segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Flávio Gordon - 'O narcotráfico é nosso': a mais nova campanha nacionalista da esquerda brasileira

 




Há certas declarações que funcionam como feixe de luz subitamente lançado sobre um debate público desenvolvido nas sombras. A recente declaração do senador Flávio Bolsonaro — que disse invejar os países que recebem operações militares norte-americanas contra o narcotráfico — é um desses casos exemplares, revelando mais sobre a reação do que sobre a fala em si. Afinal, bastou a frase para que a esquerda nacional, com sua habitual afetação de virtude patriótica, se lançasse em acessos de histeria moral, como se o filho do expresidente, imediatamente tachado de “traidor da pátria”, houvesse confessado o desejo secreto de entregar a soberania nacional a uma potência estrangeira. Nada mais falso. 

Curiosamente, a fala de Flávio repercutiu no mesmo dia em que o descondenado-em-chefe, do alto de sua sabedoria etílicohumanista, declarou na Indonésia que “os traficantes também são vítimas dos usuários”. A coincidência é perfeita: de um lado, um senador que sonha em combater o crime organizado com rigor e eficácia; de outro, um presidente que não cansa de transformar bandidos em vítimas. A diferença aqui é de projeto civilizacional para o país. Enquanto um propõe um combate real ao poder das facções, o outro continua a dialogar cabulosamente com elas. 

Voltando à suposta “traição” de Flávio Bolsonaro, nota-se que a esquerda parece entender “soberania nacional” como o direito do narcotráfico de operar livremente dentro das fronteiras brasileiras. Trata-se de uma forma curiosa e perversa de patriotismo — não o amor ao país e ao seu povo, mas a defesa intransigente do direito das facções de dominar territórios inteiros, como se o narcotráfico proteção que o samba e o futebol. Se, no passado, o brado ufanista era “o petróleo é nosso!”, hoje o lema “progressista” parece ser: “o narcotráfico é nosso!”.

Mas que soberania nacional é esta que os detratores do senador do PL alegam querer defender? Uma recente pesquisa intitulada “Governança Criminal na América Latina: Prevalência e Correlações” — conduzida por pesquisadores da Universidade de Cambridge, e publicada em agosto na revista Perspectives on Politics — aponta que, no Brasil, entre 50 e 60 milhões de brasileiros (cerca de 25% a 30% da população) vivem em áreas onde as regras são ditadas não pelo Estado, mas por facções criminosas. São territórios com governos paralelos, impostos próprios, tribunais improvisados e códigos morais à margem da lei. Portanto, a República Federativa do Brasil é, na prática, uma federação de poderes ilegais. E, ainda assim, os papagaios lulopetistas ainda têm a cara-de-pau de acusar de “entreguista” quem lamenta esse estado de coisas. 


Flávio Bolsonaro (PL-RJ), em pronunciamento na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), em Brasília, DF (19/4/2023) - Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado 

O fracasso do Brasil na luta contra o narcotráfico que, em larga medida, é verdadeiramente um projeto. Eis por que a alegada inveja do senador é um sentimento compreensível, provavelmente partilhado pela maioria da população brasileira — ou, quando menos, por aquela parcela da população mais sujeita ao Estado paralelo do crime. O verdadeiro inimigo da soberania não é quem clama por ajuda externa para libertar o país, mas quem o entrega, todos os dias, ao domínio das facções.


 Enquanto os Estados Unidos mantêm operações militares no Caribe e na costa Venezuelana para desmantekar cartéis, o Brasil assiste inerte à expansão dos seus próprios barões da droga, agora cada vez mais politizados, articulados com partidos e ONGs. A esquerda brasileira, sempre pronta a denunciar “ingerências imperialistas”, não vê problema algum em pactuar com regimes narcossocialistas da região, de Nicolás Maduro a Gustavo Petro — companheiros do descondenado-em-chefe no Foro de São Paulo, o grande consórcio latino-americano da degradação moral, social e institucional do continente. Tenha acesso ao melhor conteúdo jornalístico independente de um j




Quem hoje se indigna com a fala do senador não está defendendo o Brasil, mas o seu cativeiro. Na boca da esquerda, a “soberania nacional” virou um biombo sob o qual prospera o crime. Por isso, Flávio Bolsonaro acertou na mosca — ou, talvez, num ninho de moscas. Disse o que todos sabem, mas poucos têm coragem de admitir: o narcotráfico tomou o país e, como ocorreu nos países vizinhos (sobretudo nos que são governados por partidos do Foro de S. Paulo), é provável que já tenha tomado partes do Estado. Nosso imperialismo é interno. O império que nos domina é o dá pólvora, da cocaína e do socialismo. Daí que, hoje, o verdadeiro ato patriótico não é berrar contra o “imperialismo estadunidense”, mas ter coragem de admitir que o Brasil precisa ser libertado… quiçá de si mesmo. 

Flávio Gordon - Revista Oeste