avier Milei, candidato à presidência argentina.| Foto: Enrique Garcia Medina/EFE
A Argentina vai para o segundo turno das eleições presidenciais com uma escolha incômoda: apostar numa proposta desconhecida ou ficar com um desastre confirmado. É o velho “ser ou não ser”. O que é melhor, ou o que seria pior: tentar um bem que não foi testado antes, ou optar pelo mal que já se conhece?
Javier Milei, o candidato liberal que propõe uma Argentina radicalmente nova, prega o rompimento com quase tudo o que os governos têm feito pelo menos nos últimos 80 anos. Sergio Massa, o candidato do peronismo, se propõe a fazer tudo o que os seus antecessores sempre fizeram: manter a Argentina Cuesta Abajo, como no tango imortal de Gardel, e garantir que aquele que já foi um dos países mais ricos do mundo continue sua descida rumo à pobreza, o atraso e a velhice.
O que é melhor, ou o que seria pior: tentar um bem que não foi testado antes, ou optar pelo mal que já se conhece?
A Argentina, um país que o Brasil deve se orgulhar de ter como vizinho, é um mistério dentro de um enigma cercado por uma charada. É realmente um fenômeno sobrenatural a obsessão dos governos argentinos em tomar sempre, sem exceções, as medidas mais erradas entre todas as possíveis – e, pior que isso, a disposição perene da maioria da população em apoiar com paixão religiosa exatamente os políticos que vem destruindo seu país há quase um século.
Talvez ninguém tenha feito um resumo tão claro desta patologia quanto o ex-presidente do Uruguai, José Mujica – um homem de esquerda, e profundo conhecedor das realidades do seu vizinho. “Como se explica, num país que tem uma inflação como a da Argentina, que o ministro da Economia seja candidato à presidência da República?”, perguntou ele às vésperas da eleição. “A Argentina é uma coisa indecifrável”.
O candidato do peronismo, mais uma vez, recebe a maior votação no primeiro turno por causa das mesmas promessas que se faz desde os anos 40 do século passado: vai “garantir” os “direitos” da população, e inventar mais alguns ainda. Nunca se tratou de direitos – e sim de criação de privilégios para as castas que mandam na máquina de governo.
A maior parte dos argentinos fica com o pouco que sobra desta privatização gigante dos recursos do país em benefício do consórcio peronistas. Sempre se dão por satisfeitos com isso, dentro da ideia geral de que é melhor ganhar as esmolas de um Bolsa Família do Estado do que trabalhar por um salário incerto e frequentemente só um pouco maior. É impossível uma economia avançar nesse sistema; é impossível gerar renda, bem-estar social e oportunidades. Mas milhões de argentinos preferem isso. Deram um terço dos votos para o candidato peronista no primeiro turno – o que leva a uma segunda votação. Os dois terços que não querem que seu país continue a naufragar terão, aí, a oportunidade de mudar a Argentina.
J.R. Guzzo, Gazeta do Povo