sábado, 20 de dezembro de 2025

Com Lulinha, filho do ex-presidiário, PF deve chegar ao núcleo do governo no roubo aos aposentados

 

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr)


A oposição não tem dúvidas de que a recente fase da Operação Sem Desconto, que enrolou Fábio Luiz Lula da Silva, o Lulinha – filho do presidente Lula; Roberta Luchsinger, amiga de Lulinha; e Weverton Rocha (PDT-MA), vice-líder de Lula no Senado; coloca de vez as investigações no cerne do governo petista. “Fica evidente que as investigações se aproximam do núcleo duro do governo. Esse roteiro não é novidade”, afirma o deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS).

Tem que explicar

Os citados entraram na mira da CPMI que apura a ladroagem no INSS, o relator, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), pediu a convocação.

Batom na cueca

Mensagens com referência a Lulinha “são provas de que o filho de Lula está implicado neste escândalo”, conclui Marcel van Hatten (Novo-SC).

Pega geral

Zucco (PL-RS) também cobra que a CPMI avance sobre Weverton, Lulinha e cia. Capitão Alden (PL-BA) vai no mesmo sentido.

Questão familiar

“Vai chegar no núcleo mais íntimo do presidente”, diz Rodrigo da Zaeli (PL-MT) e cita o filho e nora de Lula. Mas alerta para blindagem no STF.

Diário do Poder

“Branchieri detona o sistema: ‘No Brasil, quem rouba bilhões está salvo’”

Branca Nunes traz os destaques da edição 301 da Revista Oeste

Escândalo de corrupção atinge o coração do STF - por Bárbara do 'Te Atualizei'

sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

OESTE SEM FILTRO

Empresa Brasileira da Companheirada (EBC), por Anderson Scardoelli

Inventada por Lula em 2008, EBC aumenta gastos e se torna o local de trabalho para “companheiros” do PT


Juca Kfouri, José Trajano e Andre Basbaum | Foto: Montagem Revista Oeste/Agência Brasil/Reprodução/Redes Sociais 


O governo Lula é um oásis para a companheirada. A gestão petista transformou-se em cabide de empregos para figurantes habituados a serem rejeitados pelos eleitores. A sanha em acomodar aliados fez a inflada e ineficiente máquina pública federal saltar de 23 ministérios da gestão do expresidente Jair Bolsonaro para os atuais 38. As benesses não ficam restritas ao meio político. Jornalistas elogiosos à administração lulopetista têm espaço exclusivo no sistema. Para abrigar esses aliados, há a Empresa Brasil de Comunicação (EBC). 

Bancada pelos pagadores de impostos, a EBC passou a ser o abrigo profissional de Juca Kfouri e José Trajano. No início do mês, eles foram apresentados como os mais novos integrantes da TV Brasil, uma das divisões da empresa. Em 2026, os dois e Lúcio de Castro terão um programa esportivo na emissora reconhecida pela ausência de audiência e por ser jocosamente apelidada de “TV Lula”. 

Símbolos dos profissionais almejados pela EBC, Kfouri e Trajano têm um ponto em comum: ambos usam o termo “genocida” ao se referir a Bolsonaro. Demitido em novembro do jornal Folha de S. Paulo, Kfouri coleciona polêmicas — sempre em sintonia com o que prega a esquerda brasileira. Para ficarmos em somente duas das mais recentes: em setembro, pregou o banimento de Israel das competições esportivas internacionais, referiu-se à nação judaica como “Estado terrorista de Netanyahu” e comparou a operação israelense contra o Hamas ao nazismo; há duas semanas, elogiou o decano do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, que decidiu monocraticamente limitar a formulação de pedidos de impeachment contra ministros da Corte à Procuradoria-Geral da República e acusou o Poder Legislativo de tentar aplicar um “golpe contra a democracia”.


Da cadeirada à “TV Lula” 

As contratações da EBC em dezembro foram além de Kfouri, Trajano e Castro. A empresa também divulgou que, em 2026, o apresentador José Luiz Datena terá um programa que será transmitido pela Rádio Nacional e pela TV Brasil. Assim como no caso envolvendo o projeto do trio de jornalistas esportivos, a empresa ainda não tornou público o salário a ser pago a Datena. 

Ex-apresentador do Cidade Alerta, na Record, e do Brasil Urgente, na Band, Datena se destacou pela última vez de forma negativa. Candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PSDB em 2024, virou notícia ao arremessar uma cadeira contra Pablo Marçal (PRTB) durante debate realizado pela TV Cultura. Depois, ao voltar à imprensa, fracassou em audiência tanto no SBT quanto na RedeTV.

Apesar de ter se aventurado na política pelo PSDB, o apresentador foi filiado ao PT durante 21 anos. Mesmo em meio à temporada como tucano, elogiou Lula e chegou a dizer que o petista fez um governo “muito melhor” que o de Bolsonaro. Resultado: comunicador e presidente da República trocaram afagos e sorriram para as câmeras ao divulgarem o acerto com a EBC.


Lula e Datena trocaram afagos durante a apresentação | Foto: Ricardo Stuckert/PR 


Ex-Globo no comando 

José Luiz Datena, Juca Kfouri, José Trajano e Lúcio de Castro são contratações sob a gestão do jornalista André Basbaum. Ele assumiu o cargo de diretor-presidente da EBC em agosto. Antes de chegar ao posto, para o qual o salário é superior a R$ 30 mil, foi editor de economia do Jornal Nacional, da Rede Globo. Também passou por emissoras como Band, Record e SBT, exercendo funções de edição e direção. 

Com Basbaum na presidência, a EBC também deu espaço para Cristina Serra. Ex-repórter da Globo e ex-colunista da Folha, ela comanda, desde novembro, o dominical Brasil no Mundo. O programa conta com as participações de Jamil Chade e Yan Boechat. Assim como Kfouri e Trajano, ela se orgulha da forma com que se refere ao antecessor de Lula à frente do Palácio do Planalto. E foi além: chegou a acusar Bolsonaro de ser “terrorista”. “Já chamei Bolsonaro de muita coisa: genocida, ecocida, sabotador-geral da República, agente de infecção, parceiro do vírus, arruaceiro”, escreveu Cristina em setembro de 2021, no início de artigo publicado pela Folha, jornal onde seguiu como colunista até março de 2023. “De fato, ele é tudo isso. Mas o qualificativo que melhor o define é terrorista.” 



Diretor-presidente da EBC desde agosto, o jornalista André Basbaum posa ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministrochefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Sidônio Palmeira - Foto: Ricardo Stuckert/PR


A presença na EBC de profissionais que fazem proselitismo político gera desconfiança até de quem tem experiência na imprensa. Deputada federal pelo Partido Liberal de São Paulo e jornalista por formação, tendo trabalhado por 25 anos na afiliada da Globo na Baixada Santista, Rosana Valle avalia que a Empresa Brasil de Comunicação, que deveria zelar pela isenção e pela prestação de serviços, acaba por desviar de seu foco. “Comunicação pública existe para informar, educar e garantir pluralidade, não para fazer militância”, observa. 

“A EBC é financiada com o dinheiro de todos os brasileiros, por isso, precisa manter equilíbrio editorial. Quando contrata nomes conhecidos pelo engajamento político-partidário, especialmente por ataques a figuras públicas, a empresa se afasta da função institucional e reforça um viés que não condiz com o caráter público que deveria ter.”


A EBC virou símbolo de fracasso de audiência, mas com estrondoso orçamento, sobretudo para bancar salários de colegas e admiradores do regime lulopetista.


Atual vice-prefeito de Curitiba e ex-deputado federal pelo Paraná, Paulo Eduardo Martins (Novo) é outro político oriundo do jornalismo a criticar a existência da EBC. Para ele, que foi comentarista da afiliada paranaense do SBT no início dos anos 2010, a empresa tem como única serventia abrigar defensores do governo de plantão. “É mais uma estatal para amparar a companheirada”, disse Martins, em entrevista ao programa Arena Oeste. “Ela já deveria ter sido fechada.”


Na conta dos pagadores de impostos 

Outros jornalistas tidos como “progressistas” ganharam vez na EBC antes de Basbaum assumir a presidência. Que o diga Leandro Demori. Ex-Intercept Brasil, onde publicou o material da “Vaza Jato”, está na empresa pública desde 2023. O contrato em vigor lhe garante mais de R$ 35 mil por mês, sendo que ele apresenta um programa semanal de entrevistas que mais parece propaganda da base aliada de Lula. A lista de convidados conta com figuras como Gilmar Mendes, a deputada federal Erika Hilton (Psol-SP), o eterno líder do MTST e agora ministro Guilherme Boulos, o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), o exministro José Dirceu, o cantor Nasi e o presidente nacional do PT, Edinho Silva.

Ex-repórter do Vídeo Show, Cissa Guimarães é mais uma exfuncionária da Globo acolhida pela EBC. Desde o início do ano passado, ela apresenta o Sem Censura. E os números deixam a meritocracia de lado. Apesar de o programa dar traço de audiência — como todos os programas da TV Lula —, ela recebeu aumento. O contrato inicial previa pagamento mensal de R$ 70 mil, mas o valor subiu para R$ 100 mil no meio deste ano. A empresa ainda banca R$ 16 mil para o maquiador da apresentadora. No último fim de semana, Cissa foi às ruas em Copacabana gritar “sem anistia” e pedir “fora, Hugo Motta”, em razão de o presidente da Câmara ter pautado o Projeto de Lei da Dosimetria.

Demori e Cissa são partes de uma operação que beira a casa do bilhão anualmente. Conforme o Portal da Transparência, o governo federal vai gastar cerca de R$ 870 milhões com a EBC em 2025. Nos dois anos anteriores, já na gestão Lula, os gastos foram similares: R$ 898 milhões em 2024 e R$ 840 milhões em 2023. Cifras que representam um aumento de ao menos 25% no comparativo com o orçamento destinado à empresa nos dois últimos anos da administração Bolsonaro — R$ 683 milhões (2021) e R$ 676 milhões (2022). 

Doutor em economia aplicada e economista-chefe do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, Izak Carlos Silva afirma que os gastos com a EBC ajudam a demonstrar o desprezo do governo petista pelo ajuste fiscal. Ele é mais um a acreditar que a Empresa Brasil de Comunicação deveria ser extinta. “Não faz sentido econômico, fiscal nem institucional. Em um país que convive com déficit estrutural, dívida em trajetória crescente e compressão dos investimentos essenciais, gastar mais de R$ 800 milhões por ano com uma empresa estatal de comunicação é um exemplo claro de má alocação de recursos públicos”, avalia Izak, que é especialista do Instituto Millenium. “Ainda que o valor seja pequeno quando comparado ao orçamento total da União, ele é desmedido diante das dificuldades fiscais reais do governo. Em um cenário de restrição orçamentária, o princípio deveria ser gastar melhor, não apenas gastar menos. E a EBC simboliza exatamente o oposto: gasto de baixa qualidade, baixa efetividade e retorno social praticamente nulo.” 

De acordo com Izak, “há ainda um princípio político simples e conhecido: governos que investem demais em comunicação geralmente têm pouco a mostrar e muito a convencer. Não há racionalidade em manter uma estrutura estatal cara apenas para veicular comunicação governamental. O setor privado faz isso melhor,  com mais eficiência, com custos menores e submetido à concorrência real. O gasto com a EBC não é apenas alto — ele é mal direcionado.”

Criada oficialmente em abril de 2008, quando Lula estava em seu segundo mandato como presidente da República e tinha como conselheiro e ministro de Comunicação Social o ex-guerrilheiro Franklin Martins, que fez carreira como comentarista político na Globo, a EBC virou símbolo de fracasso de audiência, mas com um orçamento estrondoso, sobretudo para bancar salários de colegas e admiradores do regime lulopetista. Na prática, as decisões e o histórico recente de contratações revelam outro significado da sigla: Empresa Brasileira da Companheirada.


Anderson Scardoelli - Revista Oeste

Espetáculo sobre Chico Buarque em Portugal capta R$ 2,5 milhões pela Lei Rouanet

 A decisão veio do Ministério da Cultura; os recursos provém de renúncia fiscal


O projeto aprovado pelo Ministério da Cultura celebra os 80 anos de carreira do cantor | Foto: Reprodução/Flickr 


Segundo o texto aprovado pelo governo Lula, “o projeto Trocando em Miúdos é um roteiro artístico de teatro musical inovador, que apresenta para o público português a obra de Chico Buarque em homenagem aos seus 80 anos, onde a autora da dramaturgia Sacha Lídice Pereira conecta músicas e poesias em uma narrativa dramatúrgica e coesa sobre os conflitos humanos e sociais”.


Presidente Lula e a ministra da Cultura, Margareth Menezes | Foto: Reprodução/X/Margareth Menezes

A Lei Rouanet, criada em 1991, permite que empresas e pessoas físicas direcionem parte do imposto para financiar propostas culturais aprovadas pelo Ministério da Cultura. O projeto cultural ou artístico precisa ser apresentado por um artista ou produtora, receber o aval oficial e, só então, buscar patrocínio com base nos incentivos destinados às empresas.


Valores destinados à Lei Rouanet batem recorde no atual governo Lula 

Os incentivos fiscais concedidos pela Lei Rouanet somaram R$ 6,5 bilhões entre janeiro de 2023 e a 4 de julho de 2025, já corrigidos pela inflação. O valor segundo o portal Poder360, representa um aumento de 42,9% em relação ao mesmo período do governo Bolsonaro, que liberou R$ 4,5 bilhões. 

O ritmo mais acelerado se consolidou principalmente no ano de 2024. Na ocasião, a captação de recursos para projetos culturais atingiu R$ 3,1 bilhões, maior volume anual registrado no atual mandato. Já o primeiro semestre de 2025 confirmou a tendência de crescimento das captações, com R$ 769 milhões em renúncias fiscais, alta de 33,7% sobre o mesmo intervalo do ano anterior.


Isabela Jordão - Revista Oeste

Alexandre de Moraes, vulgo Xandão, arrega, entrega o que os EUA querem e a Globolixo solta a mão do ditador tupiniquim - oiluiz TV

'A não-extradição de Oswaldo Eustáquio é mais um tabefe na cara do regime', por Flágio Gordon

  'O problema é que o lulopetismo togado acredita que seu teatro doméstico impressiona o mundo'




A recusa definitiva da Espanha em extraditar Oswaldo Eustáquio, conforme solicitado pelo regime luloalexandrino, é mais um capítulo de uma sequência constrangedora que já virou rotina: o Brasil pede, democracias de verdade analisam e, por fim, recusam. O motivo é sempre o mesmo. Aquilo que, nas Cortes de Brasília, se chama “crime”, em países civilizados atende pelo nome correto — opinião. 

A Justiça espanhola encerrou o caso ao constatar que as acusações formuladas contra Eustáquio não encontram correspondência penal em seu ordenamento jurídico e carregam inequívoco conteúdo político. Traduzindo do juridiquês europeu: não se extradita alguém para ser punido por palavras. Ponto final. A Advocacia-Geral da União, reduzida ao papel de porta-voz dos juristocratas do STF, reconheceu que não há mais recursos. Ao menos fora do Brasil, o teatro acabou. 

A Folha de S.Paulo descreveu a reunião “tensa” entre autoridades brasileiras e representantes americanos. O governo brasileiro levou seu espetáculo “Democracia Inabalada” ao Ministério da Justiça: vídeos legendados, falas “golpistas”, clima de ameaça institucional. Esperavam fisionomias escandalizadas. Receberam bocejos de tédio. 

Quando exibiram o vídeo com as falas de Allan dos Santos, um representante norte-americano resumiu o drama inteiro com a simplicidade devastadora de quem vive numa democracia de verdade: “São só palavras”. A frase caiu como bofetada. Afinal, todo o edifício repressivo erguido pelo regime depende justamente da negação desse princípio elementar: a distinção entre discurso e crime. 


O problema é que o lulopetismo togado acredita que seu teatro doméstico impressiona o mundo. Acostumado a uma claque jornalística submissa, imagina que vídeos sensacionalistas, notas solenes e retórica inflada bastam para converter perseguição política em defesa da democracia. Mas o esultado é invariável — recusa, constrangimento e silêncio embaraçado


Os casos Allan dos Santos e Oswaldo Eustáquio


O jornalista Allan dos Santos mora nos EUA desde julho de 2020, para onde se exilou depois de ser investigado em inquéritos abertos pelo ministro Alexandre de Moraes, no Supremo Tribunal Federal (STF) - Foto: Reprodução/Câmara dos Deputados


O feitiço virou contra o feiticeiro. Cada extradição negada funciona como laudo internacional: não é o mundo que está errado; é o Brasil que se afastou da democracia. Aqui, ela só sobrevive como encenação. Lá fora, continua sendo um regime no qual palavras são apenas palavras — jamais motivo para prisão.


Flávio Gordon - Revista Oeste

'A não-extradição de Oswaldo Eustáquio é mais um tabefe na cara do regime', por Flágio Gordon

 'O problema é que o lulopetismo togado acredita que seu teatro doméstico impressiona o mundo




A recusa definitiva da Espanha em extraditar Oswaldo Eustáquio, conforme solicitado pelo regime luloalexandrino, é mais um capítulo de uma sequência constrangedora que já virou rotina: o Brasil pede, democracias de verdade analisam e, por fim, recusam. O motivo é sempre o mesmo. Aquilo que, nas Cortes de Brasília, se chama “crime”, em países civilizados atende pelo nome correto — opinião. 

A Justiça espanhola encerrou o caso ao constatar que as acusações formuladas contra Eustáquio não encontram correspondência penal em seu ordenamento jurídico e carregam inequívoco conteúdo político. Traduzindo do juridiquês europeu: não se extradita alguém para ser punido por palavras. Ponto final. A Advocacia-Geral da União, reduzida ao papel de porta-voz dos juristocratas do STF, reconheceu que não há mais recursos. Ao menos fora do Brasil, o teatro acabou. 

A Folha de S.Paulo descreveu a reunião “tensa” entre autoridades brasileiras e representantes americanos. O governo brasileiro levou seu espetáculo “Democracia Inabalada” ao Ministério da Justiça: vídeos legendados, falas “golpistas”, clima de ameaça institucional. Esperavam fisionomias escandalizadas. Receberam bocejos de tédio. 

Quando exibiram o vídeo com as falas de Allan dos Santos, um representante norte-americano resumiu o drama inteiro com a simplicidade devastadora de quem vive numa democracia de verdade: “São só palavras”. A frase caiu como bofetada. Afinal, todo o edifício repressivo erguido pelo regime depende justamente da negação desse princípio elementar: a distinção entre discurso e crime. 


O problema é que o lulopetismo togado acredita que seu teatro doméstico impressiona o mundo. Acostumado a uma claque jornalística submissa, imagina que vídeos sensacionalistas, notas solenes e retórica inflada bastam para converter perseguição política em defesa da democracia. Mas o esultado é invariável — recusa, constrangimento e silêncio embaraçado


Os casos Allan dos Santos e Oswaldo Eustáquio


O jornalista Allan dos Santos mora nos EUA desde julho de 2020, para onde se exilou depois de ser investigado em inquéritos abertos pelo ministro Alexandre de Moraes, no Supremo Tribunal Federal (STF) - Foto: Reprodução/Câmara dos Deputados


O feitiço virou contra o feiticeiro. Cada extradição negada funciona como laudo internacional: não é o mundo que está errado; é o Brasil que se afastou da democracia. Aqui, ela só sobrevive como encenação. Lá fora, continua sendo um regime no qual palavras são apenas palavras — jamais motivo para prisão.


Flávio Gordon - Revista Oeste

A não-extradição de Oswaldo Eustáquio é mais um tabefe na cara do regime'por Flávio Gordon

 'O problema é que o lulopetismo togado acredita que seu teatro doméstico impressiona o mundo'





A recusa definitiva da Espanha em extraditar Oswaldo Eustáquio, conforme solicitado pelo regime luloalexandrino, é mais um capítulo de uma sequência constrangedora que já virou rotina: o Brasil pede, democracias de verdade analisam e, por fim, recusam. O motivo é sempre o mesmo. Aquilo que, nas Cortes de Brasília, se chama “crime”, em países civilizados atende pelo nome correto — opinião. 

A Justiça espanhola encerrou o caso ao constatar que as acusações formuladas contra Eustáquio não encontram correspondência penal em seu ordenamento jurídico e carregam inequívoco conteúdo político. Traduzindo do juridiquês europeu: não se extradita alguém para ser punido por palavras. Ponto final. A Advocacia-Geral da União, reduzida ao papel de porta-voz dos juristocratas do STF, reconheceu que não há mais recursos. Ao menos fora do Brasil, o teatro acabou.

a Folha de S.Paulo descreveu a reunião “tensa” entre autoridades brasileiras e representantes americanos. O governo brasileiro levou seu espetáculo “Democracia Inabalada” ao Ministério da Justiça: vídeos legendados, falas “golpistas”, clima de ameaça institucional. Esperavam fisionomias escandalizadas. Receberam bocejos de tédio. 

Quando exibiram o vídeo com as falas de Allan dos Santos, um representante norte-americano resumiu o drama inteiro com a simplicidade devastadora de quem vive numa democracia de verdade: “São só palavras”. A frase caiu como bofetada. Afinal, todo o edifício repressivo erguido pelo regime depende justamente da negação desse princípio elementar: a distinção entre discurso e crime.

O problema é que o lulopetismo togado acredita que seu teatro doméstico impressiona o mundo. Acostumado a uma claque jornalística submissa, imagina que vídeos sensacionalistas, notas solenes e retórica inflada bastam para converter perseguição política em defesa da democracia. Mas fora do ambiente controlado das redações militantes, o truque não funciona.


O jornalista Allan dos Santos mora nos EUA desde julho de 2020, para onde se exilou depois de ser investigado em inquéritos abertos pelo ministro Alexandre de Moraes, no Supremo Tribunal Federal (STF) - Foto: Reprodução/Câmara dos Deputado


O feitiço virou contra o feiticeiro. Cada extradição negada funciona como laudo internacional: não é o mundo que está errado; é o Brasil que se afastou da democracia. Aqui, ela só sobrevive como encenação. Lá fora, continua sendo um regime no qual palavras são apenas palavras — jamais motivo para prisão.

Pronunciamento de Sóstenes Cavalcante sobre a operação da Polícia Federal

É GUERRA DE MINISTROS DO STF - Entenda o que está por trás das operações da PF de hoje

JORNAL DA OESTE - SEGUNDA EDIÇÃO, COM GEISIANE FREITAS

CPMI do INSS irá votar convocação de Lulinha e do vice-líder de Lula para depor

 Pedido foi deferido pelo relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar


Carlos Viana (Podemos-MG) e Alfredo Gaspar (União-AL) à frente da CPMI - (Foto: Saulo Cruz/Agência Senado)

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga o roubo bilionário a aposentados e pensionistas do INSS solicitou nesta sexta-feira (19) um novo pedido de convocação de Fábio Luís Lula da Silva, o “Lulinha”, filho do presidente Lula (PT), a depor no colegiado.

O pedido foi deferido pelo relator da CPMI, Alfredo Gaspar (União-AL). Segundo os autos de investigações da CPMI, Lulinha teria ligação com Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, preso por ser o principal líder do esquema de descontos indevidos.

Gaspar também protocolou o pedido de convocação do senador Weverton Rocha (PDT-MA), que foi alvo da PF na operação desta quinta-feira (18).

A ideia é aproveitar a grande repercussão e quebra de sigilos revelados pela PF, em relação aos esquemas em que são citados os supostos presos no desdobramento da operação “Sem Desconto”.

Como mostrou o Diário do Poder, na última sessão do ano, a base de parlamentares ligados ao governo Lula (PT) blindou os alvos citados, sendo eles o advogado-geral da União, Jorge Messias e Lulinha.

O nome do filho do ex-presidente reapareceu como possível beneficiário do esquema após a nova fase da operação Sem Desconto mirar a empresária Roberta Luchsinger, amiga de Lulinha.

Segundo a Polícia Federal, as investigações apontaram o pagamento de uma mesada de R$ 300 mil a uma empresa de Luchsinger. Antônio Carlos Camilo Antunes, o “careca do INSS”, faz referência, em mensagens, ao fato de que esse valor seria para “o filho do rapaz”, sem especificar quem seria o rapaz.

O relator pediu também a convocação de Roberta e de Danielle Fontenelles, que seriam outro elo de Lulinha no esquema.

Na operação desta quinta-feira (18), armas, dinheiro e carros de luxo foram apreendidos pela PF. O secretário-executivo da Previdência, Adroaldo Portal, foi preso e exonerado do cargo na autarquia, a pedido do ministro da Previdência, Wolney Queiroz.

O filho do “Careca do INSS”, Romeu Carvalho Antunes, e o advogado Éric Douglas Martins Fidelis, filho do ex-diretor de Benefícios do INSS, André Fidelis, foram presos.

Ambos já prestaram depoimentos no colegiado.

Segundo informou o presidente da comissão, senador Carlos Viana (Podemos-MG), as sessões para ouvir os depoimentos de convocados devem voltar na segunda semana de fevereiro, após o recesso parlamentar.


Diário do Poder

Denúncia de Fraudel no STF

'Falta vergonha na cara', afirma Augusto Nunes

 O que há com o Brasil que não reage à chegada dos idiotas ao poder?


Congresso Nacional | Foto: Shutterstock

N unca vi meu pai mergulhado em leituras. Saltava páginas dos livros que empunhava de vez em quando, só folheava o jornal e, forçado a aumentar a renda mensal como professor de Geografia, limitava-se a passar os olhos pelas folhas preenchidas pelos alunos nas provas mensais. Em seguida, desenhava no alto do canto direito da folha manuscrita um 7 ou um 8. “Não quero reprovar ninguém”, explicou-me Adail Nunes da Silva quando quis saber quais eram os critérios que usava. “Dou essas notas porque não reprovam ninguém, mas também avisam que eles não sabem tudo. Quem ganha um 9 ou um 10 para de estudar no minuto seguinte.” E por que a metodologia tratava tão bem os que não sabiam nada? “Esses não têm jeito”, encerrou o assunto. 

Embora tenha estudado em escolas medíocres, ele se diplomou em Economia e Direito e aprendeu a escrever ou falar sem erros. Na juventude, divertia os amigos com o inesgotável repertório de contador de casos. Ao estrear no palanque com menos de 30 anos, mostrou que já estava pronto o extraordinário orador de comício. Além do extenso vocabulário, impressionava a ausência de agressões à língua portuguesa. Não escorregava nem mesmo quando resolvia exibir-se para plateias menores com o uso da segunda pessoa do plural. E lá vinha, sem tropeços, o desfile de “vós sabeis”, “estais aqui” e outros refinamentos.


Jânio Quadros e Carlos Lacerda antes da “crise” | Foto: Reprodução/Alesp 


Depois de um comício, quis saber como aprendera a dominar a arte do discurso improvisado. “Ouvindo pelo rádio os melhores”, ele desfez o mistério. Informou que nunca perdeu qualquer show de retórica protagonizado por gente como Carlos Lacerda, Jânio Quadros, Oswaldo Aranha, Afonso Arinos e outros tribunos. “Pena que ministros do Supremo não possam manifestar-se no rádio”, lamentou. “Gostaria demais de ouvir nas emissoras de rádio ministros como Evandro Lins e Silva e Nelson Hungria”, exemplificou meu pai. “Quem já ouviu esses e outros saiu muito impressionado. Mas juiz só fala nos autos”, lastimou o homem que lapidara a vocação num curso radiofônico longo e intensivo, ministrado por sumidades que não existem mais. Os idiotas monopolizam a TV Justiça. 

A morte poupou-o de amargurar-se com a era da mediocridade. O primeiro quarto do século 21 conferiu dimensões medonhas à descoberta de Nelson Rodrigues: os idiotas perderam o pudor e estão por toda parte. Dão as cartas no Poder Executivo, informa a terceira passagem pelo Planalto de um espertalhão analfabeto. Babam na gravata no Congresso: com Hugo Mota na Câmara e Davi Alcolumbre, a zona de turbulência está muito longe do fim. E fazem o diabo no Judiciário. Sob a liderança do decano Gilmar Mendes, a Ala Jovem do Supremo Tribunal Federal atropela a gramática e a ortografia nos autos ou fora deles, mete-se em assuntos que ignora e comete um abuso a cada meia hora. Pior: os frutos da idiotia epidêmica têm tempo de sobra para completar o trabalho de destruição iniciado há seis anos pelo parto do Inquérito do Fim do Mundo.


A ditadura do Judiciário não demorará a parecer um nada. Mas o calendário gregoriano alerta: é muito tempo amputado das nossas vidas. 


O que há com o Brasil decente que não se espanta com nada? A advogada Viviane Barci de Moraes, mulher do ministro Alexandre de Moraes, embolsou R$ 3,6 milhões por mês para garantir o apoio do marido ao vigarista Daniel Vorcaro. A advogada Roberta Rangel, mulher de Dias Toffoli, foi sócia do Warde Advogados, um dos escritórios contratados pelo Banco Master. O time do doutor Walfrido Jorge Warde Júnior, aliás, acolhe até jornalistas cujas piruetas políticoideológicas reduziram a conversão do apóstolo Paulo a uma mudança tão irrelevante quanto deixar de torcer pelo Jabaquara para matar e morrer pela Portuguesa Santista.


Lula (PT), entre Hugo Motta (PP) e Davi Alcolumbre (União Brasil): negociações pela manutenção do poder | Foto: Fabio RodriguesPozzebom/Agência Brasil

Na festa de aniversário da chegada de Dias Toffoli ao STF, o homenageado emocionou-se. “As pessoas nem sabem que nosso trabalho é difícil e importante”, choramingou, com uma lágrima pendurada no canto de cada olho. “É um orgulho estar ao lado dos maiores juristas do país.” Um deles foi reprovado duas vezes no concurso de ingresso na magistratura paulista. Outro “grande jurista”, Alexandre de Moraes, fora o que vem fazendo na Vara Criminal que criou, agride o idioma com expressões como “há vinte dias atrás”. 

Como é que um time assim amedronta tantos brasileiros? O que há com o Congresso que não enquadra na Constituição e na lei comum os abusadores que prendem e arrebentam vidas e normas milenares para fortalecer essa democracia à brasileira? Sim, como ensinou William Shakespeare, não há noite tão longa que não encontre o dia. Sim, medida pelo tempo histórico, a ditadura do Judiciário não demorará a parecer um nada. Mas o calendário gregoriano alerta: é muito tempo amputado das nossas vidas. Vêm aí as eleições. Basta que a oposição repita o desempenho de 2024 para formalizar a troca da guarda e colocar o país no rumo certo. O presidente do STF, Edson Fachin, acha necessária a elaboração de um código de ética para frear

os ímpetos e excessos da instituição. Sugiro uma adaptação da curta e perfeita Constituição criada pelo historiador Capistrano de Abreu: Art. 1°: Todo ministro da corte fica obrigado a ter vergonha na cara. Art. 2°: Revogam-se as disposições em contrário.


 Augusto Nunes - Revista Oeste

'Anatomia de uma fraude', por Carlo Cauti

Como um desconhecido boêmio mineiro, com um histórico de fracassos empresariais, conseguiu liderar a maior fraude bancária da história do Brasil e prejudicar dezenas de milhares de funcionários públicos


Daniel Vorcaro, presidente do Banco Master | Foto: Divulgação 


Quando Daniel Vorcaro foi preso, estava sorrindo. As imagens da câmera de segurança do Aeroporto de Guarulhos (SP) mostram o diretor-presidente do Banco Master recebendo voz de prisão de um policial federal. O rosto parece entre o divertido e o incrédulo. 

O executivo de 42 anos passava pelo controle de raio-X para embarcar em seu jato particular Falcon 7X, avaliado em R$ 200 milhões, que aguardava na pista com motores já ligados, pronto para decolar em direção à ilha de Malta, no Mediterrâneo.


Câmeras de segurança flagram o momento em que Daniel Vorcaro é preso no Aeroporto de Guarulhos (SP) | Foto: Reprodução/G1


Com camisa desabotoada até quase o umbigo, terno ajustado, cabelo com gel puxado para trás e celular na mão, deve ter achado tudo aquilo uma brincadeira. Ou estar confiante de que seus contatos poderosos em Brasília o libertariam em poucos minutos. Apenas o tempo de um telefonema. 

Não foi assim. Cercado por 15 policiais federais, acabou sendo levado para o centro de detenção provisória da cidade aeroportuária, onde permaneceria por 12 dias. Aparentemente sem perder o sorriso, como mostram as fotos tiradas na prisão, nas quais aparece ao lado de um guarda armado de fuzil. De camiseta branca, boné verde do Los Angeles Dodgers e uma Bíblia de Estudo Almeida debaixo do braço.

Difícil saber se o riso era fruto da falta de noção sobre os acontecimentos ou da certeza da impunidade. Mesmo sendo o responsável pela maior crise bancária da história do Brasil, com um rombo de R$ 41 bilhões no Fundo Garantidor de Crédito (FGC) — mais do que dobrando o escândalo do Bamerindus, que em 1997 tinha acumulado um passivo de pouco menos de R$ 20 bilhões. Sem contar os outros bilhões de reais perdidos no Master por fundos de pensão de empresas públicas estaduais, que deixarão dezenas de milhares de trabalhadores sem aposentadoria.


Momento em que Daniel Vorcaro sai da prisão | Foto: Reprodução/Jurinews 


Incompetência e ousadia 

Daniel Vorcaro nunca conseguiu administrar algo. Estudante medíocre e boêmio, aos 19 anos recebeu do pai, um empreiteiro de Minas Gerais, uma empresa de educação chamada PQS Empreendimentos Educacionais Ltda. e outra de livros didáticos. Seu objetivo era tocar os negócios, juntando as duas operações. Fracassou e foi forçado a vender para uma rede de escolas de Belo Horizonte. 

Voltou a trabalhar com o pai, até que se tornou sócio de um fundo de investimento de cemitérios, que também deu com os burros n’água. Foi investigado por manipulação do mercado, mas optou por encerrar o caso por meio de um Termo de Compromisso e pagou R$ 2,2 milhões para evitar punições adicionais. 

Tentou construir um hotel de luxo em Belo Horizonte, utilizando incentivos concedidos pela prefeitura para aumentar a capacidade de hospedagem às vésperas da Copa do Mundo de 2014. Adquiriu um prédio abandonado em uma região decadente da capital mineira e assim começaram as obras para o Golden Tulip, uma torre de vidro de 37 andares, com heliponto, restaurantes, SPA e um centro de convenções de 7 mil metros quadrados. A obra, orçada em R$ 200 milhões, em parte com dinheiro público, tinha que estar pronta até o dia 30 de março de 2014. O dinheiro acabou e o hotel não foi concluído.

Vorcaro foi resgatado novamente pela construtora do pai, até que encontrou Saul Sabbá, dono do Banco Máxima, praticamente falido. A gestão fraudulenta de Sabbá tinha provocado um rombo tão grande no caixa que o Banco Central (BC) foi forçado a inabilitá-lo. A solução foi oferecer o Máxima para Vorcaro, que aceitou na hora. 

Com outros dois sócios, o empresário injetou a liquidez mínima para que o Máxima voltasse a funcionar. Pediu autorização para o Banco Central para operar, mas só a obteve dois anos depois, em 2019, após inúmeras viagens a Brasília.

O golpe de sorte foi a mudança na estratégia do BC em relação ao mercado bancário, tradicionalmente muito concentrado no Brasil. Para favorecer a concorrência, autorizou naquele período um grande número de entidades de crédito, entre bancos e fintechs.

Em 2021, Vorcaro mudou o nome do banco para Master e começou a escalada. Em apenas cinco anos, a instituição passou de um patrimônio líquido de R$ 200 milhões para R$ 4,7 bilhões, com uma carteira de crédito que avançou de R$ 1,4 bilhão para R$ 40 bilhões. Um crescimento de quase 100% ao ano, todos os anos. Nenhum banco brasileiro, nas últimas três décadas, conseguiu ter uma expansão dessa magnitude em tão pouco tempo.

Isso deveria ter chamado a atenção de muita gente. Principalmente das autoridades de vigilância, e em especial pela forma como o Master captava recursos do mercado. O banco oferecia Certificados de Depósito Bancário (CDBs) com juros 30% mais altos do que a concorrência. 

O problema não era apenas a ousadia na remuneração de seus papéis, mas como os recursos captados eram aplicados. Com juros tão elevados, seria necessário investir em atividades com um retorno ainda maior para poder devolver o dinheiro aos clientes, algo muito difícil de ser encontrado no mercado. O Master fazia exatamente o oposto: desembolsava bilhões em empresas em recuperação judicial ou com sérios problemas econômicos, apostando que dariam a volta por cima e passariam a operar no azul. Não foi o que aconteceu e o banco não recebeu o dinheiro de volta.

Boa parte das empresas que receberam recursos do Master é controlada ou investida pelo empresário Nelson Tanure — entre elas, a Oi, a Light — ou é de amigos dele, como a Ambipar. Tanure não aparece oficialmente como sócio do banco, mas a Polícia Federal e o Ministério Público Federal abriram um inquérito para verificar se Tanure seria o controlador real do Master. Relatórios técnicos e informações de mercado geraram a suspeita de que o empresário usaria uma série de fundos de investimento, denominados Aventti, Estocolmo e Banvox, para controlar indiretamente o banco. 



Empresário Nelson Tanure, conhecido por investir em empresas em dificuldades financeiras | Foto: Wikimedia Commons 


Uma das operações que mais levantaram suspeitas sobre essa relação especial entre Tanure e o Master foi a compra de ações da Ambipar entre junho e agosto de 2024. Em poucas semanas, o valor dos papéis disparou mais de 800%, sem qualquer conexão com os resultados econômicos da empresa, que não conseguia produzir números positivos havia anos. 

Segundo uma investigação aberta pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), foram realizadas operações coordenadas entre fundos associados ao Master e a Tanure na compra de ações da Ambipar, o que poderia se enquadrar no crime de manipulação de mercado. A suspeita é que essa operação tenha sido uma “troca de favores” que permitiu à empresa aumentar seu valor de mercado, elevou o patrimônio do Master e permitiu que Tanure conseguisse as garantias necessárias para outra operação: a compra da estatal paulista Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae) em leilão. 


Amizades poderosas 

Além de Tanure, Vorcaro mantinha relações estreitas com o poder. Ele se gabava de ter feito “fortes amigos” em Brasília, de que “no Brasil não tem como andar se não tiver esse tipo de proteção” e de que, sem o apoio de poderosos, não estaria no lugar aonde chegou. “O networking é algo bem relevante para querer criar algum tipo de empreendimento”, disse durante uma palestra em 2024. “É necessário criar conexões que favoreçam seu negócio.” 

Patrocinador de peso dos principais grupos de lobby do Brasil, como o Lide, do ex-governador João Doria, o Esfera, de João Camargo, e o Grupo Voto, de Karim Miskulin, o Master financiou vários eventos no Brasil e no exterior. Os convescotes reuniam empresários, políticos e, principalmente, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e de outras cortes superiores.

Um dos mais falados foi o Fórum Jurídico Brasil de Ideias, realizado no Hotel Peninsula, um dos mais luxuosos de Londres, em abril de 2024. Entre os convivas, os ministros Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Dias Toffoli, além do advogado-geral da União (AGU), Jorge Messias, o procurador-geral da República (PGR), Paulo Gonet, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. O evento, cujo objetivo era discutir problemas do Brasil, ocorreu a 9 mil quilômetros de distância e a portas fechadas.

O Master financiou também a Lide Brazil Conference de Nova York, em novembro de 2022, eternizada pelo infame “perdeu, mané, não amola” pronunciado pelo ministro Luís Roberto Barroso contra um manifestante. O Fórum Esfera Internacional de Paris, em outubro de 2023, e o de Roma, um ano depois, ou o Fórum Empresarial Lide no Rio de Janeiro, em agosto de 2024. Todos os eventos locados em hotéis de luxo contaram com a presença de Moraes, Mendes, Barroso e Dias Toffoli, entre outros.

Além das mordomias, Vorcaro frequentemente emprestava seus três jatinhos de luxo para os amigos poderosos de Brasília se deslocarem dentro e fora do Brasil. Mais do que isso, os contratava diretamente. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, imediatamente após ter deixado o STF, se tornou membro do Comitê Consultivo Estratégico do Master, assim como dois ex-presidentes do Banco Central, Henrique Meirelles e Gustavo Loyola. 

O networking deve ter funcionado, pois Vorcaro foi liberado menos de duas semanas depois de ser preso e Dias Toffoli decretou sigilo máximo no processo do Master poucas horas após viajar de jatinho particular para Lima, no Peru, onde foi assistir à final da Copa Libertadores. No mesmo voo estava um dos advogados do Master, Augusto Arruda Botelho, ex-secretário de Justiça do governo Lula, que atua no processo defendendo o diretor de compliance do Banco, Luiz Antônio Bull. 


Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, e o ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli | Montagem: Revista Oeste/Shutterstock/Reprodução 


Vorcaro tinha grandes aliados também no Legislativo, especialmente no centrão. É o caso do senador Ciro Nogueira (PP-PI), onipresente nos eventos patrocinados pelo Master, e que, em 2024, apresentou uma emenda para elevar de R$ 250 mil para R$ 1 milhão a cobertura do FGC. O jabuti foi incluído na PEC da Autonomia Financeira do Banco Central e não passou despercebido, tanto que ganhou a alcunha de “Emenda Master” por favorecer diretamente títulos como CDBs, carros-chefe do banco. 

Outro episódio mostrou o tamanho da força do Master. Em julho de 2024, dois gerentes da Caixa Econômica Federal, feudo do PP, opuseram-se à compra de um lote de R$ 500 milhões em letras financeiras do Banco Master. Foram sumariamente demitidos. A área técnica de Renda Fixa da Caixa Asset tinha desaconselhado a aquisição, classificando-a como “arriscada” e “atípica” para os padrões da instituição estatal. Mesmo assim, a diretoria queria proceder. Diante da repercussão, a aquisição foi abortada.

Mas o mais grave foi a tentativa de aprovar um projeto de lei que permitiria ao Congresso Nacional demitir integrantes da diretoria do BC. Apresentado pelo deputado Cláudio Cajado (PP-BA), teve o apoio dos líderes das bancadas do MDB, PP, União Brasil, PL, PSB e Republicanos. Não prosperou pela oposição do corpo técnico do Banco Central. O projeto foi protocolado poucos dias antes da decisão do BC sobre a compra do Master pelo Banco de Brasília (BRB). Sentindo que a autorização não seria concedida, muita gente no Legislativo atuou para pressionar o Banco Central. Não adiantou, e a operação foi vetada. 


Desespero e fracasso 

A aquisição do Master pelo BRB foi uma última tentativa de Vorcaro de salvar o banco. Em 2025, o Master teria que reembolsar R$ 12 bilhões de CDBs em vencimento. Diante dos sérios problemas de balanço que a instituição financeira apresentava, em dezembro de 2024, Vorcaro e seus sócios foram convocados pelo então presidente do BC, Roberto Campos Neto, para uma reunião em Brasília. Na ocasião, foram intimados a recapitalizar o Master com R$ 2 bilhões até o dia 31 de março, ou o banco seria liquidado compulsoriamente. 

Dinheiro que eles não tinham, ou não queriam desembolsar. Milagrosamente, no dia 28 de março, o BRB anunciou ao mercado a compra do Master e, contextualmente, a injeção de R$ 2 bilhões. Exatamente o valor do aporte de capital exigido pelo BC — uma operação considerada no mínimo ilógica pelo mercado.


Paulo Henrique Costa foi demitido da chefia do BRB | Foto: Divulgação/BRB

Raramente se viu um banco menor tentar absorver um banco de maior dimensão. Muito menos um banco estatal e regional como o BRB em relação a um banco privado e nacional como o Master. Mas a pressão do governo do DF, controlador do BRB, foi mais forte. Sem contar que o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, é apadrinhado por Nogueira e já havia ocupado uma vice-presidência da Caixa. A compra foi vetada pela justiça do DF por suspeitas de irregularidades, mas mesmo assim a Assembleia Legislativa local votou a toque de caixa uma lei autorizando a transação. Em setembro, o Banco Central proibiu a compra. 

Mesmo com essas negativas, o BRB já tinha transferido cerca de R$ 12 bilhões para os cofres do Master com a compra de uma carteira de crédito que se descobriu ser fictícia. Vorcaro jurou ter adquirido a carteira de duas associações de servidores públicos da Bahia: a Asteba e a Asseba. Os contratos, contudo, eram atribuídos a pessoas físicas que residiam em outros Estados. As apurações do BC mostraram que os papéis foram comprados pelo Master de uma outra fonte, a Tirreno Promotoria de Crédito, considerada pela Justiça como uma empresa de fachada.


O dinheiro dos investidores financiou a dolce vita de um mineiro bon-vivant, que conseguiu — com a cumplicidade de muita gente — dar o maior golpe da história do Brasil. 


Foi essa a razão que levou à prisão de Vorcaro no aeroporto de Guarulhos e ao afastamento do presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, em seguida demitido pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha. 


Fraude dos aposentados 

Mais uma vez, as maiores vítimas da fraude do Banco Master serão os brasileiros mais vulneráveis, como trabalhadores de empresas públicas de vários Estados e municípios brasileiros, que confiaram suas poupanças compulsórias a fundos de pensão que lhes deveriam garantir uma aposentadoria digna. Dezoito fundos de pensão de servidores públicos compraram papéis do Master muito além da cobertura oferecida pelo FGC, como mostrou a reportagem da edição 297 de Oeste. É o caso da Rioprevidência, responsável pela aposentadoria dos servidores do Estado do Rio de Janeiro, que aplicou quase R$ 1 bilhão em títulos do banco. Agora que o Master quebrou, receberá apenas R$ 250 mil.

A operação Compliance Zero está apurando se essas operações foram realizadas pela atratividade dos CDBs do Master ou por pressão dos amigos poderosos de Vorcaro. Empresas públicas e privadas também embarcaram nos papéis do Master, como a rede de tratamento de câncer Oncoclínicas, que investiu R$ 433 milhões, e a concessionária fluminense de saneamento Cedae, com R$ 200 milhões.

Aparentemente, o Master usou recursos de fundos de pensão estaduais desde o começo de sua trajetória. Se a Justiça brasileira funcionasse, Vorcaro teria sido preso há pelo menos seis anos. Em 2019, um juiz federal de Rondônia decretou sua prisão em um processo por aplicações financeiras feitas pelo Instituto de Previdência Social dos Servidores Públicos do município de Rolim de Moura (RO), o Rolim Previ. A ordem nunca foi cumprida. Vorcaro também tentou manter esse caso em segredo de Justiça, alegando que a exposição poderia prejudicá-lo. E conseguiu: ainda hoje o processo permanece inacessível. 


Luxo e ostentação 

Com a avalanche de dinheiro que ingressou no banco em pouco tempo, Vorcaro dedicou-se àquilo que melhor sabia fazer: ostentar uma vida de luxo. Nas redes sociais, o banqueiro aparecia constantemente surfando em praias paradisíacas, nos Alpes suíços ou em festas de altíssimo padrão. Sempre rodeado de mulheres deslumbrantes. 

“O principal item que eu posso falar sobre é ter um propósito”, disse em 2024, quando convidado para discursar na Brazil Conference do MIT de Boston. 

“Sem propósito, não tem meta, nem projeção de onde chegar.” Em menos de cinco anos, Vorcaro comprou mansões no Brasil e no exterior por centenas de milhões de reais — como a de Trancoso, no litoral baiano, adquirida por R$ 280 milhões, rodeada por um enorme parque privativo de Mata Atlântica. Outra propriedade, em Miami, foi comprada por R$ 460 milhões — a transação mais cara já realizada na cidade americana. Também adquiriu três jatinhos Falcon 7X, Dassault Falcon 2000 e Gulfstream GV-SP por um valor total superior a R$ 1 bilhão.


Jatinho particular que seria usado por banqueiro para deixar o país, segundo a Polícia Federal - Foto: Divulgação/PF


Além disso, Vorcaro se tornou acionista do Atlético Mineiro, comprando 20% da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) que controla o time por R$ 300 milhões.

Sem contar as extravagâncias imobiliárias de um banco pequeno, mas com claros sinais de megalomania. Como a sede faraônica na Vila Olímpia, em São Paulo, ou o aluguel recorde no 830 Brickell Plaza, em Miami, prédio mais alto da cidade, no qual nunca ocupou o escritório de quase 2,5 mil metros quadrados. A mesma coisa em Londres, onde o Master alugou um espaço no 22 Bishopgate, o prédio mais alto e um dos mais exclusivos da capital britânica, em que nem sequer os bancões brasileiros ousariam se instalar. 


A influenciadora Karolina Trainotti, de 29 anos, recebeu de uma empresa ligada ao banqueiro Daniel Vorcaro um apartamento avaliado em R$ 4,4 milhões na região da Avenida Faria Lima, uma das áreas mais nobres da capital paulista, em dezembro do ano passado. Ela está definida como “sugar baby” nos autos do processo | Foto: Reprodução/Redes Sociais


O negócio começou a ficar grotesco quando se descobriu que Vorcaro tinha doado um apartamento de R$ 4,4 milhões para uma “sugar baby”, Karolina Santos Trainotti, cujo nome apareceu em uma operação contra o tráfico internacional de cocaína. 

Vorcaro gastou cerca de R$ 20 milhões na festa de 15 anos da filha, realizada em agosto de 2023 em Nova Lima (MG). O evento viralizou com um bufê caríssimo, shows dos DJs Alok, The Chainsmokers, Dennis DJ, entre outros, e um bolo de R$ 25 mil, que chegou de avião de São Paulo. Para deixar os 500 convidados mais à vontade, o executivo asfaltou uma rua, deu vinhos Sassicaia e ofereceu diárias no Hotel Fasano aos vizinhos incomodados com o barulho. 

Aparentemente imune às críticas ou a preocupações, e mesmo com o Master no olho do furacão, Vorcaro decidiu festejar o Carnaval 2025 com pompa e circunstância. O banqueiro bancou um camarote na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, com 2,5 mil metros quadrados distribuídos em três andares, recheado de modelos internacionais e com chefs estrelados que prepararam pratos saboreados com bebidas de luxo. Custo total: R$ 40 milhões. A entrada era gratuita, desde que fosse amigo do dono.

Quando os credores do Master tentarem penhorar o patrimônio do banco para recuperar as perdas, dificilmente encontrarão algo. Boa parte acabou nas taças de champanhe, nas bandejas prateadas e nas luzes que iluminaram as noites infinitas de Daniel Vorcaro. O dinheiro dos investidores financiou a dolce vita de um mineiro bon-vivant, que conseguiu — com a cumplicidade de muita gente — dar o maior golpe da história do Brasil.


Daniel Vorcaro e sua namorada, a influenciadora Martha Graeff | Foto: Reprodução/Redes Sociais


Carlo Cauti - Revista Oeste

OESTE COM ELAS

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A Tribute to VANESSA REDGRAVE

A Tribute to MONICA BELLUCCI

CL News .

INSS: amiga de Lulinha tentou ser deputada pelo PT

 

Roberta Luchsinger, amiga de Lulinha e intermediária na relação com o Careca do INSS. (Foto: Reprodução/Instagram/Acervo Pessoal).


Alvo da operação que apura a ladroagem no INSS, Roberta Luchsinger, amiga de Fábio Luiz Lula da Silva, o Lulinha, outro que tem tudo para figurar entre os enrolados, tentou se eleger deputada estadual por São Paulo. Roberta escolheu o Partido dos Trabalhadores para disputar a vaga, em 2018. Com 14.134 votos, ficou com a suplência. A amiga do Lulinha é apontada pela Polícia Federal como integrante vinculada ao núcleo político da organização criminosa do Careca do INSS.

Ajudinha ministerial

Na empreitada, Roberta recebeu doações da campanha do petista Carlos Eduardo Gabas, ex-ministro da Previdência de Lula e Dilma.

Blindagem máxima

A amiga de Lulinha, como o próprio e até o pelegão Frei Chico, irmão de Lula, escapou de convocação na CPMI após forte atuação do governo.

Amiga monitorada

Com a PF, o samba tocou diferente para Roberta. Está proibida de deixar o Brasil e, após operação de ontem (18), vai usar tornozeleira eletrônica.



Diário do Poder