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O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa disse a investigadores da Operação Lava Jato que tem "medo" dos políticos, que a estatal é "uma empresa quebrada" e que a compra de uma refinaria na Argentina no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi "desastrada" como os negócios pelos governos petistas.
As imagens dos depoimentos, que somam 45 horas de vídeos inéditos e estão em poder do Supremo Tribunal Federal, também revelam que um delegado ameaçou manter Costa preso por mais tempo se ele não entregasse gravações que a Polícia Federal achava que ele possuía.
Os vídeos documentam depoimentos prestados por Costa em Curitiba de 29 de agosto a 16 de setembro do ano passado, os primeiros depois que ele fechou acordo de delação premiada. Cópias dos videos estão nos inquéritos abertos pelo STF para investigar políticos suspeitos de envolvimento com a corrupção na Petrobras.
No início, Costa aparece falante, ao lado de sua advogada na época, Beatriz Catta Preta. Ao longo dos dias, começa a mostrar sinais de cansaço e deixa a barba crescer.
É no primeiro dia que ele diz temer por sua integridade física. "Eu tenho medo.
Porque nós estamos falando com [de] uma gente muito graúda", disse. Um delegado afirma que os citados não têm histórico de violência. Costa abre um sorriso e diz "Celso Daniel", o prefeito petista de Santo André (SP) assassinado no início de 2002.
O delegado pergunta se ele sabia algo sobre o crime. O ex-diretor apenas diz ter ouvido "de muita gente" que "foi o PT que encomendou".
No mesmo dia, Costa disse que a Petrobras está "tecnicamente quebrada", pois o governo a obrigou "a participar em 30% do pré-sal em tudo". A situação teria piorado no governo Dilma Rousseff, pois ela "segurou o preço da gasolina e matou o álcool".
Para o ex-diretor, Dilma e o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, como presidentes do conselho de administração da estatal, atuaram em defesa do governo, e não da empresa. Ele também criticou os representantes do setor privado no conselho, como o empresário Jorge Gerdau.
"Os demais conselheiros da iniciativa privada são omissos, vamos colocar essa palavra, na reunião do conselho. Porque normalmente são empresários e não querem ficar mal com o governo", afirmou o ex-diretor.
A pressão para que Costa entregasse gravações ocorreu no dia 1º de setembro. O delegado disse que o ex-diretor teria que "ficar mais tempo aí [na prisão] pensando, refletindo onde é que está esse troço". Costa reagiu: "Não, não me faça isso, pelo amor de Deus". Costa saiu da cadeia depois dos depoimentos e hoje cumpre prisão domiciliar.
Indagado sobre ativos da Petrobras na Argentina, Costa levantou dúvidas sobre a compra da refinaria Perez Companc por US$ 1,13 bilhão, em 2001, no governo FHC. O presidente da estatal era Philippe Reichstul. Essa compra foi tão desastrada quanto a compra [da refinaria] de Pasadena [EUA]", afirmou.
OUTRO LADO
O ex-presidente da Petrobras Philippe Reichstul (1999-2001) disse que "deve ter havido um erro" do delator "ou do ano ou do negócio", pois a venda da refinaria Perez Companc só foi feita em 2002, quando ele, Reichstul, já não presidia mais a companhia.
"Não fechei nem estudei o assunto Perez Companc. Não conheço os detalhes. Estrategicamente, porém, fazia sentido investir mais na Argentina naquele momento", disse.
O Palácio do Planalto e a Petrobras informaram que não iriam se manifestar sobre os comentários do delator Paulo Roberto Costa.
A assessoria do Grupo Gerdau também não quis comentar as críticas do ex-diretor sobre o papel de Jorge Gerdau no Conselho da Petrobras.
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O DELATOR NA TELA
O que Paulo Roberto Costa disse à força tarefa da Lava Jato
O que Paulo Roberto Costa disse à força tarefa da Lava Jato
Reprodução |
29.ago.14
"EU TENHO MEDO"
"EU TENHO MEDO"
Costa: Eu tenho um receio. É integridade física minha. [...] Porque... Eu tenho medo. Porque nós estamos falando com [de] uma gente muito graúda.
[...]
Delegada: O que te traz mais receio, mais medo, a reação dos políticos ou das construtoras?
Costa: Dos políticos.
[...]
Delegada: O que te traz mais receio, mais medo, a reação dos políticos ou das construtoras?
Costa: Dos políticos.
Reprodução |
29.ago.14
"MANIA DE FALAR ALTO"
"MANIA DE FALAR ALTO"
Costa: Ela [Dilma Rousseff] tem mania de falar um pouco alto, né? Então você começa a falar assim e depois o telefone vai assim... [afastando o telefone da orelha]. [...] Aí começamos a conversar e aí a mulher chegou e falou assim: "Olha, vocês têm dez minutos para explicar isso aqui". Dez minutos você não explica nada, né?
Reprodução |
1º.set.14
"A POLÍTICA É PODRE"
"A POLÍTICA É PODRE"
Delegado lê anotação de Costa em caderneta: "Acabar com a corrupção é o objetivo supremo de quem ainda não chegou ao poder".
Costa: Isso aí colocaram na imprensa, né. Não é frase minha, mas é frase verdadeira.
Delegado: É do [jornalista e escritor] Millôr [Fernandes]. Mas o senhor escreveu na cadernetinha do lado dos pagamentos.
Costa: Para mostrar como é podre a política brasileira.
Costa: Isso aí colocaram na imprensa, né. Não é frase minha, mas é frase verdadeira.
Delegado: É do [jornalista e escritor] Millôr [Fernandes]. Mas o senhor escreveu na cadernetinha do lado dos pagamentos.
Costa: Para mostrar como é podre a política brasileira.
Reprodução |
15.set.14
"MAU NEGÓCIO" NA ERA FHC
"MAU NEGÓCIO" NA ERA FHC
Delegado lê anotação de Costa em caderneta: "Acabar com a corrupção é o objetivo supremo de quem ainda não chegou ao poder".
Costa: A Petrobras comprou uma empresa chamada Perez Companc no ano de 2001, o presidente da Petrobras era o Philippe Reichstul. Eu diria que essa compra foi tão desastrada quanto a compra [da refinaria] de Pasadena [nos EUA].
Costa: A Petrobras comprou uma empresa chamada Perez Companc no ano de 2001, o presidente da Petrobras era o Philippe Reichstul. Eu diria que essa compra foi tão desastrada quanto a compra [da refinaria] de Pasadena [nos EUA].