La Libertad Avanza deve ter cerca de 40% das vagas na Câmara e também venceu mais das metade das vagas em disputa no Senado
O presidente da Argentina, Javier Milei, transformou as eleições legislativas de 2025 em um referendo antecipado do atual governo. E saiu fortalecido. Sua coalizão, La Libertad Avanza, conquistou mais de 40% dos votos em todo o país e se tornou a força mais votada da Argentina, superando amplamente o peronismo, que ficou com 24,5%. A surpresa veio da Província de Buenos Aires, reduto histórico da oposição, onde o governo disputou voto a voto o primeiro lugar. Os aliados do presidente conseguiram vitórias em regiões antes consideradas hostis ao governo.
O partido saiu vencedor em Córdoba, Santa Fe, Mendoza e na Cidade de Buenos Aires, onde manteve aliança com o Pro, de Patricia Bullrich e Mauricio Macri, e ainda obteve vitórias expressivas em Entre Ríos, Salta, Corrientes, Chaco, San Luis, Jujuy, Tierra del Fuego e Santa Cruz. O resultado reposiciona o equilíbrio político no país e consolida Milei como o líder com maior base territorial desde 2015.
Já o peronismo, reunido sob a marca Fuerza Patria, teve desempenho abaixo das expectativas. A estrutura municipal que tradicionalmente impulsionava o voto da esquerda mostrou pouco engajamento fora de seus redutos. Ainda manteve o controle de Formosa, Tucumán, Santiago del Estero, Catamarca, La Rioja e La Pampa, mas por margens estreitas.
Confira o mapa político da Câmara: em roxo, as Províncias que tiveram vitória da coalizão de Milei. Os peronistas são azuis.
Confira o mapa político do Senado: em roxo, as Províncias que tiveram vitória da coalizão de Milei. Os peronistas são azuis.
Congresso mais favorável ao governo Milei Com a renovação de parte das cadeiras no Congresso, o cenário parlamentar se inclina a favor do governo. La Libertad Avanza ampliará sua bancada na Câmara dos Deputados e, somada aos aliados, pode atingir o terço necessário para manter vetos presidenciais. No Senado, onde não havia renovação direta de assentos do oficialismo, o saldo também é positivo: o governo ganha musculatura política para avançar nas reformas econômicas e administrativas prometidas.
O governo conquistou 64 assentos na Câmara de Deputados contra 31 da Fuerza Patria. No Senado, o La Libertad Avanza conseguiu mais 12 novos nomes. Estavam em jogo 127 dos 257 assentos da Câmara e 24 das 72 cadeiras do Senado.
A governabilidade, contudo, dependerá da negociação com o chamado “bloco do meio”, composto de deputados sem alinhamento automático com o Executivo, que tendem a definir votações cruciais. É como se fosse o “centrão” no Brasil.
Apesar da vitória do governo, o nível de participação eleitoral voltou a cair. Segundo a Câmara Nacional Eleitoral, menos de 70% dos eleitores compareceram às urnas, o índice mais baixo desde a redemocratização em 1983. A tendência de retração do eleitorado, observada nas eleições regionais ao longo do ano, preocupa analistas e partidos.
O desempenho de Milei reafirma a aposta do eleitorado em sua agenda liberal e lhe concede espaço para conduzir o segundo biênio
Como são as eleições legislativas na Argentina
As eleições legislativas ocorrem a cada dois anos e servem para renovar parcialmente o Congresso Nacional, composto de duas casas: a Câmara e o Senado.
Diferentemente das presidenciais, essas duas Casas não definem o chefe do Executivo, mas são um termômetro político crucial para medir o apoio ao governo de turno.
Estrutura do Congresso Nacional
Renovação periódica O Congresso nunca é renovado integralmente: Assim, a cada eleição legislativa parcial, o eleitor escolhe deputados nacionais e, dependendo da Província, também senadores.
• Câmara: 257 cadeiras
• Senado: 72 cadeiras
• Cada uma das 24 jurisdições argentinas (23 Províncias + a Cidade de Buenos
Aires) elege representantes para ambas as casas
Renovação periódica
O Congresso nunca é renovado integralmente:
• Deputados: o mandato é de 4 anos, mas metade da Câmara (≈128 cadeiras) é renovada a cada eleição legislativa.
• Senadores: o mandato é de 6 anos, e um terço (8 Províncias por ciclo) elege seus representantes a cada dois anos.
Assim, a cada eleição legislativa parcial, o eleitor escolhe deputados nacionais e, dependendo da Província, também senadores.
Sistema de eleição das Casas
Câmara dos Deputados
• Sistema proporcional com listas fechadas — o eleitor vota em um partido, não em candidatos individuais.
• O número de cadeiras por Província é proporcional à população, com um mínimo de cinco deputados por distrito.
• As bancadas são distribuídas conforme a proporção de votos recebidos por cada partido.
Senado
Tema majoritário:
• Dois vão para o partido mais votado (maioria) e um para o segundo mais votado (primeira minoria).
• Isso garante representação das forças majoritárias e minoritárias em cada distrito.
Candidaturas e alianças
• Os partidos e coligações devem participar das Paso (Primarias Abiertas, Simultáneas y Obligatorias), que funcionam como uma espécie de prévia nacional obrigatória.
• Só podem disputar as eleições gerais as listas que obtêm pelo menos 1,5% dos votos válidos em seu distrito durante as Paso.
• As coligações costumam ser amplas, de forma que unem partidos nacionais e forças provinciais. Isso explica a formação de blocos como La Libertad Avanza, Unión por la Patria e Provincias Unidas.
Voto obrigatório
• O voto é obrigatório para cidadãos entre 18 e 70 anos.
• Jovens de 16 e 17 anos e idosos acima de 70 podem votar de forma facultativa.
• As eleições são diretas, secretas e universais, com voto em papel — desde 2025, por meio da boleta única.
Apuração
• As legislativas são realizadas no meio do mandato presidencial (por exemplo, 2025 foi o pleito de meio termo do governo Milei).
• As eleições são fiscalizadas pela Câmara Nacional Eleitoral (CNE), que também divulga os resultados oficiais.
• Os eleitos tomam posse em 10 de dezembro, junto com as demais autoridades que iniciam ou renovam mandatos.
Edilson Salgueiro - Revistta Oeste