domingo, 1 de março de 2015

Dilma e Levy se desentendem no mesmo idioma

Com Blog do josias


Com certa dose de suplício, uma pessoa pode controlar todos os barulhos do seu corpo —o pum, o arroto, o espirro… Mas o ruído do subconsciente ninguém controla. Ele fica martelando dentro da cabeça até escapar pela boca quando menos se espera. Foi o que sucedeu com Joaquim Levy na sexta-feira.
Traído pelo inconsciente, o ministro da Fazenda sofreu um incidente verbal ao se referir à política de desoneração da folha de pagamento como “um negócio muito grosseiro''. Uma “brincadeira” que, iniciada sob o antecessor Guido Mantega, impediu o governo de arrecadar R$ 25 bilhões.
O Planalto abespinhou-se instantaneamente. E Dilma torceu o nariz de Levy neste sábado, tachando de “infeliz” o sincericídio do seu ministro. Levy penitenciou-se em privado. Reconheceu que foi “infeliz” na escolha das palavras. “Fui coloquial demais”, disse. O diabo é que tudo o que a pessoa diz conscientemente nunca é tão sincero quanto o que lhe escapa inconscientemente.
O que o subconsciente de Levy declarou, com outras palavras, foi o seguinte: considerando-se a relação custo-benefício, a tática da desoneração revelou-se um fiasco. Dilma discordou. “Eu acredito que a desoneração da folha foi importantíssima e continua sendo.” Quer dizer: para a presidente, a coisa deu certo.
Dilma precisa chamar Levy, urgentemente, para uma conversa. Na semana anterior, o ministro já havia declarado que o primeiro reinado de sua chefe fora tisnado por uma “escorrecadazinha” na área fiscal. Antes que seu subconsciente vaze novas declarações tóxicas, convém combinar o que é “dar certo”.
A presidente e o ministro terão de definir índices e combinar critérios. Por exemplo: “certo” se mede pela propaganda do João Santana ou pela realidade? Que peso relativo deve ser atribuído aos juros altos, à inflação acima do teto da meta e ao PIB negativo?
Uma vez estabelecido o consenso sobre o que é “dar certo”, Dilma só precisará explicar à plateia por que diabos foi buscar Levy, um eleitor de Aécio, para dar continuidade aos “êxitos'' de Guido Mantega, cuja demissão fora anunciada com uma antecedência de três meses. Levando a busca a sério, a presidente talvez comece a falar a mesma língua do subconsciente do ministro da Fazenda. Do contrário, continuarão se desentendendo no mesmo idioma.