domingo, 2 de agosto de 2015

Crise de Dilma atinge a telefonia móvel

Bruno Rosa - O Globo


Queda na venda de smartphones, redução no número de linhas móveis em funcionamento e inadimplência crescente. A crise econômica chegou até na telefonia, setor que crescia ininterruptamente desde 2000. Após quase quadruplicar seu faturamento nos últimos 14 anos, as empresas de telecomunicações devem amargar neste ano um recuo na receita de 3,8% a 6%. A previsão foi feita a pedido do GLOBO pela Orion Consultores, que estima redução nos negócios de R$ 234,1 bilhões, no ano passado, para algo entre R$ 220 bilhões e R$ 225 bilhões até dezembro. Hoje, o setor, diz a associação Telebrasil, responde por 4,2% do Produto Interno Bruto (PIB).

Segundo especialistas, não há pacote de velocidade rápida na internet que resista ao atual momento da economia, com inflação de 8,89% em 12 meses até junho, desemprego em alta, queda de 2,9% na renda real e aumento de juros. Diante desse cenário desfavorável, as empresas estão fazendo o que podem para (tentar) driblar a crise: descontos de até 50% no preço de celulares, planos promocionais e parcelamento das contas em atraso para não perder clientes.

Ronaldo Sá, da Orion, destaca que os clientes de cartão pré-pago são os mais afetados neste primeiro momento, já que têm renda menor:
— Agora, vamos ver isso no pós-pago. O problema é a inadimplência que chegou a 1,8% da receita das operadoras móveis. E vai aumentar nos próximos trimestres.
Por isso, as operadoras vêm recorrendo a negociações com os clientes em atraso. 

Bernardo Kos Winik, diretor de Varejo da Oi, diz que a companhia tem sido mais seletiva na análise de crédito:

— Estamos sendo flexíveis, parcelando a conta em atraso para não perder o cliente. Também estamos investindo na melhora do sistema de cobrança. O desafio é não encolher neste ano. Por isso, estamos investindo em promoções nos nossos planos de convergência, que permitem economia de até 20% em relação ao valor caso o cliente contratasse os serviços de forma isolada. O dinheiro está mais curto.

Para George Dolce, vice-presidente da Nextel, a empresa decidiu criar novos planos promocionais porque os clientes estão buscando soluções para economizar.

— O nosso setor vinha imune à crise e, de um tempo para cá, sentimos essa desaceleração. A renda disponível está menor. Houve outros fatores como o aumento da energia elétrica, que onerou todo mundo. Por isso, tivemos de nos ajustar às novas necessidades, criando novos planos e aumentando o parcelamento de aparelhos, para até 24 vezes — afirma Dolce.

A Claro decidiu estender o parcelamento dos aparelhos mais caros para 24 parcelas. Até nos planos pós-pagos mais simples, de R$ 100 por mês, o aparelho 4G sai de graça. Segundo Ricardo César, Diretor de Unidades Regionais da Claro, os clientes estão otimizando seus recursos.

— Em todos os planos pós-pagos, ampliamos a franquia de internet, que chegou a dobrar, mas mantivemos o mesmo preço. No caso do pré-pago, mantivemos o valor e aumentamos em 50% a franquia de dados — exemplificou César.

IPHONE ENTRA NA GUERRA DO DESCONTO

Na TIM, diz Rogério Takayanagi, diretor da empresa, a opção foi criar novos planos e ofertas para “quem está com o orçamento limitado". Por isso, a empresa decidiu não descontar da franquia o uso de redes sociais como o WhatsApp no plano pós-pago.

— A população está preocupada em proteger seus gastos. O desafio é adequar o portfólio em um momento de consumo crescente de dados e renda em baixa.

Essa menor renda disponível derrubou a expectativa de venda de celulares. Se em 2014 foram vendidos 54,5 milhões de smartphones, para este ano o volume pode chegar a 53 milhões de unidades, prevê Leonardo Munin, analista de pesquisas da IDC. Assim, o varejo investe em promoções, com descontos de até 48%. É o caso do LG L8, na Americanas.com, cujo preço caiu de R$ 859 para R$ 443,33. No Fast Shop, o iPhone 6, da Apple, está 10,72% mais barato (passou de R$ 3,499 mil para R$ 3,123 mil), e o Galaxy S6, da Samsung, que caiu de R$ 3,299 mil para R$ 2,723 mil, queda de 17,4%. Munin ressalta que o número final de vendas dependerá do desempenho da Black Friday e do Natal:

— O cliente só vai comprar o que o bolso aceita e não o que deseja.