segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Ação da Petrobras cai ao menor valor em 11 anos e já perdeu 14% em 2015

Rennan Setti - O Globo

Bolsa fecha em queda de 2,05%; dólar chega a R$ 2,73 mas encerra valendo R$ 2,70

A Petrobras não tem o que comemorar em 2015: o ano mal começou e as ações da estatal já caíram 14% na Bolsa, perdendo R$ 17,7 bilhões em valor de mercado em apenas dois pregões. Nesta segunda-feira, com preocupações sobre a Grécia e desaceleração na China e informações desencontrados do governo sobre ajustes na economia fizeram os papéis da petrolífera despencarem ao menor valor em mais de 11 anos, encerrando cotadas bem abaixo de R$ 9. Com a queda forte da companhia, a Bolsa brasileira inicia a semana em terreno negativo. 

O Ibovespa, principal índice do mercado acionário local, caiu 2,05%, aos 47.516 pontos. Já no mercado de câmbio, o dólar comercial avançava 0,59% ante o real, a R$ 2,707 na compra e a R$ 2,709 na venda. Na máxima do dia, a moeda americana chegou a valer R$ 2,732.

Na Grécia, a preocupação é que a crise política gere instabilidade na região, e já se especula a saída do país da União Europeia. Já na China o temor dos investidores é de uma desaceleração ainda maior na economia do país asiático. Essa redução no ritmo de crescimento tem afetado fortemente o preço de commodities, o que prejudica os países emergentes exportadores de matérias-primas, como o Brasil.

O euro caiu ao seu menor valor contra o dólar em quase nove anos. Além do temor de uma saída grega, a moeda é pressionada pelas especulações de que o Banco Central Europeu (BCE) está próximo de iniciar um grande programa de compra de ativos para estimular a economia. No meio da tarde, a moeda europeia caía 0,7% frente à divisa americana, a US$ 1,191. O euro chegou a valer a US$ 1,186, menor valor desde março de 2006.

É o menor preço das commodities, além das denúncias de corrupção no âmbito da Lava Jato, que tem prejudicado o desempenho das ações da Petrobras, que já aprofundaram a queda no início da tarde. O preço do petróleo tipo Brent opera novamente em queda, abaixo dos US$ 54 o barril. Os papéis preferenciais da estatal fecharam em queda de 8,01%, a R$ 8,61, e os ordinários recuaram 8,11%, a R$ 8,27 — o menor valor desde 30 de setembro de 2003, quando fechou valendo R$ 8,23. O valor de mercado da companhia é de R$ 109,7 bilhões.

— A principal força negativa nos mercados hoje é a cotação do petróleo, que cai com as perspectivas negativas de crescimento global e com o fato de os EUA prever se tornar exportador de petróleo, algo inédito — explicou Maurício Pedrosa, estrategista da Queluz Asset Management.

— A Petrobras é afetada, além do preço do petróleo, pelo fato de não haver qualquer alteração nos seus quadros mesmo diante de situação tão grave. A sensação que dá é que, quem investe na companhia no longo prazo, está investindo no escuro — analisou Alvaro Bandeira, sócio da Órama.

Além dos fatores externos, Adriano Moreno, estrategista da Futura Invest, destaca uma influência negativa interna sobre o mercado.

— Pegou muito mal a presidente Dilma ter desautorizado o ministro do Planejamento sobre mudanças no cálculo do reajuste do salário mínimo. Isso aconteceu logo na virada do ano e deixou a sensação de que talvez a autonomia da nova equipe econômica será limitada — afirmou o analista.

No final de semana, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, precisou divulgar uma nota afirmando que a política de reajuste não será alterada após a presidente Dilma Rousseff demonstrar descontentamento com as declarações.

“Em 24 horas a presidente já começou a tirar a autoridade dos principais ministros. Preocupante, até porque o salário mínimo tem crescido acima do aumento de produtividade dos trabalhadores brasileiros”, afirmou, em relatório a clientes, os analistas da Yield Capital.

Apesar das pressões negativas, Adriano Moreno acredita que a Bolsa brasileira tem pouco espaço para cair mais nos próximos dias, uma vez que já vem de uma queda de 3% no primeiro pregão do ano, na sexta-feira.

SETOR DE EDUCAÇÃO SOFRE COM MUDANÇA NO FIES

Apesar de a valorização do dólar ter sido global, mudanças no programa de intervenção do Banco Central também contribuíram internamente para a tendência. O BC anunciou no fim de dezembro que reduziria em 2015 de US$ 200 milhões para R$ 100 milhões a oferta diária de contratos de swap cambial — operação equivalente à venda de dólares no mercado futuro e que busca desvalorizar a moeda estrangeira. O BC também disse que o programa vai vigorar por pelo quatro meses, em vez dos seis meses de a renovação que a autarquia vinha promovendo.

Entre as ações, o Ibovespa operou em queda generalizada, com praticamente todas papéis registrando desvalorização. Depois da Petrobras, a principal contribuição negativa veio da rede de universidades Kroton, que caiu 6,35%. As companhias do setor de educação são afetadas pela mudança nas regras do Fies, programa de financiamento universitário do governo federal. A partir deste ano, os estudantes precisarão atingir pelo menos 450 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e não zerar a redação para conseguirem o financiamento. O programa responde por uma parcela importante das receitas das universidades privadas. A ação da Estácio caiu 5,71%.

Em cenário negativo para a economia global, a Vale registrou queda de 1,50% (ON) e 1,07% (PN). Outras “blue chips” (ações mais líquidas e importantes da Bolsa) também pressionaram o índice. A Ambev recuou 2,19%. O Banco do Brasil caiu 2,08%.