Os problemas, com a Sete Brasil no epicentro, repetem histórias antigas em que o Estado acha que tudo pode e, no final, os prejuízos terminam pagos pelo contribuinte
Os estaleiros passam por crises cíclicas no Brasil. Antes da atual, houve a dos anos 1980, ainda na ditadura militar, quando explodiu um programa ambicioso lançado no governo Ernesto Geisel a fim de se construir uma enorme frota no Brasil, para armadores nacionais e exportação. Havia subsídios, reserva de mercado, garantias típicas que o Estado oferece quando resolve usar a mão forte para substituir importações. Três décadas depois, está em curso mais uma crise, com características semelhantes: ainda na gestão Lula, a confirmação de grandes reservas de petróleo no pré-sal inspirou a visão estatista que o Planalto tem do país, e o governo, de que Dilma Rousseff era chefe da Casa Civil, decidiu ir pelo mesmo caminho de Geisel.
Diante da previsível grande demanda por sondas de perfuração pela Petrobras — transformada em monopolista nas operações no pré-sal —, fundou-se uma empresa, a Sete Brasil, para financiar a construção de estaleiros aos quais encomendaria 29 equipamentos, entre navios-sonda e plataformas, a serem alugados à Petrobras.
Negócio bilionário, mas de baixo risco, porque contaria com o respaldo do BNDES e de um forte e único cliente. Pois esse enorme castelo começou a desmoronar com o petrolão e a consequente suspensão dos desembolsos pela Petrobras. Para piorar, o ex-gerente da estatal Pedro Barusco, em delação premiada ao Ministério Público, disse que também havia cobrança de propinas a estaleiros fornecedores da Sete Brasil, de que ele era diretor.
Com mais outro complicador: nos estaleiros há empreiteiras do cartel que atuou no assalto à Petrobras e com as quais a empresa está proibida de fazer negócios.
Neste quadro dantesco, o BNDES, que já não concedera um primeiro crédito de US$ 5 bilhões à Sete Brasil, em 2013, como prometera, fechou os cofres. Bancos privados, alguns deles sócios da empresa — Bradesco, Santander — fizerem empréstimos-ponte, e não têm perspectiva de reaver o dinheiro. Tanto que pelo menos um dos bancos, o inglês Standard Chaterer, deseja executar as garantias do crédito.
Informa-se, porém, que se negocia empurrar para frente o problema: segundo o jornal “Valor”, os sócios da Sete Brasil poderão injetar mais algo entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão na empresa, enquanto se negocia uma prorrogação de 90 dias para o vencimento dos tais empréstimos-ponte.
Caminha-se para um desfecho já visto no Brasil. Voluntarioso, o Estado acha que tudo pode, induz o surgimento de estaleiros, sem maiores preocupações com custos e produtividade. Em algum momento, a operação foge do controle, não é mais possível recuar e, como sempre, os prejuízos vão para a conta da Viúva. Mesmo sem petrolão, tratava-se de um negócio fadado a não dar certo, como ensina a História.
E era esperado que surgissem escândalos nessa conjugação entre poder absoluto de uma corrente política dentro da estatal e recursos públicos fartos. São ingredientes clássicos da corrupção.