quarta-feira, 5 de maio de 2021

Ataque a lockdown pavimenta reeleição de governadora de Madri, Isabel Díaz Ayuso

Candidata conservadora mais que dobrou os assentos na Assembleia regional


BRUXELAS

Com uma campanha contra restrições rígidas antipandemia e ataques aos socialistas do governo central, a candidata de centro-direita Isabel Díaz Ayuso, 42, reelegeu-se para o governo de Madri —a mais rica região da Espanha.

Seu Partido Popular (PP), que controla Madri há 26 anos, mais que dobrou a participação na Assembleia, passando de 30 para 65 assentos —são necessários 69 para a maioria—, com 99% dos votos apurados.

Centenas de apoiadores se reuniram na sede do PP repetindo gritos de "Liberdade, liberdade" —palavra adotada como slogan pela campanha agora vitoriosa— assim que os primeiros resultados começaram a ser divulgados.

"A liberdade venceu", disse Pablo Casado, o líder do partido. Segundo ele, os eleitores confiaram no enfrentamento de Ayuso para a crise do coronavírus.

"Liberdade, sempre, sempre", completou ela.

Com isso, Ayuso poderá reassumir o cargo sem que o ultradireitista Vox, que levou 13 cadeiras, faça parte da coalizão de governo. Basta que o partido se abstenha na votação para confirmá-la no posto.

A conservadora Isabel Díaz Ayuso 
acena a apoiadores na sede
do Partido Popular, em Madri 
Pierre-Philippe Marcou/AFP

Ela não poderá contar com seu antigo parceiro de coligação, o Ciudadanos, que não conquistou os 5% de votos necessários para ocupar assentos na Assembleia.

O Vox já apoiava a coligação anterior, mas sem participação no governo. Declarações de Ayuso de que uma aproximação com a sigla anti-imigração "não era o fim do mundo" inflamaram opositores, que a acusaram de simpatia pelo fascismo.

O resultado incontestável da candidata conservadora na capital espanhola deve projetá-la como uma das principais forças políticas nacionais. Durante a campanha, dominada pela pandemia, ela apostou no cansaço da população com as restrições e quarentenas e atacou o governo central por prejudicar Madri.

Definindo-se como libertária, determinou limites menos rígidos a bares e restaurantes, sob o argumento de que seria inviável fechá-los antes das 23h numa cidade conhecida por seus hábitos noturnos.

“Provavelmente em outras províncias, tudo termina às 20h”, provocou —em algumas regiões, o toque de recolher começa às 18h. "No estilo de vida madrilenho, as pessoas trabalham com responsabilidade e são tratadas como adultos", afirmou ao defender sua estratégia.

A região de Madri, onde vivem 7 milhões dos 47 milhões de espanhóis, registrou 343 casos de coronavírus a cada 100 mil habitantes nos últimos 14 dias —a média nacional foi de 213. E a área tem a maior taxa de ocupação das UTIs do país, com 44% dos leitos em uso.

Alvos principais dos ataques da conservadora durante a campanha, os partidos à esquerda não garantiram apoio suficiente para desafiar um governo do PP.

O socialista PSOE, do primeiro-ministro Pedro Sánchez, perdeu assentos na Assembleia de Madri: dos 37 atuais, conquistou 24. Seu potencial aliado de esquerda Podemos cresceu de 7 para 10 cadeiras.

Somando os 65 assentos do PP e os 13 do Vox, o bloco de direita totaliza 78 votos e aumenta para 20 a liderança em relação ao de esquerda, que conquistou 58 cadeiras (24 do PSOE, 24 do Más Madrid e 10 do Podemos).

Dois anos atrás, essa diferença era de apenas quatro assentos.​

Após o resultado, Pablo Iglesias, do Podemos, disse que abandonará os cargos e a política. Iglesias, 42, havia renunciado ao cargo de vice-premiê da Espanha para disputar essa eleição.

No polo progressista, o principal vencedor foi o Más Madrid, de plataforma ambientalista e feminista, que cresceu em popularidade nos últimos dois meses e levou 24 assentos.

Com Reuters

Ana Estela de Sousa Pinto, Folha de São Paulo