domingo, 5 de novembro de 2023

“Lula e o PT seguem o roteiro que levou à recessão de Dilma”, diz Claudio Branchieri

 

Mestre em economia, deputado estadual e fenômeno nas redes sociais, Professor Cláudio aponta riscos para o horizonte na economia sob comando petista.| Foto: Celito Izolan Júnior / Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul


Fenômeno nas redes sociais devido às duras e constantes críticas que dispara contra o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o economista, consultor de empresas e deputado estadual Claudio Branchieri (Podemos-RS) receia que o presidente da República “não aprendeu nada com o passado”. Com isso, Lula e o PT estariam hoje, na visão dele, "repetindo os modelos e práticas equivocadas" de suas gestões anteriores, que poderão conduzir o país ao mesmo cenário do governo de Dilma Rousseff (PT), marcado por retrações econômicas profundas em 2015 e 2016.

“A mudança na meta fiscal só alarga a atual frouxidão com gastos públicos e produzirá consequências devastadoras. Lula segue o mesmo roteiro que levou o Brasil à maior recessão da história”, alertou o Professor Cláudio, como é conhecido, nesta entrevista à Gazeta do Povo.

Para ele, o país ainda segue impulsionado pelo agronegócio e por medidas implementadas no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Mas o ressurgimento de ações equivocadas da era petista já está, segundo o parlamentar, minando as boas expectativas para os próximos anos, sobretudo em relação ao patamar da dívida pública. “O risco de uma argentinização é real”, disse.

Professor Cláudio explicou que o incentivo aos investimentos financiados pelo Tesouro até consegue gerar muitos empregos de maneira acelerada, mas os postos de trabalho abertos por essa via têm, em sua maioria, um perfil de baixa produtividade, centrados no comércio e serviços, sem ganho sólido para o desenvolvimento. Além disso, ele afirma que trata-se de uma estratégia insustentável no longo prazo, acabando por provocar danos para o conjunto da economia em razão do desequilíbrio fiscal. "Infelizmente, temos um governo com economistas que não entendem nada de economia", brincou.

Deputado de primeiro mandato, eleito para a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul com 33.709 votos em 2022, após longa carreira no magistério, Professor Claudio não esconde a admiração pelo ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, como um promotor de privatizações, de redução da máquina administrativa e de incentivo ao empreendedorismo. Mestre em Economia e professor da pós-graduação do Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG), o parlamentar é visto hoje como um dos mais populares defensores do liberalismo econômico. Veja a seguir os principais trechos da entrevista.


Quais serão as consequências para a economia brasileira da decisão do presidente Lula de afrouxar a meta fiscal estabelecida pelo seu próprio governo para 2024?

Claudio Branchieri – A decisão de Lula de afrouxar a meta fiscal torna tudo mais difícil para o país e para o próprio governo. As consequências são, sem dúvida, terríveis sob todos os aspectos. O afrouxamento dos gastos se reflete no descontrole do endividamento público. Na prática, é disso que se trata uma política fiscal responsável: controlar o nível da dívida, hoje na casa de 75% do Produto Interno Bruto (PIB) e subindo. Quando o presidente diz que isso “não é um problema tão grande assim”, ele mostra o seu total descompromisso com a estabilidade.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por sua vez, ao tentar se explicar, mostra que não tem força nenhuma para se contrapor ao que está imposto pelo seu chefe, sem querer fazer qualquer coisa para corrigir os estragos que virão por aí. Lula e Haddad vão se rendendo ao que a política demanda, deixando o mercado inseguro e aumentando os juros para todos, inclusive para o próprio governo, para famílias e para empresas. O risco de uma argentinização é real.


O mercado financeiro mostrou rapidamente essa preocupação, com seu mau humor, derrubando valor de ativos brasileiros e pressionando o dólar...

Claudio Branchieri – Sim. A mudança na meta fiscal trará consequências devastadoras. Os efeitos para o mercado financeiro já são preocupantes, com mais projeções de evolução da dívida pública e de juros futuros maiores para os próximos anos. Os petistas não conseguem enxergar a longo prazo, mas o que está por vir graças a eles é bem assustador. Quando sinalizou há uma semana que não cumpriria seus alvos para equilibrar as contas públicas, Lula mentiu, distorceu fatos e transferiu a culpa para terceiros, como é de seu costume. Ele conseguiu fazer com isso algo inesperado, que é sabotar o seu próprio governo de incompetentes, o mais gastador da história, que aumentará a despesa com propaganda em 2024 e já torrou centenas de milhões em viagens e outros milhares em imóveis necessários no palácio.


Há algo razoável nos argumentos apresentados por Lula e pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para essa mudança repentina de rumos?

Claudio Branchieri – O arcabouço fiscal proposto pelo governo foi aprovado pelo Congresso em 31 de agosto, com a previsão de déficit zero no próximo ano. Ora, Lula e o seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não sabiam há dois meses que não conseguiriam honrar o prometido? Mentiram aos parlamentares e ao povo. O presidente afirmou que 2024 será um ano difícil, porque a China está crescendo menos que o costume e os Estados Unidos estão com juros altos. Esqueceu que o governo de Jair Bolsonaro (PL) entregou ano passado superávit fiscal e crescimento do PIB de 2,9% apesar de a economia chinesa ter crescido pouco e o agronegócio sofrido a pior seca em quase 100 anos. Para piorar, dias após o presidente sepultar a meta de déficit zero, Haddad reprisa a ex-presidente Dilma Rousseff ao insinuar a jornalistas que “deixará a meta aberta”. Uma vergonha. Lula e o PT estão repetindo os mesmos modelos e práticas equivocada de suas gestões anteriores.


Para o senhor, qual será o efeito mais grave dessa postura ainda mais focada na gastança e nos alvos eleitoreiros, contrária à gestão responsável?

Claudio Branchieri – O reflexo mais preocupante deve ser sobre o investimento direto. Sob o argumento de estimular o investimento pela via estatal, o governo se endivida e tira recursos da ponta para o setor privado, aquele cujo investimento é mais eficiente. Pode até haver ganhos para a economia no curto prazo, mas gastar e apenas “sentir-se próspero” é algo que não se sustenta. Isso não gera valor permanente para a principal mola propulsora do crescimento, que é o investimento direto. Além disso, o erro de afrouxar sinaliza mais inflação no futuro e juros. O investimento externo vinha sendo afetado pelas incertezas e o interno está se retraindo cada vez mais ao longo do ano. O setor privado está sentindo efeitos negativos e coloca o pé atrás. Ao tomar recursos do sistema financeiro para seus projetos, o governo cria perspectivas menos favoráveis para o setor privado tomar riscos e investir. Assim, projetos de empresas não se viabilizam economicamente com taxas de juros mais elevadas.


Os juros atuais são apontados por Lula e por Haddad como os maiores vilões da economia. Procede?

Claudio Branchieri – Lula não aprendeu nada com o passado. A esquerda erra sempre ao culpar apenas os juros pelo baixo investimento, sem explicar as causas desses patamares elevados. Em 2012, a presidente Dilma Rousseff (PT), crente nisso, baixou na canetada os juros para 7,25%, mas, mesmo assim, o setor privado recuou nos investimentos. O mesmo ocorreu na tentativa de derrubar os preços da eletricidade na marra, o que quase levou à completa falência do setor elétrico. O déficit segue grande, e a falácia se sustenta em erros conceituais graves. Lula está seguindo o mesmo roteiro que levou o país à maior recessão de sua história, durante o governo Dilma, propondo intervenções perigosas.

Por outro lado, a ideia de que o gasto estatal em transferência de renda, como no caso do Bolsa Família, tem, por si só, um efeito multiplicador importante sobre a economia é algo muito questionável, já que o mesmo dinheiro é tirado dos contribuintes para financiar o benefício. Assim, a transferência aquece a economia à custa de outros. Falta por parte dos economistas deste governo uma visão mais ampla das causas e efeitos, do aspecto estrutural da economia e da necessidade de inovação e de investimento produtivo.


Por que, na sua opinião, mesmo com números trágicos colhidos nos últimos governos petistas em razão de sua política econômica, Lula e seus ministros continuam fazendo apostas semelhantes?

Claudio Branchieri – Os quadros do PT ainda compreendem a economia pela lente da “economia política”, algo para consumo imediato e sem qualquer sustentação. A chamada Nova Matriz Econômica de Dilma é a prova mais completa disso. A economista Maria Conceição Tavares, mestra de Dilma, foi aquela que chorou numa entrevista após o lançamento do Plano Cruzado (1986), ignorando que o congelamento de preços não deu certo em lugar nenhum do mundo. Investir no controle de preços atenta contra a economia e revela fundamentos teóricos capengas. Vejamos o caso da indústria, cujo desempenho está estagnado de novo. Na Nova Matriz da Dilma se defendia pesado crédito com juro subsidiado e benesses para certos setores e empresas. Na prática, essa estratégia de “campeões nacionais” se revelou a maior transferência de renda da história de classes pobres para grupos econômicos privilegiados, escolhidos a dedo.

O Brasil pode estar agora perdendo uma chance de ouro para se confirmar em grande porto seguro do investimento mundial. Os novos marcos legais e as reformas construídas no governo Bolsonaro começam a dar resultado. Bastaria reduzir o gasto público e melhorar as contas públicas para o crescimento econômico deslanchar. Mas o caminho que está sendo seguido é o inverso.


Como o senhor explica uma taxa de desemprego baixa e ainda caindo?

Claudio Branchieri – O desemprego estava em 7,9% ao fim do governo Bolsonaro. Em maio de 2021, devido à pandemia, era de 14,9%. Houve, portanto, uma redução de sete pontos percentuais em apenas um ano e meio. Em seguida, com a chegada de Lula, a tendência continuou e agora está em 7,7%. A variação de 0,2%, considera o número de pessoas que entraram no mercado de trabalho pela primeira vez. Se considerar que parte dos novos postos de trabalho foi criado com gasto público, veremos performance insuficiente e insustentável. O aumento nos gastos públicos, de 0,6% do PIB deste ano, equivale a R$ 160 bilhões a mais injetados na economia, mas gerando apenas 200 mil empregos. Esses recursos geraram empregos na área de comércio e serviços, de baixa produtividade sem tanto impacto para o desenvolvimento econômico. Apostar em gastos públicos em grande escala pode levar a uma recessão no longo prazo e o saldo provisório de empregos de baixa renda. A agropecuária, que é 100% brasileira e de livre iniciativa, impulsionou a economia de forma importante, sendo responsável por um terço do crescimento do PIB este ano. A safra plantada em 2022 é a que está sendo colhida durante o governo de Lula.


Sílvio Ribas, Gazeta do Povo