sexta-feira, 14 de maio de 2021

Epidemiologistas contestam decisão de Biden de liberar uso de máscaras para vacinados

Pessoas sem máscara andam em ônibus turístico em Nova York; epidemiologistas contestam decisão de Biden de liberar equipamento para vacinados - Carlo Allegri/Reu


THE NEW YORK TIMES

Quando as autoridades de saúde dos Estados Unidos disseram na quinta-feira (13) que os americanos totalmente vacinados não precisam mais usar máscaras na maioria dos lugares, foi uma surpresa para muitas pessoas que trabalham na saúde pública. Também foi um forte contraste com a opinião da grande maioria de epidemiologistas entrevistados nas duas últimas semanas pelo New York Times.

Numa pesquisa informal, 80% dos profissionais disseram acreditar que os americanos ainda devem usar máscaras em recintos públicos fechados durante ao menos mais um ano. Apenas 5% disseram que as pessoas podem parar de usá-las em ambientes fechados neste verão no hemisfério norte.

Sem máscaras, pessoas tomam banho de sol no Washington Square Park, em Nova York
Sem máscaras, pessoas tomam banho de sol no Washington Square Park, em Nova York
Brendan McDermid - 13.mai.21/Reuters

Em grandes multidões ao ar livre, como em shows ou manifestações, 88% dos epidemiologistas afirmaram que o uso de máscaras é necessário, mesmo para as pessoas totalmente vacinadas.

"A menos que a taxa de vacinação aumente para 80% a 90% nos próximos meses, devemos usar máscaras em grandes ambientes públicos fechados", disse Vivian Towe, diretora de programa no Instituto de Pesquisas de Resultados Centrados em Pacientes.

As respostas de 723 epidemiologistas foram enviadas entre 28 de abril e 10 de maio, antes da nova diretriz do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês). A pesquisa consultou os especialistas em saúde pública sobre estar ao ar livre em grupos de vários tamanhos e sobre estar em espaços fechados com pessoas cuja situação vacinal é desconhecida.

As situações estavam de acordo com a nova orientação que rege o comportamento em locais públicos, independentemente do tamanho, onde é impossível saber se as outras pessoas foram vacinadas.

As autoridades federais já disseram que os indivíduos vacinados podem ficar em ambientes fechados com outros vacinados, e a maioria dos epidemiologistas concordou. Mas a nova orientação do CDC diz que as pessoas totalmente vacinadas não precisam mais usar máscaras, independentemente do tamanho da reunião ou se o local é fechado ou aberto, exceto em certas situações, como no transporte público.

Muitos epidemiologistas, por outro lado, fizeram coro ao CDC, dizendo que desde que as pessoas estejam totalmente vacinadas elas podem se reunir sem precauções. Mas o órgão sanitário foi além dos epidemiologistas, dando aprovação para que as pessoas imunizadas parem de usar máscara em grupos com um número desconhecido de pessoas não vacinadas. "Ou você confia na vacina ou não", defendeu Kristin Harrington, doutoranda em epidemiologia na Universidade Emory. "Se confiamos na vacina, significa que um número ilimitado de indivíduos vacinados deve poder se reunir."

Outros entrevistados fizeram ressalvas de que, como o vírus continua se espalhando, as máscaras são importantes para proteger indivíduos de alto risco e os que não podem se vacinar, como crianças ou pessoas com condições de saúde subjacentes. "Até que a transmissão comunitária diminua, o uso de máscaras protege toda a comunidade e as outras pessoas na sala", incluindo crianças, pessoas imunodeprimidas e comunidades negras e latinas que foram atingidas com mais força pela Covid-19, disse Julia Raifman, professora-assistente de saúde pública na Universidade de Boston.

Um quarto dos epidemiologistas pesquisados disse acreditar que as pessoas precisariam continuar usando máscaras em certos ambientes indefinidamente, e alguns afirmam que pretendem continuar a usá-las em lugares como aviões ou teatros, ou durante a temporada de vírus no inverno americano.

"Acho que vou usar máscara em todas as temporadas de gripe agora", disse Allison Stewart, principal epidemiologista do distrito de saúde do condado de Williamson, no Texas. "Certamente foi bom não ficar doente durante mais de um ano."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves


 Claire Cain Miller, Kevin Quealy e Margot Sanger-Katz, The New York Times