quarta-feira, 29 de novembro de 2017

"Sem vigor para competir", editorial do Estadão

Com US$ 66,20 bilhões exportados de janeiro a outubro, ou 12% mais que um ano antes, os produtores de manufaturados vêm usando o comércio exterior como um dos motores de sua recuperação. O desempenho do setor automobilístico é especialmente notável, com aumento de 51,6% na receita de exportação – US$ 13,12 bilhões – de veículos montados e máquinas agrícolas e rodoviárias. Mas, apesar da melhora das vendas externas e da contribuição do comércio para a reativação industrial, depois de uma funda recessão, o setor de manufaturas está longe de retomar a posição, mantida até há dez anos, de gerador de mais de metade da receita cambial brasileira. Além disso, a presença da indústria brasileira no mercado global continua muito modesta. Esse é mais um sintoma de erros graves na estratégia nacional de desenvolvimento.
A presença pouco significativa do Brasil no mercado global é evidente mesmo quando se considera o total de suas vendas externas, sem limitar a análise ao desempenho do setor de manufaturas. Gigante pelas dimensões quase continentais, pela enorme e eficiente produção agropecuária e mesmo pelo tamanho de sua economia, uma das dez maiores do mundo, o Brasil é no entanto um anão no comércio internacional. O País contribuiu com apenas 1,16% das exportações mundiais no ano passado, ficando em modestíssimo 25.º lugar entre os exportadores de bens. Sua classificação tem oscilado, mas num intervalo limitado.
A posição brasileira no comércio internacional de manufaturados é ainda mais discreta. Classificado em 30.º lugar, o País participou do mercado com 0,61% do total embarcado em todo o mundo, no ano passado. Os otimistas poderão celebrar pelo menos um avanço. Em 2015, o País havia ficado na 31.ª posição. Os dados são da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Mais uma vez, em 2016, o volume das trocas internacionais cresceu menos que a produção global, e mais uma vez o desempenho do Brasil foi inferior ao das maiores economias e ao dos grandes países emergentes. Entre os líderes houve pouca mudança. China e Estados Unidos continuaram em primeiro e em segundo lugares, nas exportações totais. A Coreia do Sul caiu da 6.ª para a 8.ª posição, Hong Kong subiu da 7.ª para a 6.ª e mais uns poucos países trocaram de lugar no pelotão dianteiro.
Também houve pouca mudança na escala dos maiores vendedores de manufaturados. China, Alemanha, Estados Unidos e Japão mantiveram-se nos quatro primeiros postos. A Coreia do Sul passou do 6.º para o 5.º lugar, trocando de posição com Hong Kong.
A classificação brasileira em 2016 foi um pouco pior que a de dez anos antes, quando o País ocupou o 27.º lugar entre os exportadores de manufaturados. A melhor classificação, no 32.º posto, ocorreu em 2014. Entre 2009 e 2016, as posições oscilaram entre a 29.ª e a 32.ª, sem grandes alterações.
Enquanto se mantinha com pouca variação no mercado internacional, a exportação brasileira de manufaturados perdia presença, no entanto, no conjunto do comércio exterior brasileiro. Neste ano as vendas desses produtos proporcionaram entre janeiro e outubro receita de US$ 66,20 bilhões, valor correspondente a 36% do total das exportações.
Entre 2000 e 2007 as vendas desses produtos foram sempre superiores a 50% do valor total das exportações. Para facilitar a comparação com os números de 2017, tomem-se os dados de janeiro a outubro de cada ano. A participação dos manufaturados declinou, entre 2000 e 2007, de 59% para 52%. Em 2008 caiu para 46%, seguiu diminuindo e nunca mais se aproximou de 50%.
O aumento das vendas de produtos básicos explica, em parte, a mudança na composição das exportações. Mas é inegável a perda de vigor da maior parte da indústria desde antes da recessão. Deram-se favores fiscais e financeiros e proteção à indústria nos últimos dez anos, mas pouco se fez para estimular produtividade, qualidade e participação em mercados importantes. Essa é uma pauta fundamental para qualquer governo responsável.