sexta-feira, 11 de março de 2022

'O pão nosso, as NETs e a bonança dos gringos', por Bruno Meyer

 

Caminhão de entrega da Sagrado Boulangerie | Foto: Divulgação


Conflito entre Rússia e Ucrânia vai deixar o pãozinho de 10% a 15% mais caro. Frangos e suínos, também


Apertem os cintos! O pãozinho vai aumentar no Brasil. E já nos próximos dias: a expectativa é que ele suba de 10% a 15% ainda em março, como consequência da invasão da Ucrânia pela Rússia. Os dois países embarcam mais de um quarto das exportações mundiais de trigo. O conflito fechou os portos, interrompeu o transporte e cortou a logística. Afora esse baque, ainda há a possibilidade de agricultores ucranianos estarem envolvidos nos combates, o que ameaça o plantio em 2022. “A commodity trigo já aumentou 46% desde que a guerra começou”, diz Fábio Freitas, dono da rede de franquias brasileira Sagrado Boulangerie. “Esse impacto já vem sendo refletido na saca de farinha. Os demais insumos deverão acompanhar altas, mas não na mesma proporção do trigo.”

Pão nosso de cada dia

O mercado de panificação movimentou R$ 90 bilhões no Brasil em 2021. E o consumo diário de pão, de Norte ao Sul do país, trouxe inovação nos últimos tempos para quem busca ir além do pãozinho básico da padaria de bairro. Fundada em 2015 por Freitas a partir de um food truck em um condomínio fechado de Alphaville, nos arredores de São Paulo, a Sagrado se transformou na maior rede de boulangerie do Brasil. A marca projeta abrir 140 lojas nos próximos dois anos e bater mil unidades em uma década.

Padaria Sagrado Boulangerie, em Barueri | Foto: Divulgacão

Pão truck

A rapidez da expansão da Sagrado também se explica pelo aporte de R$ 2,75 milhões do empresário João Appolinário, dono da Polishop, em 2017. Appolinário ficou, nesse contrato, com 30% da empresa. Atualmente, a marca entrou no crescente ramo de franquias e apresenta três modelos de negócios da padaria. A loja física da Sagrado, com mínimo de 70 metros quadrados, custa R$ 380 mil para quem se interessar. Os food trucks, gênese do projeto, custam R$ 170 mil. O modelo contêiner sai por R$ 240 mil, com perspectivas de faturamento mensal de R$ 75 mil. Dado interessante: o ano de maior expansão da empresa foi 2021. As atuais 19 unidades da marca consomem 15 toneladas de farinha por mês.

Mais 15% 

Frangos e suínos devem ter o mesmo aumento do pãozinho francês. Os frigoríficos falam que a alta do reajuste vai ficar entre 10% e 15%. Já em março. A causa é, claro, o aumento de insumos pela guerra na Ucrânia.

Sem aumento

Nem tudo vai subir, como os 15% do pão e do frango e os quase 19% da gasolina — esta última anunciada pela Petrobras na manhã de quinta-feira (10). A rede de empanadas artesanais La Guapa, da chef argentina Paola Carosella, não projeta aumentos nos produtos nas próximas semanas. “Até agora, não houve impacto algum da guerra na Ucrânia”, declarou o CEO, Benny Goldenberg, à coluna.

A chef Paola Carosella | Foto: Divulgação/Band

1 milhão de empanadas

Com 350 funcionários, o La Guapa mantém a meta de dobrar a produção e a venda de empanadas em 2022: de 500 mil para 1 milhão de unidades. A expansão também acontecerá com lojas físicas. Das dez atuais em São Paulo, pulará para 80 nos próximos cinco anos. A aceleração do negócio se deve ao aporte de R$ 50 milhões que o empreendimento de Carosella recebeu da empresa de private equity Concept Investimentos no fim de 2020. Com as primeiras lojas fora da capital apresentando faturamento de 30% a 40% acima da média das lojas em São Paulo, a expectativa para 2022 é triplicar os resultados.

Admirável mundo…

O economista carioca Fabio Szwarcwald foi a primeira voz no Brasil a chamar atenção para a força dos NFTs (non-fungible token, ou “token não fungível”) no já milionário mercado das artes. Agora, Fabio deixou a direção do icônico Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro para ser sócio da Tropix, plataforma mais conhecida de negociação de NFTs no Brasil. Ele fará a gestão de arte da Tropix e da OFF Pix, novo braço da empresa, que cuidará dos registros das obras físicas. Na nova conpanhia, com sede no Rio de Janeiro, Szwarcwald se junta a um grupo liderado pelo executivo Daniel Peres Chor, herdeiro do grupo de shoppings centers brasileiros Multiplan. Daniel também largou um cargo de direção da Multiplan para presidir a Tropix. Motivos eles dizem ter de sobra para a troca: em 2021, os NFTs movimentaram US$ 21 bilhões no mundo. Apenas em janeiro de 2022, foram US$ 5 bilhões.

O economista Fabio Szwarcwald | Foto: Divulgação

…dos NFTs

Duas são as perguntas que Fabio Szwarcwald (ex-executivo do Credit Suisse e do Banco Votorantim e colecionador há quase duas décadas) mais escuta desde que fez uma imersão no universo dos NFTs. Primeira: esse mercado não é uma bolha? “Não. É uma das áreas em que aposto com total convicção. O futuro é esse.”

Que bicho é esse? 

Segunda pergunta: o que é, afinal, o NFT? Szwarcwald descreve a seguinte cena para explicar as três letras: o sujeito entra numa galeria de arte, se interessa por uma obra da artista carioca Adriana Varejão. Em vez de levar uma tela, ele compra a obra — tanto na versão física (a tela para colocar na parede da sala) quanto na digital. A transação será feita através de um contrato inteligente. “Para que o cara vai ter isso? Porque esse trabalho vai ser certificado. Não vai ter a chance de ser falsificado, por exemplo”, diz. Ele ainda chama atenção para a inovação dos smart contracts para os artistas, a partir do recebimento dos royalties das revendas. Uma lei brasileira define 5% do valor da obra para o autor em cada revenda. “Hoje, isso praticamente não é pago, porque poucos conseguem fiscalizar as revendas de obras. Com os smart contracts, esse valor é pago imediatamente quantas vezes uma obra é revendida.” 

Quase R$ 5 bilhões em 24 horas

Apesar dos prognósticos negativos sobre os investimentos em renda variável no país no fim de 2021, os investidores estrangeiros seguem no Brasil. Em apenas uma quarta-feira (2), foram aportados R$ 4,94 bilhões em ações de empresas brasileiras na B3. Quatro dias depois da bonança dos gringos, o investidor estrangeiro retirou R$ 34 milhões da bolsa brasileira. Foi o primeiro pregão do ano em que não houve fluxo positivo estrangeiro na B3.

bruno@revistaoeste.com 

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Revista Oeste