Foto: Gilson Abreu/AEN
Os números divulgados nesta semana pelo Ministério do Trabalho e pelo IBGE mostram que o mercado de trabalho continua entregando resultados positivos, embora antigos desafios continuem presentes. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged) registrou a abertura de 211 mil vagas de emprego formal (ou seja, com carteira assinada) no mês de setembro, e o saldo do ano chegou a quase 1,6 milhão de novos postos de trabalho – 26,6% a menos que no mesmo período de 2022, mas é preciso lembrar que no ano passado ainda havia um impulso de retomada nas contratações como parte da recuperação pós-pandemia.
O desemprego medido pelo IBGE voltou a ter uma ligeira queda no trimestre móvel de julho a setembro, e agora é de 7,7%, na quarta redução seguida de 0,1 ponto porcentual. O novo índice é o mais baixo desde fevereiro de 2015, e marca um novo recorde no número de brasileiros ocupados: 99,8 milhões – a marca tem sido batida com frequência nos últimos meses. A coordenadora de Pesquisas por Amostra de Domicílios do IBGE, Adriana Beringuy, destacou o avanço das contratações formais nos últimos meses – ao contrário do Caged, o IBGE mede todas as modalidades de trabalho, não apenas aquele com carteira assinada.
Se for necessário manter os juros altos para segurar a inflação resultante da irresponsabilidade fiscal lulista, haverá pouca margem para estímulo a investimentos que gerem emprego e renda
Embora o Caged tenha registrado saldo positivo de abertura de vagas em todas as unidades da Federação, a disparidade regional ainda é muito grande. Os números mais recentes de desemprego por estado, divulgados pelo IBGE no início de setembro e relativos ao segundo trimestre de 2023, mostram que o país tem bolsões de pleno emprego convivendo lado a lado com sete estados onde o desemprego ainda é superior a 10%. E mesmo entre os estados com os menores índices há diferenças significativas. O caso mais emblemático talvez seja o de Rondônia, que tem a menor taxa de desemprego do país, com 2,4%, mas também tem um dos maiores índices de informalidade (48,4%) e de pessoas trabalhando por conta própria (36,9%), ao mesmo tempo em que exibe uma baixa taxa de participação da força de trabalho (56,7%), ou seja, poucas pessoas procurando emprego, o que joga o índice geral para baixo. Já os outros estados com baixo desemprego ou são puxados pelo agronegócio ou exibem economias bem mais dinâmicas.
Na outra ponta também há disparidades de perfil, com estados pouco competitivos, afetados por problemas climáticos (caso dos estados do Nordeste) e um caso significativo, de pujança passada anulada por governos irresponsáveis. Trata-se do Rio de Janeiro, que vive um caos fiscal e moral que já dura muitos anos: gasto público completamente fora do controle, corrupção no setor de petróleo, ex-governadores presos e áreas onde o crime, do tráfico ou das milícias, tomou o controle das mãos do Estado.
O caso do Rio é importante porque serve de alerta. A irresponsabilidade fiscal dos governos fluminenses tem papel importante na derrocada econômica do estado, e o Brasil de Lula parece disposto a imitá-lo, a julgar pelas manifestações recentes de desprezo presidencial pelos esforços para zerar o déficit primário em 2024. A meta, sabe-se, já não seria nada fácil de atingir, pois o governo não corta gastos e, para fechar as contas, conta somente com uma elevação tão gigantesca quanto incerta de receitas. Mas Lula não quer saber nem de tentar chegar perto do déficit zero, preferindo o “gasto é vida” de Dilma Rousseff que já levou o país à pior recessão da história.
E, como lembramos neste espaço ontem, abraçar o gasto sem fim é acabar com qualquer possibilidade de o Copom manter por muito tempo o atual ciclo de afrouxamento monetário. Se for necessário manter os juros altos para segurar a inflação resultante da irresponsabilidade, haverá pouca margem para estímulo a investimentos que gerem emprego e renda, e o mercado de trabalho acabará, mais cedo ou mais tarde, sofrendo as consequências do terraplanismo econômico petista.
Gazeta do Póvo