sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Temer se recusa a negociar CPMF no Congresso e sugere articulação pessoal de Dilma

Vera Rosa - O Estado de São Paulo

Aborrecido por não ter sido avisado sobre o plano, Temer não escondeu a contrariedade quando recebeu um telefonema da presidente, na tarde de quinta-feira, 27, pedindo ajuda na articulação política para aprovar a volta do imposto

O vice-presidente Michel Temer (PMDB) ao lado da presidente Dilma Rousseff (PT)
O vice-presidente Michel Temer (PMDB) ao lado da presidente Dilma Rousseff (PT)

A proposta do governo de recriar a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) pôs em lados opostos a presidente Dilma Rousseff e o vice Michel Temer. Aborrecido por não ter sido avisado sobre o plano, Temer não escondeu a contrariedade quando recebeu um telefonema da presidente, na tarde de quinta-feira, 27, pedindo ajuda na articulação política para aprovar a volta do imposto do cheque no Congresso.
"Não é momento de propor aumento de imposto, com a economia em recessão. Essa proposta não passa nem na Câmara e no Senado", disse Temer, segundo relato da conversa obtido pelo Estado. "Se querem levar isso adiante, saibam que o governo tem tudo para perder."
Dilma não gostou do que ouviu, mas afirmou ao vice que a recriação da CPMF tinha respaldo de governadores e era importante para tirar as contas públicas do quadro deficitário, previsto para 2016. Temer ponderou, então, que os governadores podem até dizer que apoiam, mas na hora H não mobilizam as bancadas de seus partidos no Congresso.
Diante da insistência da presidente, que se manteve irredutível, o vice sugeriu a Dilma que ela fizesse "pessoalmente" a articulação política para aprovar a proposta.
No Palácio do Planalto, um auxiliar da presidente disse que a conversa foi marcada pela rispidez, mas Temer negou. "Foi feito um diagnóstico realista da situação", afirmou o vice a aliados.
Temer ficou contrariado por não ter sido informado da intenção do governo de incluir a CPMF na proposta orçamentária de 2016. O telefonema de Dilma ocorreu por volta de 16h30, depois que a notícia já repercutia na imprensa. O vice estava em São Paulo para um jantar na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Na ocasião, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, chegou a pedir a demissão do titular da Fazenda, Joaquim Levy, definido por ele como "ministro do desemprego".
Em conversas reservadas, Temer disse que, embora o momento seja totalmente inoportuno, seria muito mais fácil para o governo aprovar no Congresso o projeto de lei complementar regulamentando a taxação das grandes fortunas, um imposto já previsto na Constituição de 1988.
A equipe econômica acredita, porém, que a volta da CPMF, extinta em 2007, no governo Lula, é hoje a única forma que o governo tem para fechar o buraco de aproximadamente R$ 70 bilhões, previsto no Orçamento de 2016.