terça-feira, 1 de março de 2016

Trump tem dia D para consolidar nome para disputa à Casa Branca

Henrique Gomes Batista - O Globo


WASHINGTON - Se os resultados das pesquisas se confirmarem hoje, Donald Trump dará um grande passo para conquistar a nomeação do Partido Republicano. E especialistas começam a debater as reais chances do bilionário conquistar a Casa Branca nas eleições de novembro. Conquistando apoios dos descrentes com a política, com um discurso direto e polêmico, Trump é o favorito em dez dos 12 estados que realizam primárias nesta Super Terça. Assim, deverá enfrentar Hillary Clinton, que também espera um bom dia para cimentar sua indicação no partido Democrata.

— Trump está muito forte e deve dar um grande passo para a nomeação. E todos os fundamentos sugerem que será um ano republicano: a aprovação do governo não é muito alta para que Obama faça o sucessor. É cedo para fazer prognósticos, mas não ficaria surpreso se Trump for eleito — afirma Cliff Young, presidente do instituto de pesquisa Ipsos nos EUA.

Além do cenário nacional, onde Obama quase sempre tem desaprovação maior que aprovação, pesa o fenômeno eleitoral de Trump. Com uma linguagem direta, que seus apoiadores veem como sincera, ele tem mobilizado pessoas que já haviam desistido de votar, fenômeno semelhante ao ocorrido em 2008 com Barack Obama, mas com grupos à esquerda e minorias. Neste ano, as primárias e caucus (reunião de eleitores) republicanos têm registrado recordes de participação. É de se esperar que, Trump sendo o candidato, esta população também se mobilizará para a eleição geral — nos EUA o voto não é obrigatório.

Ontem, o jornal “New York Times” apontou que Trump repete, de forma distorcida, a campanha de Obama, com foco na individualidade do candidato, comunicação simples e direta e, de certa maneira, desafiando a estrutura de seu partido (a elite democrata preferia, em 2008, Hillary Clinton). Programas conservadores de rádio começaram a dizer que Trump não é tão outsider quanto parece, principalmente pelas ideias econômicas, próximas do Partido Republicano. E aumenta o apoio de caciques do partido, como o governador de Nova Jersey, Chris Christie, e do senador Jeff Sessions, do Alabama.

“Algumas das pessoas que atualmente atuam no movimento #NeverTrump vão, de fato, acabar apoiando Trump. Hillary Clinton, provavelmente a candidata democrata, é divisiva, e conservadores anti-Trump vão concluir que ele é o menor de dois males”, escreveu Nate Silver, especialista em eleição do site FiveThirtyEight.

As pesquisas confirmam a força de Trump. Segundo a CNN, o magnata tem, nacionalmente, 49% do apoio entre republicanos, contra 16% de Marco Rubio e 15% de Ted Cruz, melhor resultado desde que o magnata entrou na disputa, em junho passado. Dos 12 estados republicanos que escolhem candidatos hoje, há grande disputa, segundo as pesquisas, no Colorado e no Texas.

Hillary prestes a confirmar indicação

A campanha republicana ficou ainda mais agressiva às vésperas da Super Terça. Mas a maior polêmica ficou, novamente, por conta de Trump. O bilionário não rejeitou o apoio de David Duke, conhecido líder do movimento da supremacia branca e antigo dirigente da Ku Klux Klan (KKK), que havia declarado que não votar em Trump seria “trair a nossa herança”. O magnata não recusou formalmente o apoio. Mas, depois, justificou o ocorrido por não ter ouvido a pergunta em uma entrevista por causa de um fone eletrônico defeituoso que usava no momento.

Na entrevista, Trump disse, em tom áspero, que não sabia quem era Duke, embora já tenha se referido a ele no passado. O magnata passou o dia de ontem, então, dizendo que não aceitava o apoio da KKK e de Duke. Em dezembro, líderes nazistas já haviam anunciado que votariam em Trump pelas propostas de restrição à muçulmanos nos EUA. No sábado, o ex-presidente mexicano Felipe Calderón comparou a estratégia de Trump à adotada por Hitler, dizendo que o pré-candidato republicano é racista e incita o ódio.

No lado democrata, Hillary Clinton lidera com folga em nove dos 11 estados que farão primárias hoje. Há um empate em Massachusetts e Bernie Sanders aparece com uma larga vantagem em Vermont, estado por onde é senador. Se os resultados se confirmarem, ela dará um grande passo para confirmar a nomeação. Em pesquisa nacional da CNN divulgada na noite de ontem, Hillary aparece com 55%, contra 38% de Sanders.