domingo, 2 de agosto de 2015

A crise de Dilma! Mesmo com reclamações em alta, investimentos do setor de telecomunicações devem cair

Bruno Rosa - O Globo

Número de consultas a Procons cresceu 13,5% de janeiro a abril



Tiziana Szapiro considera importante pesquisar preços ao contratar serviços de telefonia - Guito Moreto / Agência O Globo


A crise econômica vai afetar em cheio os investimentos totais do setor de telecomunicações neste ano. De acordo com uma fonte do setor, ligada às operadoras, com menos dinheiro em caixa, as empresas tendem a reduzir seus gastos em infraestrutura. Apesar de ainda não ser possível estimar um valor, a redução nos recursos para expansão da melhoria de rede ocorre em um momento de alta nas queixas em órgãos de defesa de consumidor.

D
e acordo com a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça, as principais operadoras de telecomunicações somaram entre janeiro e abril deste ano um total de 228,923 mil registros, como queixas, consultas e informações. O número representa alta de 13,5% em relação ao mesmo período do ano passado, quando somou 201,615 mil demandas. Esses dados são compilados com base nos atendimentos dos Procons espalhados pelo país.
FOCO NO CORTE DE CUSTOS

No ano passado, o setor investiu, segundo a Telebrasil, sindicato que reúne as operadoras, R$ 30,9 bilhões. Segundo essa fonte, o ano de 2015 não vai ter esse patamar de investimento por um motivo simples: não há dinheiro.


— Com a crise, não tem dinheiro. Com o aumento do dólar, as empresas estão sofrendo com o aumento nos custos. Por isso, haverá um aumento no endividamento das companhias. Mas, mesmo se não houvesse crise, os investimentos já poderiam ser menores mesmo neste ano, já que no ano passado houve muito investimento extra em razão do cronograma da Copa, que exigia rede 4G, por exemplo — disse uma fonte do setor.

O freio nos investimentos deve ocorrer a partir do segundo semestre deste ano. Entre as companhias, o tom é “fazer mais por menos”, com a renegociação de contratos com fornecedores. Por outro lado, algumas operadoras ainda preveem alta nos investimentos. 

Carina Gonçalves, analista de telecomunicações da consultoria Frost & Sullivan, destaca que as companhias estão contratando empresas especializadas em corte de custos.
— Temos visto as operadoras mais preocupadas em cortar custos — disse.

O advogado João Fernandes, especializado em direito do consumidor, se mostra preocupado com a possibilidade de queda nos investimentos. Segundo ele, quando os investimentos estavam em alta em razão do crescimento da economia, houve um aumento no número de reclamações e até a intervenção da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) há alguns anos, que chegou a proibir a venda de novas linhas no país.

— E imagina agora que o cenário virou. É bom o consumidor ficar atento na hora de escolher a operadora. É, de fato, preocupante olhar para o futuro ainda que a necessidade de conexão das pessoas só aumente. Todas querem estar sempre conectadas e pagar o menos possível — diz Fernandes.

CENÁRIO SEMELHANTE AO DA ENERGIA

Segundo Fernandes, é possível comparar o cenário do setor de telefonia ao de energia. Com a perspectiva de redução do número de linhas em uso como resultado da crise, a rede será menos acionada, o que pode criar a sensação de que o serviço, se não melhorou, também não piorou. É situação semelhante à da energia, já que, com o menor crescimento da economia, haverá menor demanda por eletricidade, preservando, assim, o nível dos reservatórios.

Usuária assídua da internet em rápida velocidade, a empresária Ticiana Szapiro avalia que o momento atual é de economizar, sem abrir mão da qualidade. Como o celular é sua ferramenta de trabalho mais importante, Ticiana lembra que não dá para ficar sem conexão ao longo do dia:

— Eu fico conectada 24 horas por dia. Não tem como abrir mão de qualidade. Por isso, pesquiso sempre. Economizar sempre é importante. Mas qualidade é algo imprescindível.
*Colaborou Juliana Garçon