quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Moro determina bloqueio de até R$ 6 milhões das contas do filho de Aroldo Cedraz, ministro do TCU




Tiago Cedraz é filho do ministro Aroldo Cedraz, do Tribunal de Contas da União (TCU), e um dos alvos da 45ª fase da Lava Jato (Foto: Reprodução/TV Globo)
Tiago Cedraz é filho do ministro Aroldo Cedraz, do Tribunal de Contas da União (TCU), e um dos alvos da 45ª fase da Lava Jato (Foto: Reprodução/TV Globo)


Thais Kaniak - G1 


O juiz federal Sérgio Moro – responsável pelos processos da Operação Lava Jato na primeira instância – determinou o bloqueio de até R$ 6 milhões das contas e investimentos bancários de Tiago Cedraz e Sergio Tourinho Dantas . Os dois advogados são investigados na 45ª fase da operação, deflagrada nesta quarta-feira (23).

Tiago Cedraz é filho do ministro Aroldo Cedraz, do Tribunal de Contas da União (TCU), e um dos alvos de busca e apreensão, cumprido em Brasília (DF), desta etapa. 

Conforme Sérgio Moro, o valor ordenado nos bloqueios correspondente aproximadamente ao total pago pela empresa norte-americana Sargeant Marine, que forneceu asfalto para a Petrobras, entre 2010 e 2013, a título de comissão.

Os bloqueios devem ser implementados pelo Banco Central do Brasil (Bacen), e os comprovantes anexados aos autos. Até a última atualização desta reportagem, eles não haviam sido protocolados.

Ao todo, quatro mandados de busca e apreensão foram cumpridos na atual fase, batizada de Abate II. Sergio Tourinho Dantas também foi alvo de busca e apreensão, em endereço localizado em Salvador (BA).

"Observo que a medida ora determinada apenas gera o bloqueio do saldo do dia constante nas contas ou nos investimentos, não impedindo, portanto, continuidade das atividades das empresas ou entidades, considerando aquelas que eventualmente exerçam atividade econômica real", explicou o juiz federal no despacho que autorizou o cumprimento dos mandados e os bloqueios.

Tiago Cedraz divulgou nota reiterando "sua tranquilidade quanto aos fatos apurados por jamais ter participado de qualquer conduta ilícita". Cedraz afirmou que "confia na apuração conduzida pela Força Tarefa da Lava Jato e permanece à disposição para quaisquer esclarecimentos necessários".

G1 tenta contato com a defesa de Sergio Tourinho Dantas.



Indícios


No despacho, Sérgio Moro justificou os mandados de busca e apreensão: "Os mandados terão por objeto a coleta de provas relativa à prática pelos investigados dos crimes de corrupção, concussão, lavagem de dinheiro, associação criminosa, evasão fraudulenta de divisas, violação de sigilo funcional e de falsidade, além dos crimes antecedentes à lavagem de dinheiro".

"Embora Sergio Tourinho Dantas e Tiago Cedraz Leite Oliveira sejam advogados, a imunidade profissional não abrange suas atividades, já que aqui há indícios, em cognição sumária, de sua participação em esquema criminoso que envolveu o pagamento de vantagem indevida a agentes da Petrobras, além de comissões para eles próprios", afirmou Sérgio Moro.

O juiz pediu para que a autoridade policial, ao cumprir os mandados de busca e apreensão nos locais onde os dois advogados moram, tivesse "especial cautela" para não apreender documentos relacionados a clientes deles.

"Com exceção por evidente dos negócios que constituem objeto da presente investigação, já que há indícios de crimes, como, por exemplo, qualquer negócio envolvendo a Petrobras", explicou Sérgio Moro.


Principais suspeitas


  • Operação Abate II apura a participação de 2 advogados em esquema de propina na Petrobras.
  • A ação é uma continuação da Abate I, realizada há 5 dias para investigar irregularidades na contratação da Sargeant Marine pela Petrobras.
  • Segundo a força-tarefa da Lava Jato, a Sargeant pagou US$ 500 mil ao PT, ao ex-deputado Cândido Vaccarezza e a funcionários da Petrobras para fornecer asfalto à estatal.
  • A Abate II indica que Cedraz e outro advogado receberam comissões em contas na Suíça para facilitar a contratação da Sargeant pela Petrobras.

Citações sobre Tiago Cedraz


O lobista Jorge Luz, que está preso em Curitiba, disse em depoimento que o advogado Tiago Cedraz intermediou conversas entre a empresa norte-americana Sargeant Marine e a Petrobras e que ele teria recebido US$ 20 mil em propina por isso. Cedraz recebeu os recursos em contas mantidas na Suíça em nome de offshores, de acordo com as investigações.

Nos últimos anos, Tiago Cedraz se tornou um nome recorrente na Lava Jato. Em julho de 2015, o advogado já havia sido alvo de mandado de busca e apreensão em seu escritório de advocacia, o Cedraz Advogados.

Delatores da Lava Jato – como Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, e executivos e ex-dirigentes da Odebtrech – também citaram Tiago Cedraz em depoimentos.