segunda-feira, 30 de março de 2015

Chefe da quadrilha, Lula pede que comparsas 'levantem a cabeça'. O ´Barba` poderia fazer um teste: ir a um shopping, a um restaurante...


MARINA DIAS, CATIA SEABRA e GUSTAVO URIBE - Folha de São Paulo

Marlene Bergamo - 30.mar.2015/Folhapress
Lula e o presidente do PT, Rui Falcão, participam de reunião com as executivas estaduais do partido
Lula e o presidente do PT, Rui Falcão, participam de reunião com as executivas estaduais do partido


Em meio à crise que traga o Palácio do Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conclamou dirigentes petistas a "levantarem a cabeça" e "irem à luta" na criação de uma estratégia para reduzir os danos causados à imagem do partido.

"O PT não pode ficar acuado diante dessa agressividade odiosa", disse o ex-presidente, segundo relatos de alguns dos presentes.

Com o aval de Lula e do presidente nacional do PT, Rui Falcão, os dirigentes estaduais petistas aprovaram um manifesto no qual defendem que é hora de a legenda "sair da defensiva", "assumir responsabilidades" e "corrigir erros".

Entre as medidas, Lula pediu o aprofundamento das relações do PT com os movimentos sociais via CUT (Central Única dos Trabalhadores), apoiando as manifestações organizadas pelas centrais e ampliando as alianças petistas.
Falcão afirmou que o PT já pediu à presidente Dilma Rousseff (PT) que volte a receber lideranças dos movimentos sociais e recrie as chamadas conferências nacionais, promovidas durante os dois mandatos de Lula.

Outra defesa de Falcão foi o fim das doações empresariais para o partido. A proposta foi debatida no encontro desta segunda mas só será discutida formalmente na reunião do diretório nacional do PT, nos dias 16 e 17 de abril.

O manifesto reconhece ainda que o partido cometeu erros e deve retomar os valores que pautaram sua criação em 1980. "A fim de que retome sua radicalidade política, seu caráter plural e não dogmático", diz o texto.

Um dos temas caros ao PT, a corrupção está no documento baseada na tese "nós contra eles", utilizada na campanha à reeleição de Dilma. Para os petistas, "querem fazer do PT bode expiatório da corrupção nacional e de dificuldades passageiras da economia."

As lideranças do partido comparam os ataques sofridos pela sigla em meio às investigações do esquema de corrupção na Petrobras ao sequestro do empresário Abílio Diniz, em 1989, que, segundo eles, foi "imputado ao PT".

Para Falcão, a sigla é alvo de uma campanha de "cerco" e "aniquilamento". 

"Faço um chamamento a nós sairmos da defensiva, enfrentarmos de cabeça erguida àqueles que nos atacam, porque é impensável que a gente possa ser acusado de corrupção", disse o presidente do PT em entrevista à imprensa após a reunião.

Os petistas ainda defendem dez bandeiras tradicionais da esquerda para reaproximar o partido e, consequentemente, o governo Dilma da base social do partido.

As principais propostas são: a orientação da bancada do PT no Congresso a aprovar proposta de taxação das grandes fortunas, que sofre resistência de setores do governo federal, a aprovação das reformas política e tributária, a aplicação dos direitos trabalhistas, na contramão do ajuste fiscal proposto pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, entre outras.

Fazendo coro ao discurso mais otimista de Lula, o texto afirma: "A hora não é de recuo, é de avançar com coragem e determinação".

Nos bastidores, porém, aliados do ex-presidente afirmam que ele vê o cenário de uma perspectiva mais desanimadora. Avalia que o governo está paralisado e que Dilma precisa retomar as concessões e as obras pelo país, além de resolver a crise política com o pacto definitivo com o PMDB.

VACCARI

Réu por suspeitas de receber propina no esquema da Petrobras, o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, não compareceu à reunião. Foi a primeira vez este ano que ele se ausentou de um encontro da executiva nacional do partido, instância da qual faz parte.

Petistas afirmam que Vaccari temia alguma manifestação pela sua saída.
Segundo a Folha apurou, Lula defende o afastamento imediato de Vaccari e tem dito a aliados que, se permanecer no cargo, o tesoureiro não consegue nem se defender nem ajudar o partido.

Após uma reunião com Lula pela manhã, o ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro (PT) defendeu que o partido afaste Vaccari do cargo preventivamente caso ele não o faça de maneira voluntária.

O presidente do PT, no entanto, ponderou que só pode deliberar sobre o que chega oficialmente ao partido e que, até agora, Tarso Genro não fez qualquer encaminhamento formal sobre o caso de Vaccari.