sábado, 29 de agosto de 2015

"A Grande Queda da China (mais para frente)", por Caio Blinder

Com Blog do Caio Blinder - Veja

Um trocadliho óbvio, mas  precioso



Apesar da capa desoladora sobre a Grande Queda da China (trocadilho sobre Grande Muralha, Great Wall), a revista The Economist aponta no seu editorial que o país (a segunda economia mundial) “não está em crise”. No entanto, sua habilidade para evoluir suavemente de uma economia dirigida para uma economia de mercado nunca foi tão questionada como agora.
Termos muito suaves para definir o que está acontecendo. Na verdade, é muito penoso o mundo se ajustar ao “novo normal” de uma China que não mais crescerá 10% por ano. O próprio regime está resignado a este “novo normal” e seu ajuste é desajeitado. Os sinais de Pequim são mistos, o que gera pânico. Os momentos de alívio esta semana em mercados globais devem ser recebidos com cautela.
David Pilling, o homem de Ásia do jornal Financial Times observa que o mundo na verdade não sabe exatamente qual é o plano do regime comunista (um regime movido a planos). Vou saltar todo o debate econômico para ir ao ponto central do dilema. O regime está na encruzilhada entre o mercado e o controle estatal. Tão grande é o dilema, que em 2013 o Partido Comunista pediu tanto “um papel decisivo” para os mercados “como um “papel dominante” para o estado. Tudo categórico, não?
Na prática, o presidente Xi Jinping e seus burocratas de terno cinzento vão para um lado e para outro, deixando o mundo incerto. Na confusão, a gerência chinesa perdeu a aura de competência. E na confusão, eu prefiro ficar com a sacada de David Pilling. Se olharmos para o presidente Xi Jinping em busca de dicas, “nós podemos deduzir que o controle estatal” irá ganhar a parada.
Vamos para o ponto elementar: tudo é sobre controle pelo Partido Comunista, tanto da economia, como da política. Com reformas realmente ambiciosas, o resultado seria mais liberdade, mais dinamismo, mais riscos. São “commodities” inconcebíveis para o partidão. O PC perde a razão de ser se tomar este caminho, seria expurgado pela realidade.
E aqui está um segredo sujo. Os mercados globais e as potências democráticas convivem, apesar do constrangimento e muxoxos sobre violação de direitos humanos, com o regime chinês como ele é. No final das contas, o regime chefiado por Xi Jinping fará tudo o que puder para estabilizar a situação e assegurar um nível decente de crescimento (não mais os hoje mitológicos 10%).
Como conclui David Pilling, a curto prazo isso será bom para o mundo, mas apenas adiará a hora da verdade.