Karla Mendes - O Globo
Engevix é alvo de processo de falência; OAS adota plano de redução de despesas
A Operação Lava-Jato, que apura corrupção na Petrobras, complicou a situação financeira das maiores construtoras do país. Empreiteiras investigadas pela PF têm tido dificuldades para obter crédito e pagar a fornecedores e funcionários. Algumas já começam a demitir.
A Engevix, por exemplo, é alvo de processo de falência na Vara Cível de Barueri (SP), onde fica a sede da companhia. O processo foi instaurado pela empresa Locar Transportes Técnicos e Guindastes Ltda., que solicitou à Justiça a falência da empreiteira em função de uma dívida de cerca de R$ 895 mil.
O montante se refere ao pagamento de três parcelas de quase R$ 300 mil cada uma, vencidas em 24 de outubro de 2014.
O pedido, assinado pelo advogado Otto Augusto Urbano Andari, foi protocolado em 18 de dezembro.
A Engevix avalia, segundo fontes próximas à empresa, ingressar com pedido de recuperação judicial. Só não o fez, segundo essas fontes, por receio de piorar ainda mais o acesso da empresa ao crédito.
O pedido de falência da Engevix pode provocar uma onda de processos contra as outras empresas envolvidas na Lava-Jato, uma vez que o cenário não é nada positivo, sobretudo depois da decisão da Petrobras de realizar o bloqueio cautelar da participação das companhias e de suas subsidiárias em licitações futuras ou em andamento na estatal.
JATOS EXECUTIVOS À VENDA
A OAS deu início à venda de jatos utilizados pela diretoria e cancelou um projeto na África, segundo fontes. A companhia também avalia a possibilidade de vender sua participação na Invepar, holding de investimentos em infraestrutura. A OAS e suas subsidiárias tiveram suas notas rebaixadas pela FitchRatings semana passada.
A UTC e a Mendes Junior, por sua vez, têm tido dificuldade para pagar aos funcionários e não teriam pago o 13º salário, além de estar demitindo grande contingente de empregados, segundo fontes.
Um dos principais problemas para essas empresas é a suspensão ou o cancelamento do pagamento de aditivos contratuais pela Petrobras, avalia Ricardo Carvalho, diretor sênior da FitchRatings:
— A disposição da Petrobras para pagar (os aditivos) é muito baixa.
Alexandre Garcia, analista sênior da FitchRatings, acredita que a situação é consequência do fato de que funcionários da Petrobras não se sentem confortáveis para efetuar pagamentos às empreiteiras devido ao receio de ter seus nomes envolvidos na investigação — mesmo nos casos em que os pagamentos são realmente necessários.
No Rio, a reclamação de falta de pagamento por parte da Petrobras é geral, diz o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Julio Bueno.
EMPRESAS ADMITEM PROBLEMAS
A Engevix, por meio de nota, informou que “não há recuperação judicial da empresa”. A empreiteira reconheceu, contudo, que enfrenta “um momento difícil” e que analisa a venda de ativos.
Procurada, a OAS admitiu que os aditivos contratuais com a Petrobras “se encontram em discussão”. A empresa informou que suspendeu temporariamente todos os pagamentos financeiros não relacionados à operação, devido a dificuldades de acesso a crédito. Além disso, adotou um plano de redução de despesas e estuda a venda ativos.
A UTC informou que, “diante das perspectivas de redução da atividade econômica para este ano”, tomou a decisão de “readequar seu quadro de funcionários”. Procuradas, a Mendes Junior e o advogado da Locar não se pronunciaram.
Em nota, a Petrobras informou que “cumpre todo aditivo já celebrado” e que “está em dia” com suas obrigações contratuais e pagamentos.