perante um Poder Judiciário corrompido.
As cenas do julgamento de Bolsonaro, marcado por uma imparcialidade duvidosa e decisões predeterminadas, ressoaram profundamente entre os americanos, evocando os desafios enfrentados por Donald Trump em seus próprios embates legais e persecutórios. A semelhança entre as duas situações — acusações amplamente percebidas como politicamente motivadas, processos conduzidos por figuras com conflitos de interesse e a ausência de um devido processo robusto — é evidente, mas os americanos destacam que as instituições de seu país, especialmente a Suprema Corte, funcionam como projetadas, servindo como uma barreira que impediu que a perseguição a Trump atingisse os mesmos extremos vistos no Brasil. Esse contraste reforça a apreensão de que o caso Bolsonaro é um prenúncio do que pode acontecer quando os freios e contrapesos democráticos são solapados por ativismo com fantasia de toga.
Ao término do que parecia o “chá das cinco” da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), uma sessão marcada por risadas, piadas e elogios mútuos entre os juízes que julgavam os réus, autoridades americanas, em uma rara demonstração de solidariedade transatlântica, tomaram a rede X para denunciar o que chamam de “caça às bruxas” e “perseguição política”. O tom festivo da corte brasileira, contrastando com a gravidade das acusações, alimentou a percepção nos EUA de um tribunal desprovido de seriedade ou imparcialidade, evocando memórias de julgamentos manipulados das eras mais sombrias da humanidade.
Desde a carta de Donald Trump de 9 de julho de 2025, na qual impôs tarifas de 50% ao Brasil e acusou o país de conduzir uma “perseguição política” contra Bolsonaro, os americanos passaram a ver o STF como um tribunal de exceção, como reminiscentes de processos stalinistas ou da Inquisição, onde a lei foi distorcida para servir a interesses políticos. Essa indignação, amplificada novamente essa semana por figuras como Marco Rubio e Jason Miller, reflete uma determinação de transformar o caso em um símbolo global da luta contra a corrupção judicial.
O contexto do julgamento: uma perspectiva americana
Para o governo de Trump, o julgamento de Bolsonaro é visto por muitos como um espelho distorcido das batalhas legais enfrentadas por Trump depois das eleições de 2020. A percepção é que o STF, liderado pelo juiz Alexandre de Moraes, agiu como um tribunal de exceção, ignorando evidências e o devido processo legal para eliminar um líder político inconveniente. A condenação, baseada em acusações vazias, e até toscas, de tentativa de golpe, conspiração armada e danos ao patrimônio nacional, é vista como politicamente motivada, especialmente considerando que Bolsonaro estava fora do Brasil durante os eventos de 8 de janeiro de 2023, quando vândalos invadiram prédios do governo em Brasília.
Para os americanos, o papel de Moraes como juiz e suposto alvo de um plano de assassinato levanta sérias questões sobre imparcialidade. A presença de juízes como Cristiano Zanin, ex-advogado de Lula, e Flávio Dino, ex-ministro da Justiça de Lula, no painel que condenou Bolsonaro, reforça a percepção de um importante conflito de interesses. Essa visão é amplificada pela ausência de um recurso a uma Corte superior, um princípio fundamental do sistema jurídico americano que muitos veem como ausente no Brasil.
Jason Miller: uma denúncia passional
Jason Miller, estrategista político e assessor de Trump, foi uma das vozes mais expressivas no X logo após a declaração de culpa de Jair Bolsonaro. Em uma thread extensa, Miller descreveu o veredito como “uma completa desgraça para os ideais de democracia e justiça judicial”, uma condenação veemente do que ele considera uma farsa judicial. Ele acusou Alexandre de Moraes de orquestrar uma perseguição política, sugerindo que o objetivo era “ver Bolsonaro morrer na prisão”, uma acusação que reflete a percepção americana de uma sentença desproporcional e politicamente motivada.
Miller comparou o caso a uma “caça às bruxas” semelhante às ações contra Trump, destacando a falta de evidências diretas ligando Bolsonaro aos protestos de 8 de janeiro de 2023, quando ele já havia deixado o cargo e o país. Ele apontou conflitos de interesse claros, como o fato de três dos cinco juízes terem vínculos profundos com Lula, e criticou a ausência de apelação a uma corte superior. Sua promessa de “nunca ficar em silêncio” e de responsabilizar os juízes “todos os dias pelo resto de suas vidas miseráveis” reflete uma determinação americana de transformar o caso em uma causa global, ecoando a retórica de resistência que marcou o movimento Trump.
María Elvira Salazar: uma voz do Congresso
A congressista republicana María Elvira Salazar, co-autora da lei que proíbe censores em solo americano, também se manifestou minutos depois do veredito, condenando o desfecho dado a Bolsonaro como “um ataque à democracia brasileira”. Representando um distrito na Flórida com uma significativa comunidade latino-americana, Salazar destacou o papel de Moraes como “um ditador com toga”, sugerindo que o STF agiu como uma ferramenta de repressão política. Sua crítica reflete a preocupação de muitos americanos de origem latina com o que percebem como um retrocesso democrático no Brasil, um país com o qual compartilham laços culturais e históricos.
Marco Rubio: a dura resposta oficial
Já o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, emitiu uma declaração explosiva pelo perfil oficial do departamento na rede X, chamando a condenação de “perseguição política” perpetrada por um “abusador de direitos humanos sancionado, Alexandre de Moraes”, uma acusação que não deixa margem para meias-palavras.
Rubio prometeu que “os Estados Unidos responderão de acordo com essa caça às bruxas”, deixando no ar a ameaça de sanções mais duras, medidas diplomáticas retaliatórias ou até mesmo uma reavaliação das relações com o Brasil, sinalizando uma guerra aberta contra o que considera uma afronta à justiça.
Essa postura oficial não apenas eleva o caso a um nível de política externa de alto risco, mas também posiciona a administração Trump como uma defensora implacável dos valores democráticos compartilhados e denuncia o STF como uma máquina de opressão disfarçada de tribunal, alertando que tais abusos não serão tolerados. A retórica de Rubio, respaldada por sanções anteriores contra Moraes e tarifas de 50% impostas ao Brasil, reflete a determinação americana de transformar essa injustiça em um ponto de inflexão nas relações internacionais, colocando o peso da superpotência contra o que chama de “tirania judicial”.
Darren Beattie: uma análise direta
Darren Beattie, ex-assessor de Trump e agora subsecretário para assuntos do Hemisfério Ocidental no Departamento de Estado, fez uma análise mais detalhada em um post logo depois do 7 de Setembro, mas ainda relevante para o contexto do julgamento. Ele descreveu a chicana como “um show de horrores judiciais”, comparando-o a processos stalinistas onde a culpa é predeterminada. Beattie argumentou que a condenação de Bolsonaro, sem provas concretas, é um precedente perigoso que pode inspirar ações semelhantes contra líderes conservadores em todo o mundo, incluindo os EUA.
Ecos de páginas sombrias
Para os americanos que acompanham o caso, o julgamento de Bolsonaro ressoa como um eco sinistro dos tribunais de exceção que mancharam a história da humanidade, evocando os horrores da Inquisição, os julgamentos de Moscou sob Stalin e os tribunais de guerra nazistas que condenavam inocentes em nome do poder absoluto.
Esses tribunais, historicamente, pisoteavam o devido processo legal, erguiam-se sobre acusações fabricadas e funcionavam como instrumentos brutais de opressão política, uma realidade que os Estados Unidos, como líderes na guerra contra o nazismo e defensores da liberdade, conhecem profundamente — suas comparações não são meras retóricas vazias, mas um grito de alerta baseado em lições duramente aprendidas.
A percepção de que Alexandre de Moraes e o Supremo Tribunal Federal (STF) agiram como um “tribunal de exceção” tornou-se o cerne da narrativa americana, amplificada pela ausência total de evidências diretas contra Bolsonaro, pela coerção escandalosa de testemunhas — admitida em gravações que expõem ameaças a suas famílias — e pelo papel de juízes com conflitos de interesse gritantes, como Cristiano Zanin e Flávio Dino, cujas ligações com Lula transformam o julgamento em uma farsa judicial. Essa analogia não é apenas um reflexo de indignação, mas um chamado à ação contra um precedente que ameaça a democracia global.
O julgamento de Jair Bolsonaro, sob a ótica americana, transcende o status de um evento isolado; é um símbolo poderoso de uma luta mais ampla contra tribunais de exceção e perseguições políticas que ameaçam os alicerces da liberdade. As vozes de Jason Miller, María Elvira Salazar, Marco Rubio e Darren Beattie formam uma coalizão de indignação que transcende fronteiras e une conservadores em uma causa comum, que ressoa desde os corredores de Washington até os rincões do movimento global de direita.
O 11 de setembro de 2001 transformou os Estados Unidos, deixando
cicatrizes que forjaram uma nação resiliente diante de ataques que
abalaram os alicerces da segurança no país. O julgamento de
Bolsonaro em 11 de setembro de 2025 traz ecos sombrios com a erosão da democracia por tribunais de exceção — a lei sendo
pervertida para servir aos caprichos do poder.
Enquanto os Estados Unidos, guiados por lições de seu passado, veem
no caso um alerta vermelho, o Brasil enfrenta um teste crucial. Sob o
olhar atento dos “irmãos do Norte”, esse divisor de águas desafia o
mundo a defender a liberdade contra a tirania judicial, reafirmando
que, assim como em 2001, a resposta à escuridão deve ser uma união
sem precedentes pela Justiça.
Amna Paula Henkel - Revista Oeste